25 de maio de 2013

A GÉNESE DA“APAE CAMPOS MELO” E OS SEUS FUNDADORES

A Covilhã integra o concelho com o maior número de agentes culturais do distrito de Castelo Branco e um dos maiores do País, neste âmbito.
Vou falar duma associação cultural e recreativa, sedeada na Covilhã, no coração da cidade, que foi a primeira, do género, a ser criada em Portugal, segundo as palavras do então Ministro da Educação, Augusto Seabra, já falecido. Isto porque integra não só antigos professores e alunos, como também empregados, ou sejam, todo o universo de obreiros desta catedral da cultura; por muitos considerada a primeira universidade da Covilhã.
Refiro-me obviamente à Associação de Antigos Professores, Alunos e Empregados da Escola Campos Melo da Covilhã (antiga Escola Industrial e Comercial Campos Melo), mais conhecida pela sigla “APAE Campos Melo”.
Fundada oficialmente em 15 de Junho de 1984 por um grupo de antigos alunos e professores, fruto da saudade dos tempos da Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, que depois passou a denominar-se Escola Técnica Campos Melo e, actualmente, Escola Secundária Campos Melo, surgiu assim esta associação.
Em 1995, data em que tive o orgulho de ser o segundo Presidente da Direcção, registava já setecentos associados.
Para quem quiser ficar com a noção fidedigna de quem foram, efectivamente, os verdadeiros fundadores, aqui deixo o registo deste facto.
Assim, antes da sua formação e após o primeiro Jantar-Convívio, sob o tema “Recordar é Viver”, realizado em 26 de Março de 1983, na cantina da Escola Campos Melo, já lá vão quase três décadas, começaram a fervilhar as ideias da formação oficial duma associação de “antigos”, abrangendo “todos” aqueles que ao longo das várias gerações passaram pela Escola Industrial.
Já aquando da festa de homenagem ao antigo director, Eng.º Ernesto de Campos Mello e Castro, pela sua despedida, em 1966, surgiu a primeira ideia de constituição de uma associação de antigos alunos, tendo, inclusive, sido alvitrado o seu início com a nomeação espontânea do sócio n.º 1, Afonso da Cruz e Silva, já falecido, que não se haveria de concretizar, e, este mesmo antigo aluno, viria a integrar-se no grupo dos sócios fundadores da APAE.
Ao mesmo tempo, haviam que se preparar de imediato as comemorações do primeiro centenário da Escola, a surgir no ano seguinte – 1984.
Se bem que foram os antigos alunos, professores e alguns empregados que aderiram, num ápice, à formação duma associação, com palavras emolduradas de grande fervor associativo; e de amizades impregnadas de memórias dos tempos de estudantes; foram mais tarde considerados 184 sócios fundadores, ou seja, aqueles que vieram a aderir até à realização da respectiva escritura. Mas, na verdade, os reais fundadores foram quantos, desde a primeira hora, tomaram a iniciativa, e participaram nas várias reuniões de trabalho. Foram frequentes sessões, na biblioteca e sala do Conselho Directivo da Escola Campos Melo, labutando duma forma afincada como Comissão Pró-Associação, na preparação das Comemorações do Centenário da Escola, e na constituição da novel associação.
São eles: Francisco Fazendeiro Geraldes (principal impulsionador, sócio n.º 1 e primeiro Presidente da Direcção da APAE); Dr.ª Maria Ascensão Simões (Presidente do Conselho Directivo da Escola, da altura, e sócia n.º 2 e que viria a ser a primeira Presidente da Assembleia Geral da APAE); Maria Noémia Gomes Lopes, responsável na Comissão Pró-Associação e dirigente da APAE desde a sua fundação, tendo sido o 3.º Presidente da Direcção, sócia n.º 3); Maria Luísa Fonseca Freire Pires, já falecida (integrando o elenco da APAE desde a sua fundação, antiga tesoureira da Comissão Pró-Associação e da 1.ª Direcção, sócia n.º 4); Manuel Vaz Correia, Mário Monteiro Carriço, João de Jesus Nunes, João José Silva Coelho, Alfredo Monteiro Pires (falecido), Carlos Alberto Ruivo (falecido), Maria Luísa Pedro, Carlos Alberto Rodrigues, António Manuel Silva Coelho, Maria José Fino e Maria Astrigilda Gonçalves. Destas duas últimas colegas partiu a conversa, em Lisboa, para uma reunião de convívio, das décadas de cinquenta e sessenta, através de um almoço, com antigos colegas, para memorizarem bons velhos tempos de estudantes, e não só. Estendendo-se o pedido da dinamização desta ideia a outros antigos colegas, logo se transformou em entusiasmos retumbantes.
E partiu-se para uma associação, de “antigos”, oficial, depois daquele Jantar-Convívio de 26.03.1983. Assim, começou a germinar, com a aderência de mais e mais antigos alunos, antigos professores e de alguns antigos funcionários. Nos trabalhos de constituição surgem ainda como reais fundadores, Isabel Fernandes Raposo, Carma Maria Batista Cardona, José Vicente Milhano (que viria a doar as instalações onde se situa a Sede da APAE, falecido em Junho de 1994); Professor Ricarte de Matos, Eng.º Luís Filipe Mesquita Nunes, já falecido (que seria o 1.º Presidente do Conselho Fiscal da APAE); Manuel Macedo Campos Costa, Eng. Francisco Duarte Gabriel, Georgina Leitão Duarte Calheiros, João José Cristóvão, Dr.ª Maria Celeste de Moura, já falecida; Maria Orlanda Bicho Mineiro Correia, Maria Teresa Fazendeiro Rodrigues, Vitor Manuel Alves Rodrigues e Padre Acácio Marques Santos, já falecido.
A estes 29 nomes ainda se deviam adicionar mais três que, há muito, por motivos desconhecidos, e que só aos mesmos disse respeito, se haviam de retirar do seio da Associação. Dois deles já faleceram.
Numa altura em que a cultura citadina não era nem de perto nem de longe como nos dias de hoje, embora sempre houvesse figuras de relevo na Covilhã, no âmbito das letras e do saber, a APAE Campos Melo, numa expressão dum sócio da altura – “Primavera Cultural” – conseguiu, numa vontade indómita das direcções constituídas, promover vários eventos culturais, entre os quais várias exposições, fora e dentro da sua sede, como na sua antiga sala que se intitulou Galeria de Arte da APAE, em pleno coração da cidade, nomeadamente:
08.01.1984 – Exposição de fotografias, desenhos e documentos das duas primeiras décadas da Escola (no átrio da Escola Campos Melo).
27.01.1984 – Aproveitando a reportagem fotográfica das comemorações do 1.º Centenário da Escola Campos Melo, e o que os jornais disseram, também de desenhos de antigos alunos (no átrio da Câmara Municipal).
26.01.1985 – Trabalhos de antigos e actuais alunos da Escola Campos Melo, no encerramento das comemorações do centenário, sob a designação “Trabalhos de ontem e de hoje” (no átrio da Câmara Municipal).
03.06.1989 – Retrospectiva das actividades da APAE, desde a sua fundação e uma exposição de esculturas de madeira, em miniatura, de um sócio e covilhanense, João Manuel Proença Marques (na Sede da APAE).
20.10.1989 – Exposição sobre a Covilhã antiga (sede da APAE).
23.12.1989 – Exposição de um presépio artesanal, com figuras de madeira em movimento, e, de novo, retrospectiva das actividades da APAE (sede da APAE).
08.03.1990 – Exposição sobre algumas figuras notáveis da Covilhã, no séc. XVI (sede da APAE).
13.04.1990 – Exposição de pintura “Do Neoclássico do Curvilinismo”, do prof. Rodolfo Passaporte, falecido em 4.11.2012, com 85 anos (sede da APAE).
24.04.1990 – Exposição “A Crítica Política no Tempo da Monarquia”, por Rafael e Gustavo Robalo Pinheiro (sede da APAE).
02.06.1990 – Exposição de lavores das antigas alunas da Escola Campos Melo (Sede da APAE).
15.06.1990 – Exposição de pintura, de Gina Calheiros (sede da APAE).
Julho de 1990 – Exposição de todas as actividades conseguidas pela APAE (na Covifeira).
20.10.1990 – Exposição histórico-documental sobre o fundador da Escola, José Maria Veiga da Silva Campos Melo (sede da APAE).
25.05.1991 – Exposição histórico-documental sobre João Alves da Silva, membro da 1.ª Comissão Administrativa e presidente da comissão executiva da Covilhã na 1.ª República (sede da APAE).
28.09.1991 – Exposição histórico-documental sobre o Sporting Clube da Covilhã e objectos desportivos de clubes e federações de todo o mundo, de João de Jesus Nunes (sede da APAE).
30.05.1992 – Exposição de “Arte e Design” dos actuais e antigos professores e alunos da Escola Campos Melo, da responsabilidade do grupo de artes visuais (sede da APAE).
05.02.1993 – Exposição de pintura de dois pintores covilhanenses: Sousa Amaral e João Manuel Salcedas (sede da APAE).
28.05.1993 – Exposição de trabalhos de expressão plástica, realizada pelas crianças das Escolas do Concelho da Covilhã (sede da APAE).
04.06.1994 – Exposição de arte sacra (sede da APAE).
17.06.1995 – Exposição de quadros e peças sobre a arte e cultura de Timor (sede da APAE).
16.12.1995 – Exposição de presépios executados por crianças de algumas escolas do Concelho.
E, muitas outras se seguiram ao longo dos anos seguintes.
Esta associação cultural foi também palco de palestras e visitas em actos solenes, por eminentes homens da cultura, da música e da arte, nomeadamente os covilhanenses Dr. António Alçada Batista, Eng.º Melo e Castro, Prof. Augusto Seabra, Geninha Melo e Castro, entre outros.
Daqui surgiu também a edição de dois livros, confrontando-se as tipografias da região, pela primeira vez, com um volume e páginas a cores, a que não estavam habituados, obviamente para aquela altura.
Surgiu também a criação de uma revista – “Ecos da APAE” – que é distribuída aos sócios, anualmente, nas comemorações da Associação.
Deu-se lugar à vinda de grupos musicais e de dança de outras zonas do País e de Espanha, como a Academia de Baile Flamenco, de Badajoz; “Pão-de-Ló”, de Ovar; de um grupo da região de Póvoa de Varzim; e, também, na vertente desportiva e cultural, homenagearam-se as “Velhas Glórias” do Sporting Clube da Covilhã, com um grande número de participantes e algum alvoroço pela comunicação social do País, sendo a primeira vez que alguma instituição, incluindo a própria colectividade serrana, participasse com um evento tão empolgante.
Hoje, com um edifício-sede totalmente reconstruído pela edilidade covilhanense, em pleno coração da cidade, pode continuar a ser azo para a promoção cultural da cidade onde se insere.
Algumas facetas do entusiasmo e da história preambular desta associação, e a sua envolvente de entusiasmo, podem ser consultada no livro “9 Anos de Actividades Culturais e Recreativas ao Serviço da Cidade e do Concelho – 1963 – 1992”.

João de Jesus Nunes
Sócio Fundador

(In Revista "ECOS DA APAE" de Maio de 2013)

DEVIDO A LAPSO NA PUBLICAÇÃO DO TEXTO, REPETE-SE O MESMO, MANTENDO-SE AS FOTOS NO ANTERIOR




1 comentário:

Jorge Correia disse...

Aceite,Amigo as minhas sinceras felicitações pelo artigo aqui inserido.Perpetua a memoria colectiva de todos nós,os fundadores e restantes associados que nunca olvidarão a sua ESCOLA"CAMPOS MELO",pois nos tornou verdadeiros homens (mulheres)e,nos preparou para as nossas tarefas profissionais.Hoje,uma grande parte estará reformada,outros,infelizmente falecidos mas,principalmente para estes ultimos a minha grande homenagem pela feliz companhia que nos proporcionaram.Abraço a todos.JORGE CORREIA.