14 de maio de 2009

CINQUENTA ANOS DO MONUMENTO A CRISTO-REI

Recordo-me como se fosse hoje o dia da inauguração do Monumento a Cristo-Rei, em Almada.
Também assisti às cerimónias, pela televisão, a preto e branco.
Por azar, com muitas interrupções do receptor no Salão Paroquial de S. Pedro; aquele espaço arrancado a ferros duma cave da pequena Igreja, naquela vontade indómita do Padre Carreto, de lutar, com as suas próprias forças, pelo alargamento da Igreja, que, em tempos, e com desgosto seu, sentia os ditos e os mexericos de uma possível demolição.
Era o tempo em que, no final da missa e da catequese, os meninos e as meninas presentes, sob olhar atento das catequistas, recebiam uma senha para no mês do Natal poderem trocar por roupas novas, numa exposição de bom gosto no salão paroquial.
A televisão tinha emergido em Portugal há cerca de um ano; as pessoas ainda a não tinham nas suas casas, por falta de poder económico. O aparelho ainda era caro para as bolsas dos operários e funcionários públicos de então.
Onde os televisores, com o único canal da RTP, a preto e branco, se encontravam, era então nos cafés, clubes desportivos e salões paroquiais.
Era um aparelho de luxo. Quando alguém, com algumas posses, o tinha em casa, surgia a voz crítica: “Fulano já comprou uma televisão!...”
Eu andava no Ciclo Preparatório, na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, e na catequese da paróquia de S. Pedro, em S. João de Malta.
O salão já servira para festas paroquiais, reuniões, e o que fosse possível, inclusive a Festa de S. José Operário, no 1.º de Maio, de que a Pide não gostava.
Também ali o clube da FNAT de então – Estrela de S. Pedro – apresentava no seu aniversário alguns números teatrais, salientando-se na representação alguns dos seus sócios, como o Pavillon, que era funcionário da Caixa Geral de Depósitos; o Henriques, o Carrilho, entre outros.
O dia 17 de Maio de 1959 também fôra a um domingo, como agora no dia do seu cinquentenário.
O Padre José Domingues Carreto anunciara previamente, nas homilias das 9 e das 11 horas, de que no Salão Paroquial podiam ver a festa da inauguração do Monumento a Cristo-Rei.
Muito antes da hora ficara repleto. Imenso calor por falta de conveniente ventilação, naquela cave que, apesar de tudo, era acolhedora, para aqueles tempos.
Muito embora existisse a trilogia do “Fado, Futebol e Fátima” uma coisa fica dum tempo nostálgico: não tinha surgido aquilo que futuramente viria a ser o flagelo da humanidade – a “droga”.
Mas, voltando àquele domingo, 17 de Maio de 1959, quero recordar que foi verdadeiramente notável, com um mar de gente em Almada, incluindo as figuras do Estado Novo.
Ouvia-se o locutor da RTP a explicar os passos e a história da construção daquele monumento, com as interrupções, com intervalos de espera, sob o nervosismo do Padre Carreto que não conseguia resolver o problema do aparelho ainda novo; e, depois, interferências e mais interferências, até que, vai daí, o velho Mariano, marido da D. Barburinha, impaciente, sai, de chapéu na mão, exclamando: “Não sei o que é que aconteceu; basta ir ali, a um qualquer café, e não é nada disto com a televisão!...”
Com 113 metros acima do nível do Tejo, constituído por um pórtico com 75 metros de altura, encimado pela estátua do Redentor, de braços abertos voltado para a cidade de Lisboa, com 28 metros de altura, assim se descreveu o Monumento a Cristo-Rei.
A sua construção foi inspirada na visita do Patriarca de Lisboa, Cardeal Cerejeira, ao Rio de Janeiro, no Brasil; e também edificado em cumprimento de um voto formulado pelo Episcopado Português reunido em Fátima em 20 de Abril de 1940, pedindo a Deus que livrasse Portugal da Segunda Guerra Mundial.
A inauguração do monumento teve a presença dos Cardeais do Rio de Janeiro e de Lourenço Marques e cerca de 300 mil pessoas.
O Papa João XXIII, antigo Cardeal Angelo Giuseppe Roncalli, que havia sido eleito, por morte de Pio XII, ainda não havia um ano, enviou uma mensagem de rádio que foi transmitida na altura; e o Cardeal Cerejeira afirmou que o monumento seria sempre um sinal de gratidão pelo dom da paz.


(In Notícias da Covilhã e Diário XXI de 14/05/2009)

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