2 de maio de 2013

AO REDOR DE UMA VIAGEM DE SALAZAR


Corria o ano da graça de 1934. A Primeira Grande Guerra havia terminado há dezasseis anos.
O Presidente da República era o General Óscar Carmona. E D. Manuel II, o último rei de Portugal, exilado, havia falecido há quase dois anos. Após a entrada em vigor da Constituição de 1933, realizaram-se eleições para os 90 deputados da nova Assembleia Nacional, em 16 de dezembro de 1934, às quais só concorreu a União Nacional, rejeitando participar a oposição. O slogan destas eleições foram na base de “quem votar, vota pela Nação; quem não votar, vota contra a Nação”.
Longe estaria de se pensar que, na corrida do tempo, escondido na voragem da decisão dos dirigentes mundiais, se ia reduzindo o tempo de sobra (cinco anos), para uma Segunda Grande Guerra, que haveria de ser o conflito mais letal da história da humanidade, eliminando barbaramente a vida de milhões de seres deste planeta Terra.
António de Oliveira Salazar, natural do Vimieiro, Santa Comba Dão, estando prestes a fazer 45 anos, desloca-se à Serra da Estrela, plena de neve, naquele abril frio de uma terça-feira, dia 3, a faltarem 25 dias para o seu aniversário natalício.
Salazar, Presidente do Ministério e, depois, do Conselho de Ministros, estava nestas funções há dois anos. E havia dito na sua tomada de posse, “Sei muito bem o que quero e para onde vou”, nos seus princípios conservadores e autoritários da trilogia “Deus, Pátria e Família”. Hoje, com menos acerto e longe da ironia, também o Presidente da República, Cavaco Silva, surgiu com a cantilena do “Nunca tenho dúvidas e raramente me engano”.
Salazar, o homem que conduziu os destinos de Portugal durante 36 anos, embora vivendo grande parte da sua vida em Lisboa, nunca se desvinculou das origens, pelo que, no Natal e nas férias grandes, se deslocava algumas vezes por terras beirãs.
Então, naquele ano de 1934, já com uma governação ditatorial, a 18 de janeiro foi o dia em que Salazar tremeu, com a greve geral insurrecional para o derrubar.
Neste mesmo ano, e conforme já referido, Salazar deslocou-se de visita à Serra da Estrela, coberta de neve, não passando das Penhas da Saúde, numa altura em que tudo faltava para o aproveitamento turístico da mesma. Viajava absolutamente incógnito quando, atravessando de automóvel a cidade da Covilhã, pelas 14 horas, com a comitiva de amigos, fôra reconhecido, no centro da cidade, do automóvel onde seguia, quando alguém perguntava qual o caminho para a Serra da Estrela.
Correndo depressa a notícia, os membros da Comissão de Turismo, sem mais delongas, João Alves da Silva e Joaquim Gonçalves de Carvalho, respetivamente, presidente e tesoureiro, logo tomarem um automóvel seguindo ao encontro do ilustre visitante, conseguindo apanhá-lo à chegada às Penhas da Saúde. Salazar saltara do automóvel, para pisar sempre neve, e foi ver o excelente panorama dos Cântaros e a cordilheira dos Piornos, duma alvura imaculada e fascinadora.
Depois desta rápida digressão, Salazar acedeu a analisar o projeto do Hotel de Turismo, a construir nas Penhas da Saúde, tendo-lhe depois sido apresentado, pelos membros da Comissão de Turismo, as necessidades mais urgentes que impediam o desenvolvimento turístico da Serra da Estrela: a estrada e o hotel. Salazar concordou com a construção da estrada que deplorou o seu estado e a considerou péssima. Para a consecução destas duas obras, ao tempo, os membros da Comissão de Turismo esperavam o auxílio do Estado, que, na altura, ainda não tinha nascido a União Europeia, nem se pensava em mudar de moeda, longe de PECs e de Troikas.
E assim foi uma das viagens de Salazar, sem dar nas vistas, que até os jornalistas citadinos não tiveram qualquer hipótese de entrevistaram o estadista, tendo-se cruzado com Salazar, já na descida das Penhas da Saúde.
Ainda conseguiram cumprimentar Salazar, num ápice, conseguindo chegar perto das Penhas da Saúde, os industriais António Rodrigues Pintassilgo, Dr. Fernando Carneiro e o médico Dr António Vaz de Macedo, fortemente ligados ao turismo da Serra da Estrela.
No regresso das Penhas da Saúde, já uma grande aglomeração de Covilhanenses esperavam a comitiva de Salazar na Praça do Município, aclamando-o.

(In "Notícias da Covilhã" de 02.05.2013 e "O Olhanense", de 01.05.2013)

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