Ainda haverá quem se mantém à margem desta época do ano?
Na generalidade, toda a gente sente chegado este período dos 365 dias de mais uma passagem da nossa vida, tanto na alegria de uma reunião de família, como, quantas vezes, paradoxalmente, na tristeza da ausência de um ente querido, no negrume dum inesperado desemprego ou duma doença que espreitou e se enraizou.
Há, efectivamente, tristes e ledas madrugadas!
Mas infelizmente ainda existem muitos indiferentes ao Natal, que nada lhes diz, a não ser o forçado envolvimento diário no mesmo, face aos meios de comunicação social, às ruas decoradas a pretexto, ao bulício das compras, com a prévia preparação dos estabelecimentos comerciais, e o anúncio de publicidade, quantas vezes duma forma exagerada e enfadonha, que emerge nos jornais, canais de televisão, e não só. São assim, indiferentes, os isolados, os sem abrigo, os de infortúnio, os que não encontram neles outra forma de se verem senão como marginalizados da sociedade onde vivem todo o ano, no período de frio e de calor, de chuva e de sol, apesar de este, quando vem, é para todos.
Natal! Festa anual cristã que comemora o nascimento de Cristo e que tem lugar no dia 25 de Dezembro, é do conhecimento de toda a gente, já se sabe, vivida ou reconhecida em quase todos os cantos do nosso planeta.
Em redor daquela palavra muito se faz, muito se conta, muito há que dizer.
Recordar o Natal de há 50 anos não será o mesmo da actualidade, não obstante ter existido também a tradição do presépio, o comprar de uma peça de vestuário que já se necessitava há muito, a alegria dos brinquedos de criança, geralmente feitos em madeira, cartão, lata ou plástico. Existia também a missa do galo e as fogueiras, numa perene tradição.
O Natal de hoje é um Natal de consumismo, onde os brinquedos são cada vez mais sofisticáveis, chegando-se ao ponto de, nalguns casos, surgir proibição da sua venda face aos efeitos nocivos da sua construção. Hoje, as crianças perdem-se num mar de presentes, para todos os gostos e feitios.
É decerto nesta quadra do ano que mais se fala na mesma palavra – NATAL – O Natal em família; Votos de Feliz Natal; Dia, Semana ou Mês do Natal; Férias de Natal; Presentes de Natal; Cânticos de Natal; Iluminação de Natal; Compras de Natal; Ceia de Natal; Missa de Natal; Espírito de Natal; Árvore de Natal; Pai Natal; Cabaz do Natal; Noite de Natal; Pinheiro de Natal; o Subsídio de Natal.
Isto para, noutro contexto, outros também poderem dizer que “vou passar o Natal à minha terra natal”.
E, pasme-se, até com ironia, há bem poucos anos, de um certo clube desportivo se dizia que corria para o título só até ao Natal, uma vez que, a partir daqui, se deixava ultrapassar pelos seus habituais parceiros da concorrência. Felizmente que outros ventos têm soprado noutro sentido...
Christmas, Noel e Weihnachten têm o mesmo significado e a mesma força como festividade de excelência, nas línguas inglesa, francesa e alemã.
Desde tempos imemoriais que o verdadeiro espírito de Natal se associou também na ajuda aos mais necessitados, aqueles que por razões diversas sentiram as agruras da vida retirando-lhes o pão, o agasalho, e os meios de adquirir os medicamentos.
Mas a pobreza nos dias de hoje é muito mais lata, onde a droga, o álcool, a má orientação, levam, quantas vezes, à maior das pobrezas.
A todos nós pode um dia bater o infortúnio, como tem acontecido a tantas famílias covilhanenses, às quais lhes surgiu o desemprego não previsto; ou fruto duma catástrofe natural, como os incêndios, as derrocadas, as inundações, um acidente de viação. Aí está a pobreza envergonhada.
Outros ainda há que, vivendo isolados, e não necessitando sequer de ajuda porquanto os seus regulares proventos são suficientes, emaranham-se em desilusões e caem no álcool ou droga e, quando chega o dia do recebimento da pensão, tudo se desfaz num ápice. Urge então que alguém responsável lhes possa gerir o que é suficiente para o seu sustento. É outra forma menos peculiar de pobreza.
Outros, ainda, com base nesta palavra, usam e abusam dela, num oportunismo à sombra duma disfarçada pobreza, num disfarce que leva ao cepticismo de quem já lhes passa ao lado.
Mais revoltante que aqueles que não fazem esforço para sair da pobreza, são alguns “fazedores” da caridade, que utilizam em benefício próprio, ou de terceiros, os recursos disponibilizados, ou ainda por outras formas os subtraem aos devidos destinatários, num contraste com o real e dignificante trabalho que outras pessoas, de boas intenções, se envolvem no trabalho das instituições de solidariedade social, procurando ajudar e direccionar os recursos conseguidos na distribuição aos verdadeiros necessitados.
São esses desavergonhados pobres de Cristo que muitas vezes levam ao descrédito das instituições onde muitos trabalham arduamente, com sacrifício após dias de trabalho intensivo, em prol da autêntica caridade, numa verdadeira ajuda ao seu semelhante.
Por isso há que haver todo um sentido responsável em procurar sanar os males e as feridas de quem sofre da pobreza, que um dia lhes bateu à porta, ou que da mesma jamais se libertaram.
É que o Natal não deverá existir só em Dezembro, mas todos os dias do ano!
(In “Notícias da Covilhã”, de 19/12/2003)
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