Que isto de escrevermos no prazo limite para a publicação é
sempre um risco. O espaço de tempo não perdoa todo o que foi dissipado noutras
ocupações. E os textos de opinião nem sempre estão a jeito, extraídos do baú de
memórias, ou dos acontecimentos mais recentes.
À toa ocorreu-me este santo, para uma de inspiração. Que, de
santos, não tenho opções em especial na minha religiosidade. No entanto, tenho
em casa, casualmente, o S. Tomé, não uma mas duas imagens do mesmo. E isto porque,
aquando da minha rigorosidade profissional, geralmente pedia, nalguns casos,
que fosse transcrito para escrito aquilo que, de responsabilidade, me era
informado oralmente. Algumas vezes ficavam melindrados. Mas mais aborrecido
ficava eu quando queria demonstrar aquilo que me fora transmitido como certo,
de viva voz, e, depois, já não era tanto assim. Foi numa situação destas que me
levou a adquirir a imagem do S. Tomé, numa de ironia, dizendo aos então
detentores da verdade esquecida:
- Queria mudar de santo mas obrigam-me a ter que continuar a
acreditar no S. Tomé: “Ver para crer”. Ponham lá no papel o que agora me
informam. Confesso que não me dei mal com esta conduta.
E, como não há duas sem três, outro santo – o Santo Antão –
esta contada pela voz de um já falecido amigo, o professor Manuel Lourenço
Pereira das Neves, de Orjais, uma figura sempre bem-disposta, de grande humor e
amigo do seu amigo. E dizia que, em tempos longínquos, no Colmeal da Torre, na
festa de Santo Antão, se contava que quando a procissão saía à rua, num desses
anos, começou a chover, e a molhada procissão teve que regressar apressada. Os
mordomos esperavam que no próximo ano esta situação não surgisse e o povo
ficasse assim mais contente. O que é certo e verdade é que, mal o andor do
santo entrava no adro da igreja, começavam a surgir uns pingos de chuva e
avolumava-se no decorrer da procissão. A maldição parecia que continuava e,
então, a esperança renovava-se para o ano seguinte. Não é que, neste terceiro
ano consecutivo, a história se repete? Sai o santo para a rua e começa a
chover. O desânimo atinge não só os mordomos como também parte da população,
que começa a revoltar-se e a atribuir as culpas ao Santo Antão. Então, param o
andor e, alguns mordomos agarram no santo, dirigindo-lhe impropérios, e atiram
com ele para o ribeiro onde passavam: - Não nos deixas fazer a festa, vais já
tomar banho! E acabou-se a história, com o regresso à igreja, sem o santo.
Temos vindo a assistir a acontecimentos que, julgando alguns
ser de bradar aos céus, deveria levar muito a ponderar a análise dos factos,
mormente pelos que nela se encontram envolvidos.
Reporto-me assim aos professores que chumbaram nas provas de
Português e de Física e Química, da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades.
O Instituto de Avaliação Educativa deu conta que chumbaram 63,2% dos 68
professores que fizeram a prova de Física e Química e 60,4% dos 106 que fizeram
a prova de Português para o 2.º ciclo do ensino básico. E, aqui, o Ministério
da Educação tem razão: “Não se pode
ensinar bem o que não se sabe muito bem”. Isto já não era estranho, pois
quando há ainda professores, não só do ensino básico, como do secundário, que não
sabem distinguir quando o “à” leva “h” ou não; quando se escreve “porque” ou “por que”, assim como outras regras ortográficas, o ensino não vai
bem. E isto nada tem a ver com o novo acordo ortográfico.
Já no que toca a pedagogia também há algo a dizer. Chegou-me
ao conhecimento que numa escola do ensino básico desta cidade, a professora fez
uma divisão interna dos seus alunos, com o conhecimento dos mesmos, desta
forma: o grupo dos inteligentes, o grupo dos mais ou menos, e o grupo dos do
apoio. Como se sentirão os que têm mais dificuldade perante esta classificação?
Que motivação lhes vai na alma? Não será que é a professora que necessita de
formação?
Voltamo-nos para outro caso, este mesmo tão de hilariante quão
de estúpido, do nosso primeiro-ministro, pela forma anedótica como se referiu,
na inauguração da queijaria em Aguiar da Beira, teorizando sobre o português
que no futuro há-de fazer um país novo, desenvolvido e sem mais invasores troikanos. O exemplo de Passos Coelho
não podia ser mais caricato (talvez o muito queijo que ali comera o tivesse
levado ao esquecimento) com o símbolo de Dias Loureiro. Disse então este
inteligentíssimo primeiro-ministro que ele, Dias Loureiro, “conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por
este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se
nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida,
pujante, temos de ser exigentes, metódicos”. É inacreditável o que este
governante na liderança do País afirmou, duma figura que foi arguido no caso do
BPN. Isto daria pano para mangas.
Mas, neste País em que 1% dos portugueses tem 21% da riqueza
de Portugal, os casos sobre casos não deixam de existir.
A esperança, que já foi acentuada, na mudança, começa a ter
contornos de perplexidade pelos cidadãos mais sofredores, se isto não vai ficar
mais do mesmo, ou parecido. António Costa também já deu uns tiros nos pés, com
aquele sms ao jornalista, com pouca paciência para a comunicação social, apesar
de ser filho e irmão de jornalistas. Esperemos que o documento Uma Década para Portugal, elaborado por
doze economistas para o Partido Socialista, nas suas propostas para o setor
económico, se revistam de uma grande eficácia para Portugal, caso vença as
eleições.
Mas, para isso, como diz o povo, na sua proverbial
sabedoria, é preciso “juízo e cabeça fresca”. Vejam só as sondagens erradas no
caso do Reino Unido, acabando por ganhar, contra o imprevisto, o conservador
Cameron, numa primeira maioria absoluta desde 1992.
(In "fórum Covilhã", de 12.05.2015)
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