Ainda há pouco tempo se ouvia dizer que o leite era um
alimento completo e que deveria ser tomado pelas crianças, jovens e até
adultos. Era considerado um superalimento. Um copo de leite bem quente, com
mel, no inverno, para a cura duma constipação; ou um copo de leite bem fresco,
no verão, satisfaz quem o bebe.
E também ainda não longe nos tempos soava que o café, em
demasia, fazia mal.
Na minha infância e adolescência desconhecíamos o que era
intolerância ao glúten, que é uma proteína presente no trigo, centeio e cevada
– celíaco era uma palavra ignorada; ou à lactose – no leite.
Surgem agora investigações em que, neste contexto, para uns
é apontado um papel benéfico o consumo do leite, do café ou dos cereais, sendo que,
para outros, os consideram nocivos.
Em que ficamos, afinal?
No caderno 2 do “Público”,
de 22 de fevereiro, surgem opiniões diversificadas de responsáveis por esta
matéria em termos de saúde.
E assim surge a conjunção “mas” na composição de muitos dos
alimentos que comemos, na versão de vários especialistas.
Consumo do leite, “sim,
só o materno, enquanto bebés; o de vaca nem pensar…”
Mas outro nutricionista já diz que “sim, tem muitas vantagens”. No entanto, “a proteína do leite de vaca é muito diferente da do leite humano,
praticamente o oposto”.
E, numa longa lista de acusações, contra o leite, apontam o
elevado teor de gordura saturada que aumenta o risco de doenças cardíacas; e o
consumo de grandes quantidades de lactose aumenta as probabilidades de cancro
no ovário; ou grandes quantidades de cálcio são um fator de risco para o cancro
da próstata e também para a osteoporose. As investigações apontam, neste caso,
para o consumo de três ou mais copos de leite por dia.
“Habitualmente
consome-se leite numa altura de crescimento, até aos dois ou três anos. Depois
disso, não só é dispensável como não é recomendável”.
Entretanto, o coordenador do Programa Nacional para a
Promoção da Alimentação Saudável reconhece a existência de uma discussão grande
e muita polémica ao redor deste assunto. E afirma que “quem tem dificuldade de acesso a alimentos de qualidade não deveria
prescindir do leite”.
Já outra nutricionista aponta, para prevenir a osteoporose,
a substituição do leite pelo consumo de couve, brócolos, agrião, rúcula,
nabiças, que têm bastante cálcio.
Pois é, “para cada
estudo contra o leite, aparece um a favor. A relação entre o consumo do
leite e a doença cardiovascular, por
exemplo, a evidência científica é quase nula. Já existe, no entanto, alguma
discussão sobre a relação das doenças oncológicas: o consumo moderado parece
ser protetor, mas quando em excesso haverá um efeito negativo”.
Na revista “Visão”,
de 5 de março, volta a ser referido este tema, sob a pergunta: “Será o leite de vaca bom para os humanos?”
E refere que “a intolerância à lactose
chega a atingir 70% da população nos países do Sul da Europa e vários estudos
apontam hoje o excesso de leite como causa do aumento da incidência de cancro do
cólon, ovário, próstata e mama – e, até, de mais fraturas ósseas”.
Curiosidade é a aludida revista 2 do “Público” referir dados históricos sobre o leite, numa referência a
um artigo de julho de 2013 da revista “Nature”:
“Arqueologia: a revolução do leite”, em que há 11 mil anos, quando a
agricultura começou a substituir a caça, as populações do Médio Oriente
aprenderam a reduzir a lactose – que não conseguiam digerir por falta de
lactase – fermentando o leite para fazer queijo e iogurte; 2500 anos depois,
uma mutação genética ocorreu na Europa, mais precisamente na zona da Hungria,
dando à população a capacidade de produzir lactase durante toda a vida. “Essa adaptação abria uma nova fonte
nutricional que conseguia sustentar as comunidades quando não havia colheitas”.
Uma grande parte da população europeia descenderá desses primeiros agricultores
que insistiam em continuar a produzir lactase na idade adulta.
Já a revista Visão
refere que os primeiros sinais de introdução de laticínios na alimentação
humana datam do ano 5000 a.C., pouco tempo após terem ocorrido as últimas
mutações genéticas da nossa espécie – precisamente no gene que dá a instrução
para a produção da enzima lactase. E, das descobertas havidas, foi afirmado que
“pelo menos desde o Neolítico que se
consome leite e seus derivados, com vantagens para os povos que o faziam”.
Mas, no Diário de
Notícias online, de 6 de março, sob o título “Dieta do Paleolítico: uma moda do tempo das cavernas” é referido
que, atualmente, várias pessoas deixam de fora das suas refeições, os cereais,
os laticínios, as leguminosas, os açúcares e os alimentos processados, comendo
quase como se vivessem na Idade da Pedra. Dizem os adeptos da dieta paleo, inspirada no Paleolítico, que
para se manter saudável, perder peso e prevenir uma série de doenças o melhor é
alimentar-se como os homens das cavernas: à base de carne, peixe, marisco,
ovos, vegetais, fruta e alguns tubérculos. Trata-se de uma ementa que tem vindo
a gerar discussão dentro das ciências da nutrição, mas que seduz cada vez mais
pessoas.
No que diz respeito ao café, segundo o online “Notícias ao Minuto”, de 3 de março, um estudo levado a
efeito por cientistas sul-coreanos, publicado na revista especializada
britânica Heart, informava que beber três ou quatro cafés por dia faz bem ao
coração. Os cientistas disseram que, no entanto, “serão necessárias mais investigações para confirmar este estudo e
determinar a explicação biológica dos supostos efeitos do café para prevenir a
obstrução das artérias”. Entretanto, na sua edição online de 11 de março, é referido que o café afeta todas as partes
do corpo, promovendo sentimentos bastante distantes dependendo das situações.
Segundo aquele diário online, “Os estudos
sobre o café são imensos e os benefícios ou riscos associados vão aparecendo,
sendo todos eles bastante controversos, dependendo das opiniões dos
investigadores”.
Entretanto, a equipa de cientistas dum hospital de Seul
concluiu que uma quantidade moderada de café reduz a presença de cálcio nas
artérias coronárias, um elemento considerado responsável pela aterosclerose.
Segundo a Visão, todos
os efeitos, sejam eles positivos ou negativos, devem-se à cafeína dos grãos de
café. No entanto, há outras substâncias como antioxidantes que dão amargura à
bebida, um cheiro caraterístico e algumas propriedades saudáveis.
Registo, da revista
Visão, o que uma chávena diária de café afeta o nosso corpo, a saber:
Cintura: - Poderá
ajudar a perder peso. Em vez de café com leite que representa cerca de 170
calorias, pode-se optar pelo café simples e evitar 160 calorias numa só bebida.
Segundo o especialista Nigel Derby, o café, “para
além de ser praticamente livre de calorias, pode ainda ser um inibidor do
apetite”.
Coração: - Uma
chávena de café pode aumentar a frequência cardíaca em 100 batimentos por
minuto e esta sensação pode prolongar-se durante uma hora. Pode ainda provocar
a contração das artérias, o que aumenta a tensão arterial. Numa pessoa
saudável, isto não causará efeitos nocivos e pode mesmo impulsionar a energia e
prevenir ataques cardíacos. O excesso de café pode aumentar o risco de ossos quebradiços
ou osteoporose, aumentando a perda óssea.
Dentes: -As
manchas nos dentes não são culpa do café. A coloração do café é muito
superficial, afetando apenas o biofilme, camada fina de bactérias que cobre os
dentes e as gengivas, e não penetra através do próprio esmalte.
Hálito: - Este é
um facto que ocorre em quem bebe muito café e tem tendência a ter a boca seca.
Para além de comer várias vezes ao dia, beber água é também uma boa solução.
Cérebro: - O
consumo moderado de café pode reduzir o risco da doença de Alzheimer até 20%,
de acordo com um estudo feito no Reino Unido. A cafeína e os antioxidantes
presentes no café podem reduzir a inflamação do cérebro e retardar a
deterioração das células cerebrais, associadas à memória.
Rins: - O café é diurético
– estimula os rins, fazendo com que precise de ir mais vezes à casa de banho.
Pele: - O café
pode ter um efeito desidratante no corpo, mas beber regularmente não seca a
pele. Positivamente, o café pode estar ligado a um menor risco de cancro da pele,
graças aos seus antioxidantes, que limpam os radicais livres e as moléculas
ligadas ao cancro e a outras doenças.
Diabetes do tipo 2: -
Muitos estudos creem que beber café está relacionado com um menor risco de
diabetes do tipo 2. Uma investigação nos EUA concluiu que quem bebia 3-5
chávenas de café por dia tinha menos risco de desenvolver a doença.
Músculos: - Beber
café é positivo para os músculos, pois impulsiona-os e fornece-lhes energia. A
cafeína incita à queima de gordura por parte dos músculos, para a obtenção de
energia, quando esgota a energia fornecida pelos hidratos de carbono. A cafeína
ajuda a abrir as vias respiratórias e é semelhante à teofilina, usada no
tratamento de asma.
Aqui fica um alerta, ou uma simples informação, tendo
em conta os ditos prós e contras nalguns dos “principais” alimentos que
tomamos.
(In Revista "ECOS DA APAE", DE MAIO DE 2015)