6 de agosto de 2025

HÁ 519 ANOS PARA ALÉM DA TAPROBANA



 

Hoje conhecida por Sri Lanka, esta ilha situada a sudeste do subcontinente indiano era anteriormente designada por Ceilão, nome que manteve até 1972. Em cingalês, o nome da ilha significa “leão”. Há mais de 500 anos, os portugueses chegaram a este território, iniciando uma longa e complexa relação histórica.

Quase todos os portugueses conhecem as primeiras estrofes do Canto I, de Os Lusíadas:

As armas e os barões assinalados

Que da ocidental praia lusitana,

Por mares nunca de antes navegados

Passaram ainda além da Taprobana.

Ora, Taprobana era a designação que Plínio, no século I d. C., dava à “Ilha dos Leões” e que os navegadores portugueses, ao ali chegarem em 1506, passaram a chamar Ceilão – uma corruptela de Sailan ou Seyllan, nomes usados por mercadores árabes, chineses e italianos da Idade Média.

Origens e primeiros povos

Os registos mais antigos da história do atual Sri Lanka datam do século VI a.C., quando o povo cingalês (ou sinhala) migrou da região de Bengala, na Índia. Antes disso, a ilha era habitada por Vedas, de origem provavelmente malaia, cujos descendentes ainda vivem na parte leste da ilha.

Chegada dos portugueses

Em 1506, oito anos após a chegada de Vasco da Gama, D. Lourenço de Almeida desembarcou no Ceilão, então conhecido como “ilha da canela”, iniciando uma presença portuguesa que duraria cerca de 150 anos. Estabeleceu contactos com o rei de Kotte e iniciou a construção de uma fortaleza. No entanto, o vice-rei D. Francisco de Almeida (1505-1509), pai de D. Lourenço, era contra uma política de conquistas que implicasse grandes recursos humanos e financeiros. Assim, em 1519, a influência portuguesa em Colombo era quase nula, obrigando-os a continuar a comprar a canela a mercadores muçulmanos no Malabar.

Em 1512, António Real aconselhou D. Manuel a investir mais no comércio com as Maldivas e o Ceilão. Mas só em 1518, já no final do vice-reinado de Lopo Soares de Albergaria (1515-1518), se construiu a Fortaleza de Colombo. Mesmo assim, os portugueses nunca conseguiram obrigar o rei de Kotte a pagar regularmente o tributo imposto: 400 bahares de canela e dez elefantes. (Bahar era uma medida de peso variável no comércio do Índico.)

Em 1521, a fortaleza portuguesa foi cercada e abandonada três anos depois. Os portugueses esperavam que o recuo acalmasse os conflitos e garantisse o fornecimento de canela às naus do Reino.  

Os três reinos

No século XVI, o Ceilão era estratégico nas rotas comerciais do Índico, mas politicamente fragmentado. A ilha estava dividida em três reinos:

·       Kotte, no sudoeste, controlava o comércio da canela e foi o primeiro a estabelecer relações com os portugueses.

·       Kandy, no centro, era “reino das montanhas”, que viria a tornar-se aliado e depois inimigo dos portugueses.

·       Jaffna, no norte, era culturalmente ligado ao império hindu de Vijayanagar. Este último é a origem das tensões entre os Tâmeis do Norte e os descendentes dos outros dois reinos, que culminaram na guerra civil do Sri Lanka, séculos depois.

A fragmentação agravou-se em 1521, com a divisão do reino de Kotte e a criação do reino de Sitawala. Este novo reino, apoiado por Calecute, rival dos portugueses, empreendeu uma política expansionista contra Kotte e os seus aliados lusos, conseguindo conquistar Kotte em 1565 e reduzir a presença portuguesa à zona de Colombo.

Conflitos e domínio

Apesar dos revezes, os portugueses beneficiaram da política pró-lusa do rei de Kandy, desde 1550. Essa aliança visava conter Sitawaka. No entanto, em 1587-88, Colombo foi cercada por Sitawaka, numa resposta à cedência do reino de Kotte à Coroa portuguesa. Após resistirem ao cerco, os portugueses iniciaram uma ofensiva que, em sete anos, lhes deu o domínio efetivo da ilha – embora ainda com fortes resistências.

Ao contrário de outras colónias, os portugueses em Ceilão procuraram um domínio territorial e não apenas comercial, tentando implantar uma estrutura colonial baseada na terra. Mas o “reino das montanhas”, Kandy, tornou-se o principal opositor à conquista total da ilha.

A queda

A oposição permanente entre portugueses e cingaleses de Kandy impediu uma conquista completa. Em 1617, foi assinado um tratado de paz: Kandy reconhecia a soberania portuguesa sobre Kotte e comprometia-se a não se aliar aos holandeses, que, desde 1602, rondavam a ilha. Em troca, Portugal reconhecia o poder do rei de Kandy. Mas a paz foi breve.

Entre 1638 e 1658, os holandeses conquistaram todas as posições portuguesas. A presença lusa passou a ser apenas uma memória – mas uma memória viva: centenas de palavras portuguesas (como calça, saia, copo) permanecem no cingalês, assim como apelidos como Sousa, Coutinho ou Pereira, ainda comuns na atualidade.

DADOS ATUAIS DO SRI LANKA

Nome oficial: República Democrática Socialista de Sri Lanka.

Capital: Sri Jayawardenapura-Kotte (desde 1982), subúrbio da antiga capital Colombo.

Superfície: de 66.000 Km2.

População (2023): 22.04 milhões.

Grupos étnicos (2002):

·       Cingaleses: 74%

·       Tamiles: 18%

Línguas oficiais: Cingalês e Tamil

Religiões (2001):

·       Budismo: 69,1%

·       Islamismo: 7,6%

·       Hinduísmo: 7,1%

·       Cristianismo: 6,2%

Moeda: Rupia cingalesa

Regime: Parlamentar

Chefe de Estado: Presidente da República, eleito por seis anos.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

Fontes: Clube do Colecionador - junho 2004; Wikipédia

 

(In “O Olhanense”, de 01-08-2025)