31 de agosto de 2011

“OS BONS MALANDROS”


Não, não é o livro de Mário Zambujal, escritor que muito admiro de longa data; mas, inspirado pela sua veia literária, surgiu-me o tema para esta crónica, após uma breve semana de férias, cujo Verão foi pouco “silly season”.

A geração actual depara-se com uma montanha de problemas, jamais sonhada pelos avós, levando uns quantos jovens, e não só, ao desespero e a enveredar por caminhos ínvios dos quais não se conseguem libertar.

Mas já não são só os da década dos anos dez em que agora estamos que vêem as nuvens negras no pouco espaço laboral que lhes resta, são também as gerações precedentes que aspiravam ao desafogo de uma vida continuada de trabalho para a satisfação normal das suas necessidades básicas, a verem uma travagem forçada na continuidade depois de muitos anos de serviço, mas ainda o não suficiente para as suas reformas.

Os ventos da história trouxeram-nos exemplos de coragem dos portugueses; no enfrentar de grandes dificuldades, desde batalhas, invasões napoleónicas, perda da nacionalidade, governação filipina espanhola; contra toda uma malandragem.

E, até no pós-descobertas, somos confrontados com a doença do medo do nosso rei, fundador da cidade da Covilhã, e levamos com o Ultimato Inglês mas mantemos a Aliança Inglesa. 

Aquilo que se tem passado na Europa, como foi em França com protestos nefastos, e agora no país da rainha mais antiga e rica do mundo, são exemplos de malandros a soldo, não sei com que interesses, quando se fala de jovens e adolescentes na luta. Também o que se passou na Finlândia, país pacífico, foi um acto horrendo de um grande malandro.

E, no ano em que se comemoram tantos eventos, mesmo em período de férias, não se pode olvidar uma certa Primavera muçulmana contra os malandros dos conhecidos déspotas, líderes dos seus povos, como Kadhafi (Líbia),  Mubarak (Egipto), ou Assad (Síria). 

Mas, com novos senhores do mundo, vivemos momentos dramáticos – “erros nossos, má fortuna, ganância alheia” –, com uma dívida pública, a mais elevada dos últimos 150 anos, igual ao PIB, e a dívida externa a maior dos últimos 120 anos.

Neste cheiro a Verão com vento de crise, muitas famílias encontram-se sobreendividadas, mas, paradoxalmente, há uns quantos “malandros”, como administradores de capitais públicos a receberem de indemnizações por despedimentos o mesmo que um trabalhador com o salário mínimo receberia se trabalhasse 265 anos!!!

E num Portugal que terá mais de 900 mil pessoas sem trabalho no final deste ano! Comentários para quê? É pior que o “Muro da Vergonha” que neste mês completou 50 anos que começou a ser construído (Muro de Berlim), felizmente já destruído.

Todos os governos são vistos com os seus “colaboradores” como tendo sempre alguns “malandros”, e, por mais que o não desejássemos, somos confrontados, por vários meios, incluindo a Internet, de informação do recebimento de elevadas somas por isto e por aquilo, de avultadas quantias ilícitas, ordenados/subsídios/compensações; de elevados montantes por cada reunião a que assistem, e um rol de situações de conseguirem “dar a volta ao ceguinho”, que brada aos céus. E vêm para as televisões explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários… São todos sobejamente conhecidos… e não têm vergonha na cara, como dizem os brasileiros.

O actual governo também já tem cumplicidade de muitos dos seus apaniguados, com os bolsos bem servidos, e o que esperamos é que não se alonguem muito no desejo do vil metal, e que não passem para além de “bons malandros”.

Não queremos ser Velhos do Restelo, e, por isso, uma palavra de grande apreço e esperança pelo grande encontro em Madrid, dos milhares de jovens, incluindo portugueses e alguns covilhanenses, que ali estiveram com o Papa Bento XVI, neste mês de Agosto, na Jornada Mundial da Juventude, sintoma de que há que contar com eles; muitos, prontos já para ligarem o “turbo” para as suas vidas.

(In Notícias da Covilhã, de 31.08.2011)

18 de agosto de 2011

Na 73ª. Volta a Portugal em Bicicleta – 11ª Etapa Aveiro – Castelo Branco, no dia 11 de Agosto de 2011


A patrocinadora da Volta – Liberty Seguros – com o seu embaixador Cândido Barbosa


João de Jesus Nunes, Directores da Liberty Seguros, Gerente, Gestores de Negócios

e Gestoras de Clientes dos Espaços de Castelo Branco e Covilhã, e muitos Colegas de profissão desde Covilhã, Fundão, Castelo Branco e Sertã.


O entusiasmo da Liberty na Volta e o facebook.com/EuRespeitoaEstrada













QUE ENSINO EM PORTUGAL?

Posto Escolar Masculino da Borralheira - 1938-1940

Depois do rumo que o País tem levado em termos de cultura, fundado pelo iletrado mas aguerrido, vitorioso e espertíssimo D. Afonso Henriques, para uns, mas que sabia escrever e endereçou cartas ao Papa Inocêncio II, para outros, o que é certo e verdade é que, volvidos quase 868 anos sobre a independência de Portugal, e 900 anos sobre o nascimento do primeiro rei português, há que repensar o caminho menos certo no âmbito do ensino.

O facilitismo das “Novas Oportunidades” em que se conclui, num ápice, o 9.º e o 12.º ano, muitas vezes copiando tudo da Internet, em vez de se pesquisar e ir impregnando as pesquisas, com termos próprios e não plagiados, no âmbito dos conhecimentos adquiridos, é um exemplo de como o rei vai nu.

Mas a mesma permissividade encontra-se, de quando em vez, na obtenção de certas licenciaturas (com exames aos domingos…), mormente nos momentos políticos da sociedade de hoje. É um atentado sobre a real cultura em Portugal. Para altos cargos políticos, quem não for “doutor” fica incomodado, e, assim, vemos diplomas de licenciados a cair do céu.

A antiga 4.ª classe, o antigo 5.º ano liceal ou os equiparados cursos comerciais ou técnicos, dos anos 50 e 60 do século passado, eram um autêntico alfobre de conhecimentos, com as exigências nesse ensino, contrastando com o laxismo de hoje, em que se chega ao cúmulo de obrigar a passar um aluno que deveria ser reprovado!

Mas nos tempos actuais o que é preciso é reduzir o índice de iletrados de qualquer maneira, e manter um aparente valor percentual elevado em literacia, aos olhos dos europeus.

Voltei a consultar o livro da covilhanense Dr.ª Adélia Mineiro – “Valores e Ensino no Estado Novo, Análise dos Livros Únicos” – e, ainda que numa certa nostalgia da minha aprendizagem nos tempos d’outrora, não aceitando contudo as correntes da ditadura, voltei a ficar deslumbrado com a forma simples, esclarecedora e cronológica como apresentou a vivência dum tempo de ensino sem liberdade, e no séquito das intenções salazaristas nomeadamente no que á mulher dizia respeito.

Vale a pena ler este livro, para recordar o passado e verificar que, infelizmente, quando se esperava que volvidos 37 anos do 25 de Abril, a cultura tivesse levado um forte avanço, constatamos, afinal, ainda muitas lacunas.

Segue um exemplo de como eram as dificuldades do ensino nas décadas de 30 a 60 do século passado, com os professores auferindo vencimentos muito reduzidos. Empenhavam-se fortemente e com alma, no exercício duma actividade que adoravam, duma verdadeira vocação. José Martins Nunes, se fosse vivo completaria um século em Dezembro próximo. Ainda hoje, alguns seus antigos alunos recordam os tempos em que ele foi seu professor, quer pela via do ensino oficial quer particular, em cursos diurnos e nocturnos, na Casa do Povo do Bairro do Rodrigo, iniciando em 07/01/1938, depois no Posto Escolar Masculino da Borralheira, então recentemente criado, assim como em comissões de serviço, na Escola Central Masculina da Covilhã, em 1944; no ano seguinte em Aldeia do Carvalho (alguns seus alunos da Escola da Borralheira, das zonas da Pousadinha e Lameirão quiseram assistir ali às suas aulas), para de 1945 a 1948 ter sido colocado em Casegas. Aqui foi professor da 4.ª classe de três alunos que vieram a ser padres, entre os quais o antigo director do Notícias da Covilhã, Dr. José de Almeida Geraldes, assim como dos que vieram a ser jesuítas – José Gaspar Pires e António Costa e Silva.

Professor Martins Nunes com os alunos - 1938-1940

Como professor, terminaria a sua carreira em 1948/1949, na Borralheira (Covilhã), onde aqui, quando foi nomeado e iniciou as suas funções, não havia sala para a aula, nem carteiras para os alunos se sentarem, nem material didáctico nenhum, tendo ele que tratar de tudo, ficando o pagamento da renda da escola à sua responsabilidade, com o auxílio dos alunos.

Face a esta vida martirizada, de enormes sacrifícios, pediu a exoneração em 1/10/1949.

Durante muitos anos, até à sua aposentação, passou a desempenhar funções na antiga biblioteca municipal. Sempre com o gosto pelo ensino, veio a obter autorização para leccionar cursos nas suas horas livres, regendo um curso de adultos da Empresa Transformadora de Lãs, na Escola Central da Covilhã, durante três anos; e, por último, o Curso de Educação de Adultos na Cadeia Comarcã da Covilhã, durante doze anos, criado propositadamente para si.

Posto Escolar da Borralheira, em dia de festa da Escola, na mesma época da anterior
(In Notícias da Covilhã, de 18.08.2011)