No domingo, 16 de Janeiro, lá estivemos na Catedral da Guarda, na cerimónia da tomada de posse de D. Manuel da Rocha Felício, como Bispo coadjutor, com direito de sucessão a D. António dos Santos.
O templo estava repleto. Era a grande festa, com forasteiros de todas as zonas da diocese da Guarda. As pessoas baixinhas a empurrarem para a frente as mais altas, procurando um espaço, um pequeno ângulo, tentar sobrepor-se às cabeleiras mais elevadas, algumas ainda a cheirar a cabeleireiro, numa ânsia de poderem ver o novo Bispo, e o restante cortejo, já que lhes ofuscavam as suas vistas, mesmo pondo-se nos bicos dos pés.
Vários presidentes de câmaras dos concelhos da diocese da Guarda, e outras entidades, assistiram, como nós, ao grande cortejo de vários Bispos, liderados pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, com dezenas e dezenas de padres.
E vieram gentes, muitas gentes, algumas com os fatos a cheirar a naftalina; gentes dos meios rurais aos citadinos; alguma comunicação social atrasada; seminaristas engravatados; pessoas com cartazes das suas terras; davam uma vivência forte ao acto, há muito não vista.
Desejamos, de facto, uma voz que se faça ouvir, num grande eco, como algumas excelências reverendíssimas o fizeram em determinadas regiões do País, assim tendo contribuído para que ficassem marcas vincadas das suas personalidades, não só nessas cidades, como em todo o País, porque as suas vozes não doíam.
Uma palmada nas costas, e, Manuel Lúcio, de Manteigas, falou-nos do Noticias da Covilhã, ali mesmo na catedral.
Afinal, Notícias da Covilhã já completou 92 anos no passado dia 12 de Janeiro, e, quando este Semanário – o mais antigo da Região – havia ultrapassado meio século, iniciámos o primeiro contacto escrito, com um texto publicado no dia 14/11/1964, já lá vão 41 anos! Parabéns, Notícias da Covilhã.
Começámos o ano de 2005, como numa triste e leda madrugada. Enquanto uns acordaram com sonhos lindos, um formigueiro de cidadãos levantou-se atarantado. Que mal fizemos nós, Senhor?!
Mas, neste ano, há várias efemérides: a morte do escritor Miguel Torga, há dez anos, em 17 de Janeiro de 1995, deixando uma obra com meia centena de títulos; e também a morte de Inês de Castro, acontecida há 650 anos, em 7 de Janeiro de 1355.
Sobre o que se está a passar no País, com o Cortejo de Oferendas a favor do dia 20 de Fevereiro, continuam as trapalhadas, as gaffes, as promessas, os avisos, os insultos, as ironias, as admirações, as estranhezas, o insólito; as contradições; o que hoje é verdade, amanhã é mentira; alvoroçam-se os boys e as girls, todos querendo pegar na caldeirinha do Sr. Prior, nesta aldeia grande – que este ano a Páscoa é mais cedo.
E, por isso, nada mais apropriada que uma efeméride mais para este ano: a morte do criador do Zé Povinho, Rafael Bordalo Pinheiro, há 100 anos, na madrugada de 23 de Janeiro de 1905. Hoje seria de oportunidade o seu semanário “A Paródia”.
Mas, também os 400 anos de “D. Quixote de La Mancha”, por Miguel de Cervantes, constituem uma outra efeméride para este ano.
Com o País suspenso numa das maiores crises da sua existência, navegando na fronteira entre a esperança e o desespero, esperemos que D. Quixote, que chegará à Mancha em 20 de Fevereiro, não tome os moinhos por gigantes, e com “choque de gestão” ou “plano tecnológico”possa encontrar o caminho certo para a sua Dulcineia.
Durante a marcha de D. Quixote, com o seu cavalo Rocinante, e com os pensamentos naquela sua dama, já não encontramos um único Sancho Pança, mas vários sanchos-panças, servos fiéis de D. Quixote.
Esperamos que D. Quixote encontre o rumo certo, e que os sanchos-panças possam, de facto, ser os fiéis escudeiros, pois necessitamos que La Mancha prospere, mas antes, recupere, em marcha acelerada.
Para ultimar esta crónica, de novo um recado à Câmara da Covilhã: quando é que intervém na limpeza da cidade, tornando-a mais limpa, eliminando, de vez, com as cagadelas dos cães e dos gatos, que grassam pelos passeios, e não só, de toda a cidade, agora em que se inicia a despoluição das nossas ribeiras.
Crie-se legislação adequada, como sucedeu em Braga, e noutros concelhos do País, obrigando os donos dos canídeos e felinos a respeitarem o ambiente. Ou é necessário chamar D. Quixote?
(In “Notícias da Covilhã”, de 28/01/2005)
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