Neste último fim-de-semana deu-me para consultar, à toa, centenas de páginas separadas de muitos jornais que, devidamente seleccionadas, arrumo para um canto. As compilações já efectuadas, tematicamente, começam a reduzir o espaço do escritório, já que na biblioteca particular os livros se começam a zangar uns com outros, de tão apertados.
E, porque a idade e o espaço são mais fortes que o imenso gosto pela cultura, comecei por doar algumas compilações, encadernadas, a uma instituição.
O mesmo poderei fazer com muitas ainda em meu poder, mas antes, porém, desejaria primeiro fazer uma exposição para a cidade, em cujo concelho me orgulho de ter nascido.
Há muito que pretendo também reunir todos meus textos, comentários, crónicas, críticas, referências, e colaboração diversa, dispersa por cerca de duas dezenas de jornais e revistas deste País, e mesmo além fronteiras.
Vamos à questão. Da revista Notícias Magazine, separata do DN, de 20/07/2003, li dois textos sob os títulos “Por que nos falha a memória” e “Histórias de esquecimentos”, extraindo, duma das páginas, a leitura de que “o cérebro é capaz de armazenar o equivalente a trinta mil milhões de livros. O desafio é conseguir trazer à “tona” essa informação sempre que necessário”.
Vem isto a propósito recordar algumas pessoas que, covilhanenses por nascimento, ou pelo coração, por aqui se radicaram, ou exerceram funções, deixando rastos da sua acção em prol da comunidade.
Como o tema é vasto, seleccionei, considerando oportuno, o campo da religiosidade, tendo em conta a paroquialidade covilhanense.
Vou referir-me apenas a alguns sacerdotes que conheci nesta cidade, saindo da mesma; uns em vida, outros por força da lei da morte; deixando rastos de profunda saudade.
A acção desenvolvida por muitos destes homens, na espiritualidade, apoio às famílias, e ao povo que lhes foi confiado, na acção religiosa do seu múnus, foi de enorme mérito, nem sempre observada ou só tardiamente reconhecida. Mas a excessiva modéstia e simplicidade de alguns desses Homens, sobejamente conhecidos, são obstáculo a tal reconhecimento.
E como dos fracos não reza a história, também algumas conhecidas fragilidades de uns que partiram em vida, mais não ficou que o desmemoriar do seu passado.
Nos tempos dos hossanas ao antigo regime tivemos a presença de um quarteto de sacerdotes que à cidade muito deram, mas alguns deles arriscaram-se a uma perigosidade com a permissão aos movimentos operários católicos de trabalharem sem receios – o aproveitamento, por exemplo, do 1.º de Maio, em que não era feriado, para, com pretexto e com base na festa de S. José Operário, se poderem reunir e por momentos confraternizar, através dum lanche.
Mas, que me recorde, era na paróquia de S. Pedro, ao tempo do padre José Domingues Carreto, que se faziam essas confraternizações. Mais tarde, e durante muitos anos, estaria o padre Fernando Brito nessa missão, com forte empenhamento.
Das quatro paróquias daquela época, salientaram-se, pelos muitos anos à frente e acções desenvolvidas nas mesmas, o cónego José Andrade (Conceição), cónego Morgadinho (S. Martinho), padre José Batista Fernandes (Santa Maria) e padre Carreto (Pedro). Nos Penedos Altos, o padre Pita era o homem forte.
Além das paróquias, a sua acção também se desenvolveu na cidade, quer como docentes no ensino secundário, quer como assistentes de várias organizações, assim como na comunicação social, como o cónego José Andrade, director do NC; além de estarem na primeira linha de algumas obras da cidade.
De partida, deixou a Covilhã o cónego Dr. António Mendes Fernandes, onde, durante muitos anos foi director do Notícias da Covilhã e voz viva neste órgão da comunicação social.
De partida, mas para o além eterno, foi o padre Sanches, grande obreiro e assistente de instituições da cidade e região.
Em vida, ainda jovem, mas onde já deixara marcas de muita simpatia e excelente trabalho apostólico, saiu o Padre Victor, das Comunidades dos Penedos Altos e Vila do Carvalho.
Mas, ainda em retrospectiva, é então que por força da doença que afastou da Covilhã o padre Carreto, são os padres jesuítas, há muitos anos a desenvolver acção apostólica na cidade, que são encarregados da paróquia de S. Pedro. Dentre alguns sacerdotes, destacou-se, não só como pároco, de saudosa memória, o padre José Lacerda, que, ainda em vida, foi substituído pelo padre José Pires.
É exactamente este último Homem, que há vinte anos se encontra na Covilhã, simples quanto incansável, à frente da paróquia de S. Pedro; e assistente de várias organizações religiosas; o último a partir. O seu destino é para uma missão espinhosa, numa zona lisboeta de grandes perigos. Por isso, mais lhe devemos grande respeito e o sentir dos covilhanenses que terão o padre Pires sempre presente.
Espero estar na sua despedida em 5 de Outubro, na qual, certamente, terá a manifestação de carinho, por muitas gentes, e a simpatia pelo Homem que a paróquia de S. Pedro e a Covilhã muito lhe devem.
Esperemos que a edilidade covilhanense, que tão bem sabe reconhecer alguns, dignifique este acto com a sua presença nesta homenagem.
(In "Noticias da Covilhã", de 28/09/2006)
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