Recordo-me como se fosse hoje o dia da inauguração do Monumento a Cristo-Rei, em Almada.
Também assisti às cerimónias, pela televisão, a preto e branco.
Por azar, com muitas interrupções do receptor no Salão Paroquial de S. Pedro; aquele espaço arrancado a ferros duma cave da pequena Igreja, naquela vontade indómita do Padre Carreto, de lutar, com as suas próprias forças, pelo alargamento da Igreja, que, em tempos, e com desgosto seu, sentia os ditos e os mexericos de uma possível demolição.
Era o tempo em que, no final da missa e da catequese, os meninos e as meninas presentes, sob olhar atento das catequistas, recebiam uma senha para no mês do Natal poderem trocar por roupas novas, numa exposição de bom gosto no salão paroquial.
A televisão tinha emergido em Portugal há cerca de um ano; as pessoas ainda a não tinham nas suas casas, por falta de poder económico. O aparelho ainda era caro para as bolsas dos operários e funcionários públicos de então.
Onde os televisores, com o único canal da RTP, a preto e branco, se encontravam, era então nos cafés, clubes desportivos e salões paroquiais.
Era um aparelho de luxo. Quando alguém, com algumas posses, o tinha em casa, surgia a voz crítica: “Fulano já comprou uma televisão!...”
Eu andava no Ciclo Preparatório, na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, e na catequese da paróquia de S. Pedro, em S. João de Malta.
O salão já servira para festas paroquiais, reuniões, e o que fosse possível, inclusive a Festa de S. José Operário, no 1.º de Maio, de que a Pide não gostava.
Também ali o clube da FNAT de então – Estrela de S. Pedro – apresentava no seu aniversário alguns números teatrais, salientando-se na representação alguns dos seus sócios, como o Pavillon, que era funcionário da Caixa Geral de Depósitos; o Henriques, o Carrilho, entre outros.
O dia 17 de Maio de 1959 também fôra a um domingo, como agora no dia do seu cinquentenário.
O Padre José Domingues Carreto anunciara previamente, nas homilias das 9 e das 11 horas, de que no Salão Paroquial podiam ver a festa da inauguração do Monumento a Cristo-Rei.
Muito antes da hora ficara repleto. Imenso calor por falta de conveniente ventilação, naquela cave que, apesar de tudo, era acolhedora, para aqueles tempos.
Muito embora existisse a trilogia do “Fado, Futebol e Fátima” uma coisa fica dum tempo nostálgico: não tinha surgido aquilo que futuramente viria a ser o flagelo da humanidade – a “droga”.
Mas, voltando àquele domingo, 17 de Maio de 1959, quero recordar que foi verdadeiramente notável, com um mar de gente em Almada, incluindo as figuras do Estado Novo.
Ouvia-se o locutor da RTP a explicar os passos e a história da construção daquele monumento, com as interrupções, com intervalos de espera, sob o nervosismo do Padre Carreto que não conseguia resolver o problema do aparelho ainda novo; e, depois, interferências e mais interferências, até que, vai daí, o velho Mariano, marido da D. Barburinha, impaciente, sai, de chapéu na mão, exclamando: “Não sei o que é que aconteceu; basta ir ali, a um qualquer café, e não é nada disto com a televisão!...”
Com 113 metros acima do nível do Tejo, constituído por um pórtico com 75 metros de altura, encimado pela estátua do Redentor, de braços abertos voltado para a cidade de Lisboa, com 28 metros de altura, assim se descreveu o Monumento a Cristo-Rei.
A sua construção foi inspirada na visita do Patriarca de Lisboa, Cardeal Cerejeira, ao Rio de Janeiro, no Brasil; e também edificado em cumprimento de um voto formulado pelo Episcopado Português reunido em Fátima em 20 de Abril de 1940, pedindo a Deus que livrasse Portugal da Segunda Guerra Mundial.
A inauguração do monumento teve a presença dos Cardeais do Rio de Janeiro e de Lourenço Marques e cerca de 300 mil pessoas.
O Papa João XXIII, antigo Cardeal Angelo Giuseppe Roncalli, que havia sido eleito, por morte de Pio XII, ainda não havia um ano, enviou uma mensagem de rádio que foi transmitida na altura; e o Cardeal Cerejeira afirmou que o monumento seria sempre um sinal de gratidão pelo dom da paz.
(In Notícias da Covilhã e Diário XXI de 14/05/2009)
14 de maio de 2009
7 de maio de 2009
ESTRELAS DO SP. COVILHÃ NUMA CONSTELAÇÃO DE VELHAS GLÓRIAS
Foi no passado sábado, conforme fora anunciado.
Depois dum excelente trabalho dos organizadores, ficou a marca de um grande dia para a história da colectividade serrana.
Centena e meia de pessoas reuniram-se num hotel da cidade, num jantar convívio, onde começaram a surgir as “Velhas Glórias” dos Leões da Serra.
“Quem é aquele?” – foi a expressão mais utilizada de início.
Alguns vinham já “desfocados” na sua fisionomia mas ao surgirem os seus nomes, foi a alegria, e os muitos abraços.
Outros não puderam comparecer, uns tantos enviaram mensagens, e um deles, que não pode vir, até chorou.
A presença de quase sete dezenas de antigos jogadores (alguns que mais tarde estiveram como treinadores) e dois antigos treinadores (Vieira Nunes e António Jesus), sem contar com os muitos antigos dirigentes e massagistas, foi o encontro da amizade, deixando entre os participantes a vontade de que se venha a realizar novo convívio.
Dos mais antigos ex-atletas (Lanzinha e Manteigueiro), aos da década de 60 (Nartanga, Maçarico, José Pereira, Fazenda, Pinto Dias, Eduardo Prata, Rui Morais), passando para a década seguinte (Serra Pires, Girão, Cremildo, Coimbra, Alemão, Velho, Luciano Reis, Luís Paiva, Babalito, Jordão, Ulisses Morais), surgiram antigos jogadores da década de 80, alguns actualmente treinadores (Martins, Madaleno, Victor Urbano, Luís Mesquita, António Real, César Brito, Germano, João Cavaleiro, Jorge Tavares, João José Pereira, Balseiro, Margaça, Bábá, Joanito, João Salcedas, Jorge Coutinho, Jacques, Nelinho, Biri, José Luís Craveiro, Manaca, José Carlos, Toninho), para, nas décadas seguintes saltarem nomes como João Miguel, Rui Morais, Nazaré, Nuno Neto, Artur, Trindade, Piguita, Luciano, Luciano Victor, Capelas, Seixas, Ferreira, João Peixe, Victor Cunha, entre outros.
De salientar o mais velho massagista que esteve ao serviço do clube serrano (quase meio século) – José Gil Barreiros, bem como o mais antigo dirigente dos Leões da Serra, Domingues Pires, e os antigos presidentes do SCC, Marques Malaca, Álvaro Ramos, Dias Rocha, João Petrucci, entre muitos antigos dirigentes.
Carlos Miguel Saraiva, coordenador da organização, deu início às breves palestras; João Serra Duarte, vice-presidente do Sp. Covilhã, representou a Direcção leonina, e João Esgalhado, a Câmara Municipal.
Presença agradável do covilhanense, árbitro internacional – Carlos Xistra, e das esposas de muitos antigos atletas, assim como de vários carolas serranos.
À mesa contaram-se várias peripécias dos serranos, como esta, com que termino estas linhas, de Álvaro Ramos: na falta de autocarro do clube, de então, disponibilizavam-se as viaturas dos directores, e não só. A ele, então presidente da colectividade serrana, calharam-lhe na sua viatura os atletas negros, Escurinho, Nelinho, Penteado e Alberto Delgado. Só ele era branco. A determinada altura da viagem, um deles, a rir-se diz ao condutor: “Sr. Presidente, não se importa de abrir a luz porque vai aqui uma escuridão?...”
Também o bom humor faz parte da vida.
(In Tribuna Desportiva, de 05/5/2009, Notícias da Covilhã, de 07/5/2009, Diário XXI, de 07/05/2009, vai sair no Jornal “Sporting”, de 12/05/2009)