13 de janeiro de 2015

SELFIEMANIA

Primeira crónica do novo ano de 2015. Como tal a esperança por melhores dias. Um bom ano para todos.
No meu contacto com os jornais, onde completei 50 anos de escrita nos finais do ano anterior, verifico que é também usual, nesta altura, referir os principais factos que marcaram o ano precedente, ou aquilo que se espera na futurologia para o novo ano.
Como estamos em ano de eleições, direciono este texto para outro tipo de escolha, já que nos iremos fartar de sufrágios, tal como nos saturámos do bacalhau pelo Natal.
A Porto Editora revelou a semana passada que entre as palavras do ano 2014, eleitas pelos portugueses, está o termo selfie que se assumiu como uma verdadeira tendência.
As selfies, autorretratos capturados com a câmara de um telemóvel, ganharam tanta relevância em 2014, que ao longo do ano os smartphones lançados pelas diversas marcas viram reforçada a qualidade das câmaras frontais e o termo passou a estar frequentemente associado às principais caraterísticas dos dispositivos.
Ao longo do mês de dezembro a Porto Editora levou a votação um conjunto de 10 palavras que marcaram 2014 e pediu aos portugueses que votassem e ajudassem a eleger as mais marcantes. O termo selfie acabou em terceiro lugar, sendo que a palavra mais votada foi o termo corrupção, e, a segunda, a palavra xurdir.
Cada época tem suas modas e caraterizam-se por particularidades entre outras. A crescente velocidade a que se sucedem e a frequente intervenção nelas das novas tecnologias deve-se ao dinamismo e à grande visibilidade dos meios de comunicação, e às redes sociais, convertidas muito depressa em obsoleto quando há ainda muito pouco tempo eram novidade.
A selfie é quiçá a moda de maior seguimento popular dos últimos meses, e em particular do último verão, quando a mesma se converteu num hábito generalizado.
De tal forma que tem dado lugar a algumas variedades de selfie que comportam autêntico risco, nalguns casos mortais para os seus intrépidos.
Entre as variedades estão as realizadas por todos os que, não contentes com fotografar-se na rua ou na praia, se empoleiram em gruas para obter fotos de impacto. Ou aqueles que as tiram quando conduzem uma viatura.
Os casos referidos nos jornais, como vítimas mortais, convidam a refletir. A primeira reflexão nos sinaliza que está havendo um uso deficiente das novas tecnologias, cujo potencial é elevado. Neste caso, como instrumento narcisista, o insensato resulta dececionado. O exemplo de famosos e celebridades, no seu rol de figuras dos nossos dias, têm o seu lado obscuro: a ânsia de obter certa notoriedade, ainda que transitória, fascina milhões de pessoas e as induz a imitações que comportam a assunção de riscos desnecessários.
Entretanto, em finais de 2013, a companhia The Oxford Dictionaries, que elabora prestigiosos dicionários de inglês em versões impressas e online, acordou que a palavra do ano havia sido selfie. Foi uma das eleições mais fáceis. A própria companhia de dicionários indicou em dezembro daquele ano que a palavra tinha numerosos derivados, como helfie (foto de cabelo), belfie (do rabo), welfie (de treino) e drelfie (de bêbado).
Em poucos meses, as selfies evoluíram em novos tipos de autografias e também as palavras com que se denominavam:
Skywalking (em gruas, arranha-céus, pontes, edifícios emblemáticos de grande altura); Feetfie (fotografias de pés); Sexfie (Auto-fotos feitas depois de manter relações sexuais); Techefie (autorretratos que as máquinas fazem de si mesmas); Estátuas (Em alguns museus); Felfie (Com animais); Axilas (autofotografia de cara em que também se vê uma axila com pêlo, na China); Carfie (Dentro de um automóvel a circular); Underboob (entre raparigas, subindo a camisete de forma que se vislumbra a parte inferior dos seios); Notícias (Num lugar de notícia); Dronie (com os pequenos drones voadores); Brifie (de pontes); Beardie (Homens com barba); Acidentes (aquando de acidentes).
As fotografias no chamado estilo selfie existem há anos, porém foi só recentemente que elas adquiriram esse nome específico. Sempre existiram aquelas fotos exageradas ou forçadas. Houve fotos que foram registadas instantes antes de pessoas morrerem.
De tanto que se tem passado nos bastidores da política portuguesa, só falta, de facto, surgirem as selfies no parlamento, na presidência da República, no Palácio de São Bento.
Termino com este neologismo, esperançado que, segundo o “Juízo do Ano” do Borda d’Água, “Júpiter irá acompanhar a nossa trajetória em 2015”, que “O ano será calmo e amistoso, dando privilégios às amizades” e que “A presença de Júpiter favorece os entendimentos e as negociações no campo político, económico e social”… ou seja, tão só um excessivo otimismo dum velho almanaque.

(In "fórum Covilhã", de 13-01-2015)

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