10 de setembro de 2013

SUBMISSAMENTE INDEPENDENTES


Este torrãozinho da Europa, à beira-mar plantado, como nos meus tempos de menino e moço ouvia dizer, nos primeiros livros da Primária, hoje, denominada ensino básico (é que, para além desta palavra significar fundamental, essencial, no meu tempo de tropa obrigatória, “básico” era aquele soldado que, não sendo nada inteligente e, não conseguindo tirar uma especialidade, era destinado para serviços secundários: plantão, faxina, e outros et ceteras militares), está retido, há já demasiados meses, àquilo que eu detesto em televisão – as telenovelas –, em redor das eleições autárquicas.

Mas, vai desta para melhor, aí estão uns quantos sabichões da política, na mesma já tão viciados pelo tempo que julgavam ad aeternum, tal como os que necessitam já de desintoxicação dos seus cérebros, de tão politizados, a persistirem na interpretação da lei, à sua maneira, com o conluio interpretativo de alguns tribunais de várias praças deste Portugal torturado.

E, como de Justiça nem quero falar mais, já que a mesma, a par do défice, é hoje o principal motivo de preocupação dos portugueses de bom senso, está a colocar em causa a própria democracia. Lembro só o burlesco caso, com o pensamento jurídico completamente desarticulado, entre outros casos caricatos, na insólita decisão judicial de três juízes a obrigarem a indemnizar e reintegrar um trabalhador da limpeza, despedido por ter sido acusado duma elevada taxa de alcoolémia, após um acidente de trabalho, numa ”interpretação” jurídica de que o álcool até pode ser útil para suportar as agruras do trabalho.

E, apenas com três mandatos; seja em que Câmara for, conforme o acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de Lisboa, ou a limitação é apenas territorial e o impedimento a uma quarta candidatura violaria a Constituição; há quem queira mandar às malvas o que está escrito e borrifar quem seja contra as suas vontades, querendo lá saber da democracia, talvez numa opção pela oligarquia.

Por isso, num tempo em que tanto falamos da necessidade de recuperar a ética na política, os portugueses deveriam refletir sobre a necessidade de mudar as regras da nomeação de titulares de cargos políticos, e não estar agora o País confrontado, quase em cima das eleições, a julgar casos de interpretação da lei.

Será que a lei de “limitação de mandatos” pretende extinguir os chamados dinossauros autárquicos ou tão só promover a migração dos mesmos duma freguesia ou concelho para outro?

Como sempre, não há mal que venha só, e, aí está, em cima duma enorme crise económica e social surgem-nos eleições descredibilizadas.

Incompetência dos políticos? Talvez, de muitos, mas a imaginação dos mesmos é fértil quando lhes interessa.

É que, quando o serviço público democrático, que, por natureza, “deve ser” temporário, se vem tornar num meio de subsistência, e numa profissão para a vida, é como o vício de que atrás falei. E transformá-lo num modo de vida, como a droga ou na corrupção, o que se inicia como experiência ou uma oportunidade depressa envereda numa vil existência. Assim vem acontecendo na política.

Surgem em todo o mapa português, de norte a sul, do litoral ao interior, os chamados “independentes", que, na verdadeira aceção da palavra, deveria corresponder àquele “que goza de independência; livre; autónomo; que não se submete a qualquer dependência ou sujeição; ou que se governa por leis ou estatutos próprios”, mas, realmente, na sua generalidade, tal não acontece.

E, assim, são submissos a uma vontade previamente definida, continuadores dos trabalhos e diretivas dos seus antecessores, ou de forças ofuscadas, mas numa de interesses comuns.

E, em redor destes interesses, estão os que se encontram em cima do muro, espreitando a oportunidade para o salto sem partir os tornozelos. E, assim, mudam imediatamente de camisola. São os homens e as mulheres, com desejos pessoais que não os da Comunidade, que dizem servir “sem interesses…”, aqueles cujos contornos já o povo conhece, porque, areia para os olhos, o Zé Povinho já não deixa, e, desta feita, faz-lhes o seu real manguito.

(In "fórum Covilhã", de 10.09.2013)

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