Este torrãozinho da Europa, à
beira-mar plantado, como nos meus tempos de menino e moço ouvia dizer, nos
primeiros livros da Primária, hoje, denominada ensino básico (é que, para além
desta palavra significar fundamental, essencial, no meu tempo de tropa
obrigatória, “básico” era aquele soldado que, não sendo nada inteligente e, não
conseguindo tirar uma especialidade, era destinado para serviços secundários:
plantão, faxina, e outros et ceteras militares), está retido, há já demasiados
meses, àquilo que eu detesto em televisão – as telenovelas –, em redor das
eleições autárquicas.
Mas, vai desta para melhor, aí
estão uns quantos sabichões da política, na mesma já tão viciados pelo tempo
que julgavam ad aeternum, tal como os que necessitam já de desintoxicação dos
seus cérebros, de tão politizados, a persistirem na interpretação da lei, à sua
maneira, com o conluio interpretativo de alguns tribunais de várias praças
deste Portugal torturado.
E, como de Justiça nem quero falar
mais, já que a mesma, a par do défice, é hoje o principal motivo de preocupação
dos portugueses de bom senso, está a colocar em causa a própria democracia.
Lembro só o burlesco caso, com o pensamento jurídico completamente
desarticulado, entre outros casos caricatos, na insólita decisão judicial de
três juízes a obrigarem a indemnizar e reintegrar um trabalhador da limpeza,
despedido por ter sido acusado duma elevada taxa de alcoolémia, após um
acidente de trabalho, numa ”interpretação” jurídica de que o álcool até pode
ser útil para suportar as agruras do trabalho.
E, apenas com três mandatos; seja
em que Câmara for, conforme o acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de
Lisboa, ou a limitação é apenas territorial e o impedimento a uma quarta
candidatura violaria a Constituição; há quem queira mandar às malvas o que está
escrito e borrifar quem seja contra as suas vontades, querendo lá saber da
democracia, talvez numa opção pela oligarquia.
Por isso, num tempo em que tanto
falamos da necessidade de recuperar a ética na política, os portugueses
deveriam refletir sobre a necessidade de mudar as regras da nomeação de
titulares de cargos políticos, e não estar agora o País confrontado, quase em
cima das eleições, a julgar casos de interpretação da lei.
Será que a lei de “limitação de
mandatos” pretende extinguir os chamados dinossauros autárquicos ou tão só
promover a migração dos mesmos duma freguesia ou concelho para outro?
Como sempre, não há mal que venha
só, e, aí está, em cima duma enorme crise económica e social surgem-nos
eleições descredibilizadas.
Incompetência dos políticos?
Talvez, de muitos, mas a imaginação dos mesmos é fértil quando lhes interessa.
É que, quando o serviço público
democrático, que, por natureza, “deve ser” temporário, se vem tornar num meio
de subsistência, e numa profissão para a vida, é como o vício de que atrás
falei. E transformá-lo num modo de vida, como a droga ou na corrupção, o que se
inicia como experiência ou uma oportunidade depressa envereda numa vil
existência. Assim vem acontecendo na política.
Surgem em todo o mapa português,
de norte a sul, do litoral ao interior, os chamados “independentes", que,
na verdadeira aceção da palavra, deveria corresponder àquele “que goza de
independência; livre; autónomo; que não se submete a qualquer dependência ou
sujeição; ou que se governa por leis ou estatutos próprios”, mas, realmente, na
sua generalidade, tal não acontece.
E, assim, são submissos a uma
vontade previamente definida, continuadores dos trabalhos e diretivas dos seus
antecessores, ou de forças ofuscadas, mas numa de interesses comuns.
E, em redor destes interesses,
estão os que se encontram em cima do muro, espreitando a oportunidade para o
salto sem partir os tornozelos. E, assim, mudam imediatamente de camisola. São
os homens e as mulheres, com desejos pessoais que não os da Comunidade, que
dizem servir “sem interesses…”, aqueles cujos contornos já o povo conhece,
porque, areia para os olhos, o Zé Povinho já não deixa, e, desta feita,
faz-lhes o seu real manguito.
(In "fórum Covilhã", de 10.09.2013)
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