20 de março de 2013

DO “FIM DO MUNDO”


Depois de alguma ansiedade até se conhecer o sucessor papal no elo a São Pedro, eis que surge, sem grande assombro, um homem do sul, dos confins do globo.
O novo sucessor de Pedro, como todos já conhecem, é Jorge Mário Bergoglio, septuagenário, Bispo de Buenos Aires. Um Papa de várias estreias: o primeiro sul-americano, o primeiro a adotar o nome Francisco, o primeiro jesuíta e o primeiro a rezar com o povo no momento em que se apresentou na varanda da Basílica de São Pedro.
O primeiro Papa, prometido o Primado por Jesus, entre os anos 33 a 67, foi S. Pedro, a quem Jesus mudou o nome, de Simão para Cefas (que quer dizer pedra): “Tu és pedra (Pedro, na tradução) e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Acabaria por ser morto na perseguição de Nero.
A escolha do nome Francisco, pelo novo Papa, argentino, contrariando as usuais opções por cardeais europeus, surpreendeu porquanto nenhum Papa o havia feito, presumindo-se a sua ligação à figura de S. Francisco de Assis ou mesmo S. Francisco Xavier.
Excetuando São Pedro, acontece que, até ao sexto século, todos os Papas usaram o seu nome de batismo (S. Lino, Santo Anacleto, S. Clemente, S.to Evaristo, S.to Alexandre, S. Sisto I, S. Telésforo, S. Higino e S. Pio I, integraram, por esta ordem, os primeiros dez Papas, até aos anos 155).
O primeiro Papa a mudar o seu nome de batismo, depois de S. Pedro, foi Mercúrio, no ano 533, que adotou o nome de João II, pelo facto de achar impróprio ter o nome de um deus pagão num representante de Cristo. O hábito foi intermitente daí em diante, mas, no ano 955, João XII tomou este nome em substituição do seu de batismo – Otaviano. O mesmo faria João XIV, no ano 983, dado que chamando-se Pedro, se julgou indigno do nome do Apóstolo, embora não exista qualquer proibição de os Papas adotarem o nome de Pedro. Apenas uma simples tradição mantida como sinal de respeito.
A mudança de nome só começaria a vigorar a partir de Bento VIII (de nome Teofilato), no ano 1012. Suceder-lhe-ia seu irmão, João XIX.
Portugal já teve um Papa em Roma – João XXI – , o qual apenas presidiu ao governo da Igreja durante escassos oito meses, de 15 de setembro de 1276 a 20 de maio de 1277. Era natural de Lisboa e chamava-se Pedro Julião, mas mais conhecido por toda a Europa culta por Pedro Hispano. Viria a ter uma morte trágica, vítima de um desmoronamento duma estância por ele mandado construir em Viterbo. Ficou sepultado na catedral da cidade.
Mesmo assim, houve outros Papas com Pontificados mais breves. Muitos de nós ainda se recordam de João Paulo I, no ano 1978, que durou somente 33 dias. Chamavam-lhe o Papa do sorriso. Mas o Papa com a mais curta duração foi Estêvão II, de seu nome Zacarias (quatro dias), no ano 752, que, face à sua morte repentina, sem ter ainda recebido a consecratio, não chegou a ser admitido oficialmente como Papa, sucedendo-lhe, com o mesmo nome de Estêvão II, um outro Papa.
Mas também o Sumo Pontífice nomeado com mais longevidade foi Santo Agastão, no ano 678, já com a provecta idade de 103 anos, embora lúcido (qual nosso cineasta Manuel Oliveira…), cujo pontificado ainda duraria três anos, falecendo em 10 de janeiro de 681, com a idade de 107 anos. Foi talvez vítima da peste que grassava nessa altura em Roma, ocasionando grande mortalidade como não houve memória de outra igual sobre o governo de nenhum outro Papa. Eram famílias inteiras (pais e filhos, irmãos e irmãs) a serem sepultados juntamente, despovoando campos e aldeias.
Dentre várias particularidade dos 266 Papas, desde São Pedro, até Francisco I, há uma riqueza de iniciativas ou inovações, como, por exemplo, foi o Papa Bonifácio IV que viveu nos anos 608-615 que, no dia 1 de novembro de 609 transformou o Panteão dos deuses pagãos, em Roma, em templo dedicado à Santíssima Virgem e a todos os mártires. Surgiu assim a festa de “Todos os Santos”. E Urbano IV, que exerceu o seu papado de 1261 a 1264, instituiu a festa do “Corpo de Deus”, em 1264.
Depois do mundo perfilar o novo Papa, pós Bento XVI, este que não caíra nas simpatias de muita gente, eis que surge um Papa de grande esperança, como o fora João Paulo I, o Papa do sorriso que começou a revolucionar e só durou 33 dias, para, depois, surgir o inesquecível João Paulo II, adorado por todo o Mundo. Esperemos que Francisco I, ou só Francisco, venha devolver a esperança a tantos corações amargurados com esta crise europeia e mormente nas gentes portuguesas.

(In "Notícias da Covilhã", de 20.03.2013)

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