Júlio César, Conde D. Julião, D. Rodrigo e a formosíssima Florinda – a CAVA – nome atribuído pelos mouros, são referências sobre a origem desta cidade laneira, fundada, segundo uns, no ano 41 antes de Cristo.
Na opinião de outros, a sua fundação remontará durante a dominação romana na Lusitânia, pelos anos 202 antes de Cristo a 409 depois de Cristo, na Costa dos Hermínios (Serra da Estrela).
Aqui foram lançados os fundamentos de muitas povoações em volta do Hermínio maior, a fim de atrair para as planícies os sucessores dos Celtas que, a exemplo de Viriato, resistiam com tenacidade à dominação romana.
Terá sido na planície – zona de Mártir-In-Colo – que a Covilhã surgira, com o nome de Sila Ermia ou Hermínia, origem, talvez, do nome dum dos famosos generais romanos – Silius, ignorando-se então as modificações que terá tido Sila Ermia.
Consta que nascera nesta terra, pelos anos 692, a formosíssima Florinda, filha do Conde Julião, que foi violada por D. Rodrigo, último rei godo.
D. Julião, pai de Florinda, prometeu vingar-se e abriu as portas aos mouros que tomaram a região e passaram a chamar CAVA (mulher perdida) a Florinda.
O povo, juntando o nome de CAVA a JULIANA, deu origem a CAVA JULIANA ou COVALLIANA e, com a evolução dos tempos, COVELIANA, COVILIANA, COVILLÃ, COVILHAN e COVILHÃ.
É esta terra ancestral capital portuguesa da indústria de lanifícios que sempre marcou presença activa no País, ao longo dos tempos.
Cidade laneira, com Homens da rija têmpera de Viriato, puseram em relevo sua acção, nos vários domínios, desde a literatura à arte, à ciência, ao trabalho e até ao martírio: Pêro da Covilhã, Frei Heitor Pinto, Francisco Álvares, Mateus Fernandes, Eduardo Malta, Morais do Convento, José Maria Veiga da Silva Campos Melo, entre outros.
São figuras muito importantes da Covilhã. Ultrapassando o centenário como Cidade (vai comemorar 140 anos no dia 20 de Outubro), mas milenária como Terra de trabalho e luta; importantes são também os trabalhadores e empresários covilhanenses que têm conhecido, aos longo dos tempos, dias difíceis, de grande sacrifício durante as várias crises que surgiram.
No entanto, estão empenhados num trabalho árduo mas eficiente que fez singrar para a ribalta europeia, empresas da cidade (muitas delas já extintas), salientando-se actualmente a grande empresa de lanifícios Paulo de Oliveira, Lda.
Da Covilhã medieval, fabricante de burel, à Covilhã de hoje, produtora dos mais finos tecidos de lã, há uma obra admirável, cimentada por sucessivas gerações de gente laboriosa e empreendedora.
Em Portugal, outra indústria não há que possa competir em antiguidade com a de lanifícios.
No entanto, as graves crises por que passamos, fizeram dissipar do mapa covilhanense e da sua região, centenas de fábricas, levando um formigueiro humano para o desemprego.
Ainda há poucos anos existia a 1.ª Fábrica Real, fundada por D. Pedro II, denominada Fábrica Velha, tendo pertencido à firma Campos Mello & Irmão. Sofreu várias remodelações ao longo do tempo, e até um incêndio, tendo sido fundada entre 1671 e 1681. Fora adquirida por José Maria Veiga da Silva Campos Melo, de ideias republicanas, em 1835.
Através da inteligência e preponderante acção deste Homem, criou condições sociais para os trabalhadores e, no plano cultural, fundou a Biblioteca Heitor Pinto, tendo sido a primeira biblioteca pública aberta fora de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora.
José Maria Veiga Campos Melo aproveitou a oportunidade de ter como colega do colégio, em Lisboa, António Augusto de Aguiar, que era então Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, para que fosse fundada, em 3 de Janeiro de 1884 aquela que foi a primeira escola industrial do País, que viria a designar-se Escola Industrial e Comercial Campos Melo.
A 2.ª Fábrica Real/Fábrica Nova ou Real Fábrica de Panos, para a distinguir da Fábrica Velha, foi fundada pelo Marquês de Pombal, após a construção do edifício pombalino, em 1755.
As suas raízes ainda hoje existem. Os edifícios encontram-se completamente remodelados, pois existiram ali o Quartel de Infantaria 21 e, mais tarde, o Batalhão de Caçadores 2, sendo actualmente património, com instalações de excelência, da Universidade da Beira Interior, a qual se encontra ramificada por vários pólos e pela Faculdade de Medicina.
Esta “fábrica do ensino”, conforme referi no meu último texto, veio dar um grande contributo para absorção de muita gente que, em termos normais, poderia ocupar as fábricas de lanifícios, se a crise não fizesse desaparecer as mesmas.
A Universidade trouxe à Covilhã e Região avanços tecnológicos que são notórios nas várias empresas. Foram estabelecidos protocolos de cooperação com empresas da região, em estágios de obrigação curricular, sendo uma das principais vias de acesso ao mercado de trabalho para jovens que terminam o curso.
A Covilhã, “Cidade-Granja, Cidade Fábrica”, como lhe chamou Manuel Nunes Giraldes, é uma cidade de passado histórico invejável. Possui vários museus, entre os quais o Museu dos Lanifícios, na UBI.
Além das fábricas que outrora existiram em grande número, como a parte cultural (Escola Industrial, Biblioteca, UBI, associações culturais, com o maior número de agentes culturais do distrito de Castelo Branco), são o baluarte da Cidade-Lã.
O seu turismo, com um grande esforço para o seu aproveitamento, integra a Região de Turismo da Serra da Estrela, com sede na Covilhã, como o são outras organizações de âmbito nacional, caso do Clube Nacional de Montanhismo.
Com a Serra-Rainha junto de si, e em colaboração com o Parque Nacional da Serra da Estela é, e pode reforçar, a entrada para a grande montanha. Para isso, já existem muitas condições hoteleiras na Covilhã e região, de excelente qualidade e requinte. Já abriu o ano passado mas foi inaugurado este ano, um Hotel de excelência, na zona termal de Unhais da Serra.
Os visitantes, e não só, podem praticar os desportos de Inverno no maciço central, e não só, com a neve como atractivo, e, no Verão, o campismo de altitude e escaladas nas escarpas dos Cântaros, além de usufruírem de sossego paradisíaco de algumas zonas de montanha.
Motivado pelas excelentes condições de montanha, foi aqui que a Selecção Nacional iniciou a sua preparação para o Mundial 2010. E outras colectividades da I Liga já optaram também por esta região.
A Covilhã deixou de ter o inimigo natural – a sua interioridade – face a ter sido construída a auto-estrada A23. Necessita, contudo, duma outra com destino a Coimbra.
O visitante pode deslocar-se à Covilhã, e, aproveitando o ar puro da montanha, na sua deslocação à Serra da Estrela, apreciar a cozinha regional e deliciar-se com a sua paisagem, através dos vários miradouros, embora já quase não possa visitar fábricas de lanifícios, face aos seus muitos encerramentos, mas admirar as ribeiras, a cultura da sua região e as inovações, com praias fluviais e outros melhoramentos implantados por todo o concelho.
Na parte desportiva, existe a prática de várias modalidades, como o basquetebol, voleibol, futebol de salão, integrando alguns clubes os campeonatos nacionais, com destaque para o desporto-rei, através do seu maior representante – o Sporting Clube da Covilhã.
E, porque a pena com que redijo estas linhas se esquece do tempo e do espaço, fico por aqui, embora muito mais houvesse a dizer sobre a “Manchester Lusitana”.
(In Jornal “O Olhanense”, de 01 de Setembro 2010)