11 de fevereiro de 2016

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

“O mundo pula e avança”, como Manuel Freire tão bem canta na Pedra Filosofal. Ao longo dos tempos, o mundo vai-se transformando, numa evolução, nem sempre ao ritmo de adaptação de todas as gerações. Obriga ao dinamismo, empenho, conhecimento. A força física do homem ou da mulher no trabalho tornou-se mais moderada, tendo em conta um “inimigo” da mão-de obra intensiva – a máquina. Menos cansaço físico mas, por vezes, alterações do ritmo cardíaco. Essa máquina também se transforma, e surge o equipamento eletrónico. Destas evoluções resultam redução de obreiros. Como resolver o problema? Consciencialização, responsabilidade, adaptação. O tempo corre e não quer contemplações. Mas… o direito ao trabalho vê-se confrontado com as más governações, dos oportunismos pessoais, usurpações, corrupções, injustiçando dessa forma o que quer ter como bandeira a honestidade.
No nosso muito adorado País, é, desta forma arreliadora, na exemplaridade dos nossos políticos, que, muitos deles, não são o espelho da verdade, que os jovens cérebros se vêm constrangidos a trazerem à memória a canção de José Mário Branco: “Eu vim de longe; de muito longe. O que eu andei pra aqui chegar. Eu vou pra longe, pra muito longe, onde nos vamos encontrar, com o que temos pra nos dar”. E têm que emigrar.
A série de mudanças nas atividades produtivas, a que se dá o nome de Revolução Industrial, foi iniciada por volta de 1760 na Inglaterra. Na sequência de invenções o ponto central foi a utilização do vapor como força motriz. Nestas transformações profundas a evolução técnica foi o centro da Revolução Industrial. Mas, principalmente, esta foi marcada pelas modificações económicas e sociais. Surgiu assim a Primeira Revolução Industrial, com todas estas mudanças tecnológicas, económicas e sociais, entre 1760 e 1860. Foi o uso das máquinas a vapor, feitas de ferro e tendo como combustível o carvão mineral. O ramo caraterístico foi o têxtil de algodão. Apareceu também a siderurgia. A tecnologia caraterística foi a máquina de fiar, o tear mecânico.
A Segunda Revolução Industrial bate à porta em 1870, substituindo o que atrás foi referido por eletricidade, petróleo e aço. Foi um fenómeno mais dos Estados Unidos. Está por trás de todo o desenvolvimento técnico, científico e de trabalho que surge nos anos das duas Grandes Guerras. Esta segunda revolução industrial tem as suas bases nos ramos metalúrgico e químico, assumindo a indústria automobilística grande importância. A tecnologia caraterística desse período é o aço, a metalurgia, a eletricidade, a eletromecânica, o petróleo, o motor a explosão e a petroquímica.
Chegada que foi a Terceira Revolução Industrial, já nos nossos tempos, na década de 1970, teve por base a alta tecnologia, a tecnologia de ponta, tornando-se as atividades mais criativas, e exigindo qualificação elevada de mão-de-obra. É uma revolução técnico-científica. A tecnologia caraterística desse período técnico (com início no Japão) é a microeletrónica, a informática, o robô. O computador é a máquina da terceira revolução industrial.
Surge assim o Fórum Económico Mundial, organização sem fins lucrativos, sediado em Genebra, Suíça, mas mais conhecido pelas suas reuniões anuais em Davos, Suíça, realizadas no final de janeiro. Aqui se reúnem os principais líderes empresariais e políticos, bem como intelectuais e jornalistas. Discutem-se as questões mais urgentes que têm que se enfrentar mundialmente, sem esquecer o meio-ambiente e a saúde. Este Fórum Económico Mundial foi fundado em 1971 por Klaus M. Schwab, professor de administração na Suíça.
Vai já na 64ª edição que este ano se realizou de 20 a 23 de janeiro. Dominar a Quarta Revolução Industrial foi o tema desta edição. Participaram mais de 2.500 líderes de empresas, governos, organizações internacionais e sociedade civil. Segundo as notícias, as conferências, debates e encontros de alto nível, chegaram a ser mais de 200 por dia a nível oficial. O fundador e Presidente Executivo do Fórum, Klaus Schwab, referiu que “devemos ter uma compreensão abrangente e global partilhada sobre o modo como a tecnologia está a mudar as nossas vidas e das gerações futuras, transformando os contextos económicos, sociais, ecológicos e culturais em que vivemos”.
Também a crise dos refugiados, as mudanças climatéricas e o aumento dos juros internacionais foram entre os grandes temas debatidos no evento deste ano. Verificou-se ainda que 1 por cento da população global detém a mesma riqueza dos 99 por cento restantes!
A preocupação com a desaceleração chinesa se intensificou quando os dados do PIB chinês registaram o menor avanço em 25 anos. Outro tema de destaque na reunião foi a mudança estrutural que está em andamento na economia mundial, o início da Quarta Revolução Industrial, cuja maior caraterística é o aprofundamento da informática e da robótica. Foi referido que a revolução trará benefício aos países mais desenvolvidos enquanto minará empregos nos países emergentes mais intensivos de mão-de-obra. Segundo cálculos do Fórum, mais de 7 milhões de empregos podem ser eliminados por inovações tecnológicas até 2020.
Pois é, com esta da robótica, vamos ficar mais ruborizados.

(In "Notícias da Covilhã", de 11.02.2016)


10 de fevereiro de 2016

DESPIR O FATO

Portugal passou a contar na história da República com 19 Presidentes. Na I República: Manuel Arriaga, Teófilo Braga, Bernardino Machado, Sidónio Pais, João do Canto e Castro, António José de Almeida e Manuel Teixeira Gomes. Na Ditadura Militar: José Mendes Cabeçadas, Manuel Gomes da Costa, Óscar Carmona, Francisco Craveiro Lopes, e Américo Tomás. Em Democracia: António de Spínola, Francisco da Costa Gomes, António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, Aníbal Cavaco Silva, e, agora, Marcelo Rebelo de Sousa. Ainda me lembro da principal figura da instauração do Estado Novo, ou seja, este terceiro Presidente da República da Ditadura, o general Óscar Carmona, com o seu retrato a ser retirado das escolas primárias para ser substituído pelo do seu sucessor, general Craveiro Lopes. Com o meu Pai, então já retirado do ensino na Primária, mas ainda a dar aulas suplementares em Cursos de Educação de Adultos, foi azo para reter na memória estas reminiscências do passado. Tinha eu cinco anos quando faleceu o Presidente Carmona e lembro-me de, na Pousadinha, onde morava, meu Pai me mostrar as fotografias e grandes parangonas a negro (embora eu ainda não soubesse ler) dos jornais inerentes à morte de Carmona. Era um assunto então muito falado na altura: Morreu o Carmona!
Já do general Craveiro Lopes retenho outras memórias, incluindo das páginas jornalísticas que, várias vezes, evidenciavam a grande atividade social da Primeira-dama, D. Berta Craveiro Lopes, que viria a falecer aos 58 anos, um mês antes de o seu marido terminar o mandato. Em tempos também muito difíceis da década de 50 do século passado, alguns jovens escreviam à D. Berta, lamuriando-se, a solicitar emprego; as cartas algumas vezes davam resultado, sendo enviadas para as autarquias. Na Covilhã houve alguns casos com colocações na Repartição de Finanças. Mas, a melhor memória que tenho do Presidente Craveiro Lopes reporta-se à visita da Rainha Isabel II de Inglaterra a Portugal em fevereiro de 1957. A sua chegada e o desfile pelas ruas lisboetas, num coche, assim como a participação em vários eventos e banquetes marcava um fait-divers que seria as delícias da Comunicação Social. Na Biblioteca Municipal eu lia os jornais, principalmente a revista Flama, onde se podia ver, para além da Rainha Isabel II, bonita, de 30 anos, e o duque de Edimburgo, também os seus, ainda só, dois filhos: o príncipe Carlos, de 8 anos; e a princesa Ana, de 6 anos. Os príncipes André e Eduardo só viriam a nascer em 1960 e 1964, respetivamente. Eu tinha nessa altura 11 anos.
Já do último Presidente da República, em tempos de ditadura, Américo Thomaz, poucas memórias deixou, quer ele quer a Dona Gertrudes. Da Covilhã, lembro-me de uma visita que fez em que assisti à distribuição de chaves a moradores em casas de renda económica, do bairro da zona da estação de caminhos-de-ferro, isto no ano 1963, e, depois, à noite, no Pelourinho, foi vê-lo da varanda da Câmara Municipal assistindo à exibição de ranchos folclóricos; com o 3.º oficial da edilidade, José Pacheco Lança, fazendo a apresentação dos mesmos. Penso que, aquando do centenário da Covilhã-Cidade, em 1970, também cá esteve pois recordo ver o motorista da Câmara, Sebastião, dias antes, preparado para seguir para Lisboa com pessoal do Município, que, à minha pergunta curiosa, ele respondeu ir a Lisboa levar o discurso do Senhor Presidente da Câmara da Covilhã, Eng. Vicente da Costa Borges Terenas, ao Senhor Presidente da República.
Mas, na realidade, o ponto mais alto entre estes últimos dois Presidentes da República aconteceu na altura das eleições fantoches realizadas em 1958 em que Américo Thomaz foi declarado vencedor, quando, na realidade, tal façanha se verificou sim com o candidato Humberto Delgado. Se não houvesse a fraude eleitoral certamente um antecipado 25 de Abril, com outro qualquer nome, traria mais cedo a democracia ao País.
Sobre os Presidentes da República sobejamente conhecidos em democracia não vou falar, mas tão só nestas últimas eleições presidenciais, jamais vistas nos moldes em que aconteceram: uma dezena de candidatos e duas mulheres, sendo que a primeira vez que tal aconteceu (Maria de Lourdes Pintasilgo) havia sido há 30 anos, em 1986. E é à primeira volta, já esperada, que Marcelo Rebelo de Sousa ganha a nova presidência da República Portuguesa. A vitória de Marcelo Rebelo de Sousa faz-se face à derrota dos candidatos de esquerda, mas surge também perante a derrota do PS e do Governo socialista liderado por António Costa. Mas se o PS sai derrotado como partido, no seu interior mantêm-se as divisões, averbando os apaniguados de António José Seguro uma pesadíssima derrota com a baixa percentagem da sua candidata Maria Belém Roseira. Do distrito de Castelo Branco foi a Covilhã que teve menor número de votantes em Marcelo, e com a menor diferença para o segundo candidato Sampaio Nóvoa. Marisa Matias foi a melhor colocada para ser a primeira mulher presidente, tal como poderia ter vindo a surgir em situação análoga a Tsai Ong-Wen, a primeira mulher presidente de Taiwan que quer fazer frente à China.
Os portugueses continuam a marimbar-se para as eleições, com a abstenção a subir em flecha (dos 9.741.792 eleitores resultou uma abstenção de 51,16 por cento). Lá dizia Fernando Pessoa: “Chegámos ao ponto em que coletivamente estamos fartos de tudo e individualmente fartos de estar fartos”.
António Costa fez o possível por não perder as presidenciais, com a sua disparatada decisão salomónica de recomendar o voto em Maria de Belém ou Sampaio da Nóvoa.
Surge o desafio político. Para Marcelo Rebelo de Sousa já começou. ”Depois de 40 anos na vida pública, vai ter de inventar para si um novo personagem: o do homem que se senta na cadeira de Presidente da República”. Nestes 40 anos foi visto por nós quase diariamente, com roupagens diferentes: comentador, analista, popular, estratégico; criticou, elogiou, disse tudo e o contrário de tudo. Vestiu muitos fatos e, certamente, nenhum lhe vai agora servir. Será que vai despir agora o fato de professor, ou de comunicador? Disse que “será um Presidente para aproximar posições e cicatrizar feridas, para promover convergências políticas e a cultura do consenso”. Marcelo diz: “Não abdicarei do meu próprio estilo”. Portanto, vai vestir um fato à sua medida. E como viverá sem a televisão o presidente que a televisão nos deu? Na opinião de uma mão cheia de gente, os portugueses escolheram o mais popular a opinar no país. A vitória convincente nas eleições presidenciais é como que uma espécie de palmarés resultante do edifício construído com base nessa sua notoriedade televisiva. Mas pode ser o seu fim. É que Marcelo Rebelo de Sousa, o novo presidente de todos os portugueses, já não vai poder falar-nos ao ouvido todas as semanas e não vai poder manter a postura de confortável afastamento das questões concretas da vida política que tão bem cultivou. “Até agora, tivemos na presidência um militar austero, um político nato, um diplomata e um homem que se bastou a si próprio. Chegou a vez de experimentar a “vos amiga” que nos embalou durante mais de uma década”. Portanto, Marcelo vai também ter que saber vestir o seu fato de gala, e sem no mesmo deixar cair nódoas.

É que António Costa subiu ao muro, olhou e, saltando para o lado da esquerda, conseguiu dividir Portugal em duas partes (CDS e PSD do PS, PCP e BE). No entanto as feridas resultantes da peleja entre Costa e Seguro ainda não sararam e as presidenciais lançaram-lhes achas na fogueira, como aconteceu com a candidatura de Maria de Belém. Para onde vai o PS é a pergunta que muitos fazem. Tudo dependerá do sucesso ou fracasso da política económica do governo de António Costa.

(In "fórum Covilhã", de 10.02.2016)

5 de fevereiro de 2016

A BONITA IDADE DE 70 ANOS

Habituei-me, ainda menino e moço, a ler o Jornal do Fundão desde os tempos da antiga Biblioteca Municipal da Covilhã, ao jardim. Posso considerar que este semanário foi meu companheiro na sua génese, mais velho que eu exatamente dois meses. Portanto, sempre que o JF celebra o seu aniversário é uma forma de lembrar também o meu.
Recordo vários momentos, e várias personalidades, que encheram as páginas deste semanário, sempre na enérgica defesa dos interesses da região beirã, no impulso dinâmico e persistente de António Paulouro. O Jornal do Fundão foi e é ainda uma voz que é recebida pelos emigrantes deste pedaço de terra portuguesa. Não esqueço aquando das guerras nas ex-Colónias, os militares portugueses, quantas vezes em notícia e uma foto no JF. Acompanhei a suspensão do Jornal do Fundão pela maldição censória do regime ditatorial de Salazar. Ainda me recordo de à porta da Câmara Municipal, onde então eu era funcionário, o porteiro, com o último número do Jornal do Fundão mo mostrar e dizer: “Foi esta notícia que fez encerrar o Jornal do Fundão”.
Algumas vezes tive o prazer de poder ver alguns textos meus inseridos no espaço deste semanário, bem como algumas referências a eventos onde participei. Ainda tenho em meu poder uma carta do JF datada de 2 de janeiro de 1989 devolvendo-me o valor das ações que então adquirira numa ajuda solicitada pelo Jornal do Fundão e que fora subscrita por muitos amigos durante algumas semanas, oferecendo solidariedade numa hora difícil da sobrevivência do jornal. Nas estantes da minha biblioteca lá estão os livros das Jornadas da Beira Interior, promovidas pelo Jornal do Fundão.
É nesta vertente de leitor que eu desejo a continuidade da força e iniciativas deste Semanário, em prol da Beira Interior. Parabéns!
João de Jesus Nunes

Covilhã

(In "Jornal do Fundão", de 04.02.2016)