Já muita coisa se escreveu, se
debateu; fez agitar muitas águas e turvar correntes de informação, com ou sem
sentido; por vezes, de uma embriaguez denodada, na tentativa do acertar na
muche.
Na “revista 2”, de 15 de
setembro, do “Público”, lê-se, em grandes parangonas a toda a capa: “Em terras onde já fecharam as escolas, os
centros de saúde e os postos dos CTT, cabe aos presidentes das juntas de
freguesia fazerem de assistentes sociais, taxistas, contabilistas e
conselheiros. Mas, com o novo mapa, desapareceram 1165 freguesias. E com elas o
último resquício da presença do Estado”.
Parece assim o regresso aos
tempos de outrora, das décadas de 40 e 50 do século passado.
Tempo em que o barbeiro também
fazia de dentista; as mulheres que tinham jeito e serviam de parteiras,
deslocavam-se aos domicílios, mormente nas aldeias, onde nasciam os bebés; o
professor fazia de jornalista; os farrapeiros deslocavam-se às casas para
comprar farrapos, peles de coelho e metais; os homens dos cabritos vendiam-nos
à porta e aí os esfolavam; e, afiar tesouras e facas era com o homem
característico do seu apito; assim como os tachos e panelas de barro partidos
acabavam por ser colados e, com uns agrafos, ainda serviam para mais algum
tempo…
Os automóveis não eram para toda
a gente… e até o Padre Pita, dos Penedos Altos, para ir para Aldeia do Carvalho,
deslocava-se na sua moto; os da cidade, ao tempo, nem sequer possuíam carta de
condução. Mas dava muito jeito para o transporte de alguns haveres, a carroça,
com o cavalo, do Painço.
Neste setembro em que é habitual
o país regressar à vida normal, com o retorno dos estudantes às escolas, é
também o momento em que as famílias voltam às rotinas e se despedem das férias.
Temos à porta as eleições
autárquicas. Na perceção das perdas que cada eleitor tem vindo a sofrer, com a
atual coligação governamental, representa uma relevante razão para uma muito
possível transferência do voto para as candidaturas dos partidos que têm vindo
a opor-se a esta política, e olha-se geralmente de esguelha para os intitulados
“independentes”, eles que integram ou integraram os partidos das gestões
autárquicas…
E, neste frenesim da tentativa de
aderência ao voto, os apaniguados desfazem-se no lançamento da isca por todos
os que podem andar mais ao largo, e são atraídos pelos arraiais populares, com “comes
e bebes” para o encontro das boas vontades.
É que isto já não vai com a
promessa eleitoral. Segundo o pensador Daniel Innerarity, professor nas
universidades de Zaragoza e Sorbonne que entrou na lista dos “25 grandes
pensadores do mundo”, “É impossível
governar as pessoas sem compreender as suas razões. Em muitos casos, os que são
mandados sabem muito mais do que quem governa” e “Os políticos não podem fazer grandes promessas porque a situação
política não é estável e eles passam a vida a improvisar”.
É indubitável que em qualquer
organismo, instituição, coletividade ou associação, seja ela pública ou
privada, existe sempre o espectro da adulteração das intenções e as intimidades
exacerbadas porque os humanos sofrem deste pecado, por mais que se queiram
afastar. Por isso, urge que haja os vigilantes a todo o tempo, e não só quando
se zangam os comparsas.
Nalgumas “guerras frias” que
antecedem o ato eleitoral, há que extrair cuidadosamente as ilações para que se
façam emergir as verdades e se dissipem as inverdades, nalgumas destas guerras
sem armas de fogo mas servidas pelas armas da intimidação e do embuste.
“Os governantes nada mais são que
representantes do povo. Se, ao abrigo do seu estatuto de governantes, adquirem
benesses, trocam favores, se movem nas zonas cinzentas da desconfiança e da
ausência de transparência, então deixam de representar esse povo e perdem o
direito de o representar” – Ana Luísa Amaral (escritora).
Neste entusiasmo esfuziante para
muitos, os que chegarem ao clímax, procurem o engenho e a arte para serem
merecedores dos créditos de quem neles votaram, e, de mãos dadas, possam fazer
a paz e levantar a taça para o brinde da fraternidade no desenvolvimento da sua/nossa
Terra.