Palavrinha curta, simples, que sai da boca sem esforço. Com
ela se interroga de imediato o interlocutor. Pede-se-lhe para repetir o que
disse. Também existem outras palavras que servem o mesmo propósito: “como?”,
“diga?”. Depressa que surgiu um hiato na comunicação oral. Existe assim uma
falha de compreensão.
- Hã? “Milagre económico” conseguido no nosso país? … Agora
que se aproxima o termo do fim do programa de ajustamento da troika, com as severas exigências do seu
Memorado, dizem acontecer para 17 de maio, pelo que convém que Cavaco Silva
reze a Nossa Senhora de Fátima, como já, noutras alturas, invocou a sua
intercessão.
- Diga? Chegou-se ao final de 2013 com um défice previsto de
5% quando se previa uma percentagem inferior. A dívida máxima prevista no
Memorando era de 114,9% do PIB e, no final de 2013, foi de perto de 130%.
Aumento doido de impostos, ultrapassando mesmo o exigido pela troika, recessão da economia e brutal
quebra do consumo. Pessoas e famílias em autêntica penúria aumentando os braços
carinhosos das várias instituições de solidariedade social, como são as
Conferências de São Vicente de Paulo. E se elas não existissem?
- Hã? Com um segundo resgate fora de qualquer previsão (para
já…), com a necessidade de um programa cautelar ou uma saída limpa (mas com
mãos sujas de muitos corruptos, chico-espertos e oportunistas), o Governo nem
ninguém nos diz quando é que a agressiva austeridade, nas previsões mais
otimistas dos estimados governantes, serão atenuadas e chegam ao fim. Talvez para
gerações daqui a uma, duas ou três décadas. E com a destruição da classe média.
- Como? O ano 2013 confirmou o fim da recessão em Portugal.
Sem euforias, nem pompa e circunstância. Os mais cautelosos saltaram a lembrar
que a crise ainda vai caminhando e que o seu fim ainda pode estar distante. O
ministro da Economia, Pires de Lima, terá sido o anunciador do que considerou o
tal “milagre económico”, talvez imbuído na ideia da intercessão de Santa Rita
de Cássia, advogada das causas impossíveis. Não fossem os cérebros portugueses
a saírem para a estranja, onde os portugueses são reconhecidos pelo seu Know-how, numa referência como
trabalhadores de confiança, Portugal estaria hoje numa situação mais
degradante.
- Diga? A recuperação da economia vai demorar uma a duas
décadas. Sim, Senhor, são as palavras doutas de José António de Sousa, “para
recuperar os níveis de riqueza que se tinham em 2008”. “Estamos agora muito
mais pobres do que há três anos e vai demorar muito tempo para recuperar".
- Hã? Portugal, considerado o “bom aluno” da União Europeia.
É a convicção de Cavaco Silva. E, com esta de nos vergarmos demasiadamente
sobre o fardo da austeridade, nesta barca do inferno a empobrecer-nos cada vez
mais, só é de estranhar como é que o povo ainda não escolheu a violência, numa
nova Maria da Fonte. Até Xanana Gusmão, líder da resistência timorense, na sua
visita a Portugal, disse sentir-se chocado com a situação portuguesa por que a
população está a sofrer.
Vamos aguardar por uma saída destas correntes que cercam a
nossa casa, ou duma forma limpa, ainda que com a ajuda da mulher a dias; ou com
programa cautelar, na lembrança das reguadas dos professores da primária de
antigamente, que não faziam mal a ninguém.
Voltamo-nos agora para a Manchester Lusitana de outrora,
Cidade Universitária de hoje. Ainda a procissão vai no adro e já vozes
escondidas nas redes sociais, onde a cobardia do anonimato é rainha, soltam
gritos de Ipiranga sobre ventos ciclónicos a abalar a cidade laneira que foi
durante séculos.
- Hã? Como? Diga? Parece que às vezes é o desejo de se ver a
terra queimada para depois surgir o D. Sebastião, agora que tem havido algumas
manhãs de nevoeiro. E, uns e outros, anonimamente, se digladiam. Isto é do
caraças! E, depois, inventa-se o “ Bucha & Estica”, ou o “Sr Feliz e o Sr.
Contente”. Ainda que se vejam muitos acidentes com colisões, que é preciso
denunciar também, mas dando a cara, há que ter presente o provérbio “Bem o
prega Frei Tomás; façamos o que ele diz e não o que ele faz”.
Vamos então responder não só ao que nos desagrada mas também
aquilo de que somos acusados. Mas, de fronte erguida. É que há telhados de
vidro, lá isso há…
(In jornal "fórum Covilhã", de 11.03.2014))
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