17 de setembro de 2009

AMIZADE E CULTURA ULTRAPASSAM FRONTEIRAS

Pode-se ficar mais brando.
O que não significa passar a ser passivo, ou no consentimento de lhe terem “dado a volta”.
É tão difícil mudar de clube como de convicções.
A exemplaridade dos actos soma mais pontos que a eloquência nas palavras.
Mas é difícil agradar a gregos e a troianos; como seja servir a Deus e ao diabo.
Todos os humanos têm virtudes e defeitos, neste paradoxo envolvente da vida.
E, como exemplo; numa visão na exclusividade dum interesse empresarial, ou vista na forma de um todo, incluindo o humano; assim a medalha pode ser vista no seu verso e reverso.
Talvez os incomodados com um malfadado orador, em sala repleta, tenham perguntado ao ouvido do mais próximo, sobre o que está muito à sua frente e outros lhe tolhem a visão: “Quem é que está a falar, é fulano não é? Eu logo vi que tinha que ser sempre o mesmo gajo a “mandar bocas”...” Do outro lado da “cortina”, numa visão mais inteligente, porque desconhecia o aventureiro, que o vê tão de afoito como de determinado, pergunta: “Disse-me que era o senhor fulano tal, do Interior abandonado, mas predisposto a fazer com que um rato venha parir uma montanha; é desses que eu preciso e conto já consigo, posso?”
Todos quantos rosnavam das suas palavras, na “catedral” improvisada, e apinhada, ao ouvirem o grande Líder, sentiram correr um suor frio sobre as suas costas, de alto a baixo, e, no final, o “afoito” a dissertar, que era objecto de aversão, pela sua conduta rígida, é agora alvo da maior atenção, e querem-lhe dar a conhecer os seus colegas e chefes, numa forçada simpatia.
Da desilusão passou a um encanto. De besta passou a bestial; do “mau da fita” a bom de conveniência.
Isto passa-se com muitos de nós.
Até nos textos que reputamos de interesse geral, alguns “regionais” olham por cima dos “óculos de grande visão”, e silenciam as notícias que lhes forem endereçadas, que deveriam preencher um devido espaço, ao serviço do leitor, sem o qual não tem razão de existir o periódico. Em contraste, surge uma página inteira, a dar oportunidade a figuras que, na mesma data, festejaram Bodas de Ouro de ofício divino, omitindo a outra notícia dum companheiro. Será isto democracia?
Nesta luta truculenta, e quantas vezes obtusa de argumentos, e ao arrepio do mais elementar bom senso, o mais importante não é a nudez forte da verdade, mas sim como dizia o Eça, o manto diáfano da fantasia.
No passado sábado estivemos num almoço-convívio em Manteigas, a convite do amigo covilhanense, José Ascensão Rodrigues, que é como o vinho do Porto – quanto mais velho melhor! Dinâmica na organização, preservador de amizades, cultor de tradições, proporcionador de novas amizades. Manteigas é uma das suas segundas Terras. E ali o amigo só conhece amigos. É a Banda, são os Bombeiros, são outras instituições, em todas preserva a amizade.
Ali se juntaram naturais de Manteigas como da Covilhã, e não só. Foi um convívio em que as “feijocas” fizeram ombrear covilhanenses com naturais de Manteigas, onde não faltou o Presidente da Câmara, a convite particular. Reforçaram-se amizades e geraram-se outras. Foi esta a bênção da Serra da Estrela com o véu do ar puro da montanha. Obrigado José Ascensão Rodrigues e Manuel Lúcio.
A Covilhã esperava-nos para um acto cultural, de grande envergadura, no Museu de Arte e Cultura da Cidade e, por isso, amigo não empata amigo, e lá estivemos. Agora era outro Presidente de Câmara, oficialmente a inaugurar a exposição sobre figuras de arte sacra que a maioria da população desconhecia, e se encontravam na igreja de S. Francisco, numa excelente argumentação do seu autor, Dr. Carlos Madaleno; estudo minucioso para a sua tese de mestrado, culminando com o lançamento do seu livro “Convento de São Francisco da Covilhã – Um olhar através do tempo...”, no Salão Nobre da Câmara Municipal.
Esperemos que as figuras expostas mereçam regressar a uma nova casa – lembrando o Pároco da Conceição, Padre Fernando Brito, a necessidade de serem restauradas e de serem guardadas com alguma vigilância – a que o Presidente da Câmara informou que já havia conversado com o Bispo da Guarda no sentido de ser criado um Museu de Arte Sacra, abrangendo outras figuras distribuídas por diversas paróquias da Cidade, mas que não é fácil.

(In ''Noticias da Covilhã'', de 17/09/2009)

10 de setembro de 2009

EM GOUVEIA, COM O COUCEIRO


(Da esquerda para a direita: - João Nunes, Bento Couceiro, Eduardo Prata e Miguel Saraiva.)


O desporto nasceu com uma aspiração nobre: “mens sana in corpore sano”. No entanto, como o conhecemos, é actualmente um espectáculo encenado por profissionais, mais para ser visto ou reproduzido nas transmissões mediáticas.
A expansão dos espectadores matou o propósito inicial e deu-lhe a condição de maior espectáculo do Planeta.
É também um espaço onde todas as classes sociais se encontram e cada modalidade desportiva é uma linguagem entendida por multidões. Nele estão o aristocrata e o “intocável” em igualdade de condições, ressalvadas as qualidades individuais que a natureza dotou cada um.
Vem isto a propósito de, há já uns bons anos, nos termos envolvido na vertente cultural da área do futebol – o Desporto-Rei.
Mas o “veículo planetário” que é a Internet, veio revolucionar ainda mais toda esta envolvente.
Surgem contactos telefónicos, por e-mail ou pessoais, solicitando informações desta ou daquela figura do Sporting da Covilhã, face a não encontrarem fonte de informação no espaço que deveria existir em qualquer colectividade, com uma biblioteca devidamente organizada, bem como o seu arquivo.
Para a posteridade ficaram figuras do desporto citadino, e temos vindo a recordá-las, mas é a carolice que nos tem trazido muitas alegrias, muitas amizades, algumas desconhecidas; muitos apreços por esse País fora, do Minho ao Algarve, e não só.
Por iniciativa gerada fora dos clubes; já que a preocupação destes é mais a parte financeira, e os resultados, obviamente indissociáveis do barco a flutuar; trouxemos à Cidade figuras do nosso SCC, que deixaram marcas e, se o não fizéssemos, algumas já não vinham a tempo.
Em 28/09/1991 com homenagem às Velhas Glórias do Sporting Clube da Covilhã; depois em 6 de Junho de 1998, aquando das comemorações das Bodas de Diamante, com algumas figuras muito importantes.
Já em 2 de Junho de 2007, aquando dos 50 anos da participação do clube serrano na final da Taça de Portugal, se reuniram algumas delas.
Em 1 de Maio deste ano, um grupo apaniguado criou um blogue sobre a História do SCC que tem dado brado.
E é neste contexto que conseguimos trazer à memória figuras que deram muita alegria à cidade, em domingos de futebol.
Não conseguimos que Bento Couceiro, antigo atleta serrano, que veio do Sporting, dos tempos áureos da antiga Primeira Divisão, por razões várias, estivesse connosco nas datas assinaláveis, já referidas, pelo que a força de vontade levou-nos até Gouveia, e almoçámos com Couceiro.
Recordámos jogos, participações, golos marcados pelo Couceiro.
Proporcionaram-se abraços, pelo telemóvel, dos antigos colegas, Manteigueiro, Coureles, Palmeiro Antunes e Suarez.
Ele que foi uma excelente pedra na defesa do SCC, chegando a ajudar o clube, como treinador, mormente nos juniores.
Em Gouveia, onde se radicou, foi treinador nas épocas de1963 a 1970.
Treinou ali jogadores que haviam acabado os contratos com o SCC, nomeadamente, Maçarico, Nogueira, Batista, Lanzinha, Nicolau, Amílcar, Leite, e o célebre Matateu, do Belenenses.
Aos 77 anos, lá está Bento Couceiro, vivendo os seus dias, numa Terra que o acolheu de bom grado.
Juntou-se a nós o chefe de redacção do Notícias de Gouveia, Paulo Prata, que nos tirou a foto, a qual agradecemos.


(In “Tribuna Desportiva”, de 08/09/2009 e “Notícias da Covilhã”, de 10/09/2009)

3 de setembro de 2009

INTOLERÂNCIA À TOLERÂNCIA

Agosto quente não deu oportunidade a uma fluidez mental para uma crónica menos esforçada.
Numa breve semana de férias, estivemos no norte com o amigo Fernando Pedrosa que serviu para colocar em dia o desenferrujar da língua sobre os tempos passados na Covilhã, que não deixa de recordar. Os dois casais mostraram o rol de emoções duma amizade antiga.
A gripe A continua a ganhar terreno e não vemos grandes preocupações da população, numa passividade a que já nos vamos habituando. Se há cinquenta e dois anos a gripe asiática também nos veio bater à porta (fui um dos atingidos), deveria, previamente, não se consentir, à velocidade com que esta epidemia se desenrola, a tolerância incutida por muitos indiferentes à situação.
O mundo avança vertiginosamente nos meios tecnológicos. Já não toleramos o que chegou a ser inovação nos nossos tempos – os mais de sessenta anos. Vejamos, por exemplo, as páginas das listas telefónicas, onde cabia um país inteiro, substituídas pela Internet e telemóveis; cassetes VHS que revolucionaram o cinema em casa, substituída pela Internet e os downloads; a televisão, quando nem havia comando, surgida em Portugal no ano da gripe asiática, substituída por plasmas e LCD, com imagens de alta definição; a luta entre o papel e o digital, com a crescente digitalização do mundo, alguns suportes mais antigos a serem ameaçados de morte. Não raras vezes o livro e o jornal são dados como mortos; a máquina de escrever, dactilografando ao som das teclas, que chegou a ser a imagem emblemática de alguns escritores, a ser substituída pelo computador; o telefone, sem fio era impossível falar e as cabines telefónicas já quase desapareceram, por oposição à crescente massificação dos telemóveis; bilhete de avião, sem papel não se voava, foi substituído pelo electrónico; tanque da roupa, até se convivia na hora de lavar a roupa à mão. Acabaram os lavadouros públicos. Surgiu a máquina de lavar roupa; disquete, trouxe o primeiro vírus, substituída pelas pens, CD e DVD. Um registo inserido no Diário de Notícias.
E a modernidade, pula e avança. Já não é estranho falar de twitter, facebook, you tube, google, GPS, wikipédia, e-mail; ipphone, playstation.
Nesta silly season, à beira de eleições, continua a ser um país au ralanti. Promessas, muitas promessas. Como nas palavras de Batista Bastos, é preciso haver memória contra o esquecimento.
Conforme refere Francisco Sarsfield Cabral, depois da crise global está a nossa crise. “Começou a recuperação económica mas a recessão deixará profundas cicatrizes”. “Tudo indica que a recuperação económica mundial será difícil, lenta e irregular, e o crédito fácil não voltará tão cedo”. “A nossa crise, que nos tolhe o crescimento económico, nos endivida perante o estrangeiro e nos empobrece, tem pelo menos uma década”. “O fim da crise global, a concretizar-se, não resolver os nossos problemas estruturais”.
Quem não tolerou o record mundial, no atletismo, foi o jamaicano Usain Bolt, cujo feito ficará para a eternidade, ao atingir o patamar do inimitável nos campeonatos mundiais de atletismo.
Não aspiramos a ser assim tão bons. Depois de três décadas após o 25 de Abril, as esperanças de todos vivermos bem estão longe de serem atingidas.
Enquanto houver diferenças abissais nos desideratos de cada um de nós, independentemente do esforço individual ou colectivo, não vamos a lado nenhum.
E a vontade implícita de cada português, no seu trabalho, vai sendo esbatida pelos exemplos que vêm dos próprios governantes, independentemente das cores partidárias.
São sobejamente conhecidos os casos de corrupção, e cada vez mais nos surpreendem, pelo menos aos honestos.
Efectivamente, o País sofre, o País tem os bolsos rotos, mas há muita gentinha com bolsinhas de prata e carteiras de excelente couro para guardar os muitos cartões bancários.
Por cá também vamos ter eleições. Não vamos discuti-las, tanto mais que, pelo trabalho feito, Carlos Pinto já ganhou as eleições. Nem precisa de cartazes.
A cidade pinga de obras a inaugurar.
Mas também há tolerâncias intoleráveis. Vejamos os almoços a um euro que o Município despende, há vários meses, com os portadores do cartão social do idoso. Acreditamos que não estaria no espírito da edilidade a sua extensão global, independentemente do rendimento de cada um, mas tão só aos mais necessitados, e, se foi essa a intenção, vai o nosso apreço. Mas sabemos que não é assim, e, pior que isso, é ver todos os dias, antes das dez horas, um grupo de utilizadores, sentados no muro em frente à ADC, não retirando pé, para serem os primeiros a ser servidos.
Isto extravasa a tolerância e, de intolerância, chega antes à ganância.

(In Notícias da Covilhã de 03/09/2009)