18 de agosto de 2011

QUE ENSINO EM PORTUGAL?

Posto Escolar Masculino da Borralheira - 1938-1940

Depois do rumo que o País tem levado em termos de cultura, fundado pelo iletrado mas aguerrido, vitorioso e espertíssimo D. Afonso Henriques, para uns, mas que sabia escrever e endereçou cartas ao Papa Inocêncio II, para outros, o que é certo e verdade é que, volvidos quase 868 anos sobre a independência de Portugal, e 900 anos sobre o nascimento do primeiro rei português, há que repensar o caminho menos certo no âmbito do ensino.

O facilitismo das “Novas Oportunidades” em que se conclui, num ápice, o 9.º e o 12.º ano, muitas vezes copiando tudo da Internet, em vez de se pesquisar e ir impregnando as pesquisas, com termos próprios e não plagiados, no âmbito dos conhecimentos adquiridos, é um exemplo de como o rei vai nu.

Mas a mesma permissividade encontra-se, de quando em vez, na obtenção de certas licenciaturas (com exames aos domingos…), mormente nos momentos políticos da sociedade de hoje. É um atentado sobre a real cultura em Portugal. Para altos cargos políticos, quem não for “doutor” fica incomodado, e, assim, vemos diplomas de licenciados a cair do céu.

A antiga 4.ª classe, o antigo 5.º ano liceal ou os equiparados cursos comerciais ou técnicos, dos anos 50 e 60 do século passado, eram um autêntico alfobre de conhecimentos, com as exigências nesse ensino, contrastando com o laxismo de hoje, em que se chega ao cúmulo de obrigar a passar um aluno que deveria ser reprovado!

Mas nos tempos actuais o que é preciso é reduzir o índice de iletrados de qualquer maneira, e manter um aparente valor percentual elevado em literacia, aos olhos dos europeus.

Voltei a consultar o livro da covilhanense Dr.ª Adélia Mineiro – “Valores e Ensino no Estado Novo, Análise dos Livros Únicos” – e, ainda que numa certa nostalgia da minha aprendizagem nos tempos d’outrora, não aceitando contudo as correntes da ditadura, voltei a ficar deslumbrado com a forma simples, esclarecedora e cronológica como apresentou a vivência dum tempo de ensino sem liberdade, e no séquito das intenções salazaristas nomeadamente no que á mulher dizia respeito.

Vale a pena ler este livro, para recordar o passado e verificar que, infelizmente, quando se esperava que volvidos 37 anos do 25 de Abril, a cultura tivesse levado um forte avanço, constatamos, afinal, ainda muitas lacunas.

Segue um exemplo de como eram as dificuldades do ensino nas décadas de 30 a 60 do século passado, com os professores auferindo vencimentos muito reduzidos. Empenhavam-se fortemente e com alma, no exercício duma actividade que adoravam, duma verdadeira vocação. José Martins Nunes, se fosse vivo completaria um século em Dezembro próximo. Ainda hoje, alguns seus antigos alunos recordam os tempos em que ele foi seu professor, quer pela via do ensino oficial quer particular, em cursos diurnos e nocturnos, na Casa do Povo do Bairro do Rodrigo, iniciando em 07/01/1938, depois no Posto Escolar Masculino da Borralheira, então recentemente criado, assim como em comissões de serviço, na Escola Central Masculina da Covilhã, em 1944; no ano seguinte em Aldeia do Carvalho (alguns seus alunos da Escola da Borralheira, das zonas da Pousadinha e Lameirão quiseram assistir ali às suas aulas), para de 1945 a 1948 ter sido colocado em Casegas. Aqui foi professor da 4.ª classe de três alunos que vieram a ser padres, entre os quais o antigo director do Notícias da Covilhã, Dr. José de Almeida Geraldes, assim como dos que vieram a ser jesuítas – José Gaspar Pires e António Costa e Silva.

Professor Martins Nunes com os alunos - 1938-1940

Como professor, terminaria a sua carreira em 1948/1949, na Borralheira (Covilhã), onde aqui, quando foi nomeado e iniciou as suas funções, não havia sala para a aula, nem carteiras para os alunos se sentarem, nem material didáctico nenhum, tendo ele que tratar de tudo, ficando o pagamento da renda da escola à sua responsabilidade, com o auxílio dos alunos.

Face a esta vida martirizada, de enormes sacrifícios, pediu a exoneração em 1/10/1949.

Durante muitos anos, até à sua aposentação, passou a desempenhar funções na antiga biblioteca municipal. Sempre com o gosto pelo ensino, veio a obter autorização para leccionar cursos nas suas horas livres, regendo um curso de adultos da Empresa Transformadora de Lãs, na Escola Central da Covilhã, durante três anos; e, por último, o Curso de Educação de Adultos na Cadeia Comarcã da Covilhã, durante doze anos, criado propositadamente para si.

Posto Escolar da Borralheira, em dia de festa da Escola, na mesma época da anterior
(In Notícias da Covilhã, de 18.08.2011)

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