11 de setembro de 2013

A NOSSA DEMOCRACIA


Neste Portugal de hoje, a caminho de quatro décadas da Revolução dos Cravos, vai o povo português ficando cada vez mais desiludido, não só com a condução deformada dos ideais por que surgiu este grande acontecimento, mas também porque já lhe falta aquela segurança e coragem proveniente da convicção no próprio valor, aquela fé que se deposita em alguém e numa firme esperança, que, segundo os dicionários, se designa por confiança.

Embora esta época estival seja propícia a notícias sem grande interesse, duma certa frivolidade em relação a outras épocas do ano, foram no entanto os incêndios o grande tema do quotidiano. Esperemos que a silly season venha dar lugar ao rebentamento das correntes que amarram os ânimos de todos nós, onde os valores da vida são cada vez mais escassos.

Se atentarmos ao que se tem passado neste último governo (tenhamos em conta que os anteriores governantes também não resolveram os problemas dos demais portugueses, mas antes, trataram das suas vidinhas), os intervenientes na governação conseguiram mentir, de per si ou com outros, descaradamente, e a falta de palavra tem sido de grande tónica nas suas ações. Se o partido ou partidos que formam o Governo estivesse somente limitado ao cumprimento do seu programa de Governo e, no seu incumprimento fosse deposto, talvez a situação atual fosse outra. Se os meios de comunicação preenchessem os seus espaços com informações mais aprofundadas e fidedignas, e mais independentes dos grandes grupos financeiros, o seu contributo para a tal confiança raiava de outra forma. Nenhum indivíduo poderá representar bem todos os outros, pelo que o individualismo que ainda grassa na nossa sociedade terá que forçosamente passar pelo trabalho em equipa.

Se houvesse uma verdadeira justiça logo seriam devidamente punidos, todos quantos, independentemente da sua condição, de governantes ou não, roubassem ou defraudassem o Estado. Só assim se poderia englobar o princípio básico que abrange direitos, respeito, legalidade e igualdade.

Com tudo o que se está a passar, de bradar aos céus, haveria que, conscientemente, distinguir o essencial do acessório, com o olhar para a frente e não para a esquerda ou para a direita.

E que me perdoem os senhores do poder, dos destinos de Portugal, ou das autarquias, deveria haver uma classe política mais culta, informada e humanizada. Com mais amor a Portugal e menos à sua autopromoção. E, acima de tudo, acabar com o monopólio dos profissionais da política. Quando não nos revemos nos órgãos de soberania, nas empresas e nas comunidades, em que as decisões vão ter ao compadrio e ao aleatório, perde-se a noção do valor da vida e também a esperança.

Sabemos que os oportunistas, uma vez no poder, tudo fazem para que o esclarecimento das maiorias votantes não ocorra. É que, no tempo presente, a democracia foi tomada de assalto, por meio de mentiras e falsas promessas, por um bando de medíocres mas obstinados serventes dos senhores do poder.

A desolação é tanta que hoje, muitos não sabem se Portugal é uma democracia ou um caso de loucura, tal é o alheamento e a importância dos cidadãos face à balbúrdia dos pequenos e grandes poderes.

Deveriam os responsáveis por este pobre Portugal controlar o enriquecimento excessivo de governantes e ex-governantes e deixar cair na falência os bancos fraudulentos, e investir na agricultura em vez de campos de golf vazios.

Segundo o que refere a escritora Lígia Jorge, “aquilo de que enferma a Democracia Portuguesa provém da imperfeição das suas instituições ou da debilidade dos seus intérpretes”, e acrescenta que “o coração do futuro do mundo, tem de encontrar entre nós intérpretes à altura. Nesse campo, e no estado da selvajaria em que nos encontramos, semelhante combate vai precisar não só de heróis mas de leis”.

Se houvesse menos preocupação pela conquista, exercício e manutenção de poder mas mais com a resolução de problemas urgentes, menos programas mas mais planos estratégicos, menos mandar mas mais consultar, mais métodos , menos “fazer obra”, menos leis, menos monopólios do poder e mais pluralismo, mais responsabilidade e menos culto do sucesso, mais reorganização o otimização, menos jobs for the boys, mais competência e mérito, menos corrupção e mais ética, este Portugal seria uma verdadeira democracia.

O modo como os cargos públicos são ocupados por gente com todo o tipo de compromisso nas mais variadas empresas privadas é indecoroso. Deveria haver o levantamento do sigilo bancário para todos os responsáveis políticos (de presidentes de juntas de freguesia, Câmaras, governantes e presidentes da República).

E, porque não podemos abusar deste espaço, ficamos por aqui.

(In "Notícias da Covilhã", de 11.09.2013)

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