Hoje conhecida por Sri Lanka,
esta ilha situada a sudeste do subcontinente indiano era anteriormente designada
por Ceilão, nome que manteve até 1972. Em cingalês, o nome da ilha significa “leão”.
Há mais de 500 anos, os portugueses chegaram a este território, iniciando uma longa
e complexa relação histórica.
Quase todos os portugueses conhecem
as primeiras estrofes do Canto I, de Os Lusíadas:
As armas e os barões assinalados
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana.
Ora, Taprobana era a designação que Plínio, no século I d. C., dava à “Ilha
dos Leões” e que os navegadores portugueses, ao ali chegarem em 1506, passaram
a chamar Ceilão – uma corruptela de Sailan
ou Seyllan, nomes usados por mercadores
árabes, chineses e italianos da Idade Média.
Origens e primeiros povos
Os registos mais antigos da história do atual Sri Lanka datam do século
VI a.C., quando o povo cingalês (ou sinhala) migrou da região de Bengala, na Índia. Antes
disso, a ilha era habitada por Vedas, de origem provavelmente malaia,
cujos descendentes ainda vivem na parte leste da ilha.
Chegada dos portugueses
Em 1506, oito anos após a chegada de Vasco da Gama, D. Lourenço de
Almeida desembarcou no Ceilão, então conhecido como “ilha da canela”, iniciando
uma presença portuguesa que duraria cerca de 150 anos. Estabeleceu contactos com
o rei de Kotte e iniciou a construção de uma fortaleza. No entanto, o vice-rei
D. Francisco de Almeida (1505-1509), pai de D. Lourenço, era contra uma
política de conquistas que implicasse grandes recursos humanos e financeiros. Assim,
em 1519, a influência portuguesa em Colombo era quase nula, obrigando-os a
continuar a comprar a canela a mercadores muçulmanos no Malabar.
Em 1512, António Real aconselhou D. Manuel a investir mais no comércio com
as Maldivas e o Ceilão. Mas só em 1518, já no final do vice-reinado de Lopo
Soares de Albergaria (1515-1518), se construiu a Fortaleza de Colombo. Mesmo
assim, os portugueses nunca conseguiram obrigar o rei de Kotte a pagar regularmente
o tributo imposto: 400 bahares
de canela e dez elefantes. (Bahar era uma medida de peso variável no comércio
do Índico.)
Em 1521, a fortaleza portuguesa foi cercada e abandonada três anos
depois. Os portugueses esperavam que o recuo acalmasse os conflitos e
garantisse o fornecimento de canela às naus do Reino.
Os três reinos
No século XVI, o Ceilão era estratégico nas rotas comerciais do Índico,
mas politicamente fragmentado. A ilha estava dividida em três reinos:
· Kotte, no sudoeste, controlava o comércio da
canela e foi o primeiro a estabelecer relações com os portugueses.
· Kandy, no centro, era “reino das montanhas”, que
viria a tornar-se aliado e depois inimigo dos portugueses.
· Jaffna, no norte, era culturalmente ligado ao
império hindu de Vijayanagar. Este último é a origem das tensões entre os Tâmeis
do Norte e os descendentes dos outros dois reinos, que culminaram na guerra
civil do Sri Lanka, séculos depois.
A fragmentação agravou-se em 1521, com a divisão do reino de Kotte e a
criação do reino de Sitawala. Este novo reino, apoiado por Calecute, rival dos
portugueses, empreendeu uma política expansionista contra Kotte e os seus
aliados lusos, conseguindo conquistar Kotte em 1565 e reduzir a presença
portuguesa à zona de Colombo.
Conflitos e domínio
Apesar dos revezes, os portugueses beneficiaram da política pró-lusa do
rei de Kandy, desde 1550. Essa aliança visava conter Sitawaka. No entanto, em
1587-88, Colombo foi cercada por Sitawaka, numa resposta à cedência do reino de
Kotte à Coroa portuguesa. Após resistirem ao cerco, os portugueses iniciaram
uma ofensiva que, em sete anos, lhes deu o domínio efetivo da ilha – embora
ainda com fortes resistências.
Ao contrário de outras colónias, os portugueses em Ceilão procuraram um
domínio territorial e não apenas comercial, tentando implantar uma estrutura colonial
baseada na terra. Mas o “reino das montanhas”, Kandy, tornou-se o principal
opositor à conquista total da ilha.
A queda
A oposição permanente entre portugueses e cingaleses de Kandy impediu
uma conquista completa. Em 1617, foi assinado um tratado de paz: Kandy
reconhecia a soberania portuguesa sobre Kotte e comprometia-se a não se aliar
aos holandeses, que, desde 1602, rondavam a ilha. Em troca, Portugal reconhecia
o poder do rei de Kandy. Mas a paz foi breve.
Entre 1638 e 1658, os holandeses conquistaram todas as posições
portuguesas. A presença lusa passou a ser apenas uma memória – mas uma memória
viva: centenas de palavras portuguesas (como calça, saia, copo)
permanecem no cingalês, assim como apelidos como Sousa, Coutinho ou
Pereira, ainda comuns na
atualidade.
DADOS ATUAIS DO SRI LANKA
Nome oficial: República
Democrática Socialista de Sri Lanka.
Capital: Sri Jayawardenapura-Kotte
(desde 1982), subúrbio da antiga capital Colombo.
Superfície: de 66.000
Km2.
População (2023): 22.04
milhões.
Grupos étnicos (2002):
·
Cingaleses:
74%
·
Tamiles:
18%
Línguas oficiais: Cingalês
e Tamil
Religiões (2001):
·
Budismo:
69,1%
·
Islamismo:
7,6%
·
Hinduísmo:
7,1%
·
Cristianismo:
6,2%
Moeda: Rupia cingalesa
Regime: Parlamentar
Chefe de Estado:
Presidente da República, eleito por seis anos.
João de Jesus Nunes
Fontes: Clube do
Colecionador - junho 2004; Wikipédia
(In “O Olhanense”, de 01-08-2025)