Para 2023 perfilam-se os desejos
de saúde, felicidade e paz e, no âmbito de todos os sonhos, o bom para as
nossas vidas, para que as ambições de cada um possam ser concretizadas.
É também o tempo de se fazerem
retrospetivas do que se passou no ano findo. Entre o celebrar sucessos e o
analisar os desaires.
O ano de 2022 foi marcado pela
inesperada invasão da Ucrânia pela Rússia, “juntando um novo ‘cisne negro’ (segundo
Paulo Vaz, do Vida Económica), a um
outro que ainda não desapareceu, o qual acabou por ser secundarizado, a
pandemia”. Ou seja, uma crise depois de uma outra crise. Também a reeleição de
Xi Jinping para a liderança da China não surpreendeu, até porque foi uma trama
há muito preparada que iria dar lugar ao endurecimento do regime cada vez mais
controlado pelo Partido Comunista Chinês. Este ditador não hesitou em usar a “política
de Covid zero” para tolher a liberdade dos seus cidadãos, esmagando qualquer
resistência ou contestação que pudesse surgir.
Noutros quadrantes geográficos e
políticos, há que realçar o desaparecimento da Rainha Isabel II, que marca o
fim de uma era. Também a eleição de Lula da Silva, que vai governar o Brasil
dividido. Os falecimentos do “Rei” Pelé e do Papa emérito Bento XVI, este no
último dia do ano.
Destaco em Portugal, os 50 anos
da Vigília pela Paz, na Capela do Rato, em Lisboa, onde aconteceu o sobressalto,
nos dias 30 e 31 de dezembro de 1972, com a ditadura a não esconder o seu incómodo.
A Capela do Rato foi o momento decisivo de desafeto de setores que estavam no
meio da ponte na crítica ao regime, gente que já tinha entre os seus familiares
ou amigos mortos na guerra colonial. Foram presos os Padres Janela e Armando
Garcia que ali iam celebrar o culto. Era capelão e responsável pela capela o
fundanense, do Souto da Casa, Padre Alberto Neto. Encontrando-se doente com uma
pneumonia, não pôde celebrar a missa. Fez no entanto saber que, embora não
tivesse conhecimento da iniciativa, não se opunha a ela. Este sacerdote
acabaria por ser assassinado em 6 de julho de 1987, à beira da EN5, em Águas de
Moura, perto de Setúbal, no meio do mato, cujo autor do crime nunca foi
capturado ou sequer identificado.
António Costa voltou a ser
reeleito Primeiro-Ministro. O seu governo foi afetado por casos e escândalos
sucessivos, com demissões no seu governo que atingiram o número recorde de uma
dúzia até ao momento em que escrevo esta crónica.
Neste contexto de tantas
demissões e novas nomeações faz-me recordar quando, no verão de 1975, encontrando-me
de férias em São Pedro de Muel, ter lido no então recém-fundado (e já extinto) Jornal
Novo, por Artur Portela Filho (falecido aos 83 anos, em Abrantes, em 10 de
novembro de 2020, vítima de pneumonia e covid 19), o mesmo narrar, duma forma
humorística, como surgiam então os governos em catadupa. Eram tantas as
respetivas nomeações e demissões de ministros e secretários de Estado. Simulou os
ministérios no último andar de um prédio de muitos pisos, onde começavam a
trabalhar os novos governantes. Os seus tempos de duração de funções era o
decorrido do términos dos seus trabalhos e o regresso ao mesmo local, no dia
seguinte, onde iam deparar-se em encontrar já outros nos seus lugares. Foi de
facto o período pós 25 de Abril, que teve seis governos provisórios até ao 1º
governo constitucional, em 23 de julho de 1976.
Verifica-se uma oposição que
reclama, reclama, mas também não apresenta alternativas. É inconcebível.
Também o Presidente da República
poderia ser mais incisivo junto da maioria absoluta dos socialistas, para que
casos como os que lamentavelmente surgiram em redor da TAP, não viessem a
ridicularizar a governação, como o aberrante caso de Alexandra Reis, ex-Secretária
de Estado do Tesouro. Onde está a necessária fiscalização política ao Governo? Isto
tem sido sobejamente debatido e ainda vai durar mais algum tempo. Razão teve
João Miguel Tavares, com o título dado a um seu artigo no Público, sobre
este famigerado acontecimento – “O caso Alexandra Reis: isto é gozar com quem
trabalha”.
E, para terminar, porquanto muito
ainda haveria para dizer sobre o ficar em apuros ou o viver à barba longa, não
esquecer que a triste campanha da seleção de futebol no Campeonato do Mundo no
Qatar pode ser oferecida como uma metáfora do país: matéria-prima de boa
qualidade, talento desaproveitado e liderança sem projeto ou ambição, jogando
sempre na retranca, condicionada por personalidades com um ego e ambição
pessoal superior ao coletivo.
Temos de olhar em frente para
este novo ano, pois a única coisa que podemos esperar é a continuidade da
incerteza que vivemos e que, com tempo, se pode tornar ainda mais inquietante, o
que não desejamos. Há que ter fé, e “Falar a verdade aos Portugueses” como
referiu perentoriamente o falecido Henrique Medina Carreira, que foi Ministro
das Finanças no I Governo Constitucional.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
18-01-2023)
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