No alvorecer do ano findo, o covilhanense Paulo Pimentel, radicado no Brasil, convidou os seus conterrâneos a levar o ano a rir, com a apresentação do seu primeiro livro, cheio de histórias engraçadas, geradas no humor citadino de figuras que, algumas, já desapareceram desta terra laneira de então, universitária de hoje.
Era então de risos, e de muitos sorrisos, que vínhamos a necessitar, qual lenitivo para as angústias de um ano inteiro.
Depois, foi a continuidade de um manancial de várias vertentes da cultura, com expoentes elevados em muitos campos do conhecimento, dos costumes, da música, da arte sacra e não só, e da educação, na urbe, que constituem a herança da nossa comunidade.
E, esta laboriosa Cidade, sofredora como o País inteiro, pelos quatro pontos cardeais do seu rectângulo, soube atrair a si vários cafés literários, acções culturais de vária índole, com eventos muito interessantes, fazendo elevar a nossa auto-estima, abalada por muitos nababos da política portuguesa.
Recentemente, mas ainda em 2011, tive o prazer de acolher na Covilhã um antigo colega de profissão, viajante de quatro costados pelos cinco continentes –Vasco Callixto – que, neste ano findo, apresentou o seu quinquagésimo livro sobre viagens, e, no momento em que redigia esta crónica, via passar na RTP, em rodapé, o anúncio da apresentação de “50 Anos de Viagens”, na Casa da América Latina, em Lisboa.
Mas, no crepúsculo de 2011, um outro covilhanense, João Morgado, quis brindar-nos com o seu livro de contos – “Meio-Rico” – que fez memorizar os tempos de outrora.
Eram tempos sem tecnologias, sem penumbra de maleitas da desgovernação dos dias de hoje.
Eram também tempos de pobreza mas não havia, como hoje, a abastança descontrolada de muitos dos aflitos de agora, conducentes a um país dependente de auxílios, nos caminhos da indigência.
Vemos a cidade a acolher estes acontecimentos culturais, fora das paredes de pompa e circunstância dos Paços do Concelho.
E, assim, no peculiar da sua hospitalidade, e no que já vai sendo um hábito, foi o Café Jardim que proporcionou mais uma tarde cultural, bem expressa nas palavras do seu proprietário, Joaquim Almeida, orgulhoso de mais este evento.
Mas João Morgado trouxe à memória, nalguns contos inseridos no seu livro, a vivência de outrora, em aspectos como, por exemplo, o comércio tradicional de então. Nesses tempos ainda não tinham surgido as grandes superfícies nem entidades públicas como a ASAE.
Havia a mercearia da aldeia ou da cidade, onde se vendia de tudo, desde o açúcar e da manteiga, ao peso; do bacalhau, cortado por meio de uma faca fixa no balcão; do azeite, vendido ao litro; do petróleo, para os candeeiros e fogareiros a petróleo… como também do sabão rosa e sabão amarelo, vendidos em barras e ao quilo; mercadoria e produtos pesados nas balanças Avery; e do “sabão macaco”…
Li o livro, de fio a pavio, e, em 2011 já no ocaso, prenúncio de um 2012 de maus augúrios, recordei a mercearia de José Soares Cruto, na Rua dos Combatentes da Grande Guerra, já desaparecida, um dos estabelecimentos que servia uma grande clientela da zona, onde também se vendiam louças de alumínio, e era local de conversa de muitos amigos do seu proprietário, que sabia acolher as pessoas, assim como o seu humilde e simpático empregado, José Simões. O Padre Nabais era um desses amigos, assim como o Belmiro, da Subdelegação de Saúde; e Filipe Roberto e Runa, então funcionários dos SMC. Pela Páscoa também se vendiam as amêndoas, e, pelo Natal, os chocolates alusivos, quase sempre os mesmos tipos, geralmente bonecos, ou tabletes.
E, assim, assistimos à apresentação de mais um livro, escrito ainda sem as regras do novo acordo ortográfico.
Já não nos chegavam os grandes problemas económicos que se agigantam para 2012, quanto mais a obrigatoriedade do novo acordo ortográfico, que me desculpe o amigo professor Malaca Casteleiro.
Mas tenhamos fé, esperança e uma inabalável garra de dar a volta ao texto, e na denúncia perene dos malfeitores.
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