Portugal passou a contar na
história da República com 19 Presidentes. Na
I República: Manuel Arriaga, Teófilo Braga, Bernardino Machado, Sidónio
Pais, João do Canto e Castro, António José de Almeida e Manuel Teixeira Gomes. Na Ditadura Militar: José Mendes Cabeçadas, Manuel Gomes da Costa, Óscar Carmona,
Francisco Craveiro Lopes, e Américo Tomás. Em
Democracia: António de Spínola,
Francisco da Costa Gomes, António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio,
Aníbal Cavaco Silva, e, agora, Marcelo Rebelo de Sousa. Ainda me lembro da principal
figura da instauração do Estado Novo, ou seja, este terceiro Presidente da
República da Ditadura, o general Óscar Carmona, com o seu retrato a ser
retirado das escolas primárias para ser substituído pelo do seu sucessor,
general Craveiro Lopes. Com o meu Pai, então já retirado do ensino na Primária,
mas ainda a dar aulas suplementares em Cursos de Educação de Adultos, foi azo
para reter na memória estas reminiscências do passado. Tinha eu cinco anos quando
faleceu o Presidente Carmona e lembro-me de, na Pousadinha, onde morava, meu
Pai me mostrar as fotografias e grandes parangonas a negro (embora eu ainda não
soubesse ler) dos jornais inerentes à morte de Carmona. Era um assunto então
muito falado na altura: Morreu o Carmona!
Já do general Craveiro Lopes
retenho outras memórias, incluindo das páginas jornalísticas que, várias vezes,
evidenciavam a grande atividade social da Primeira-dama, D. Berta Craveiro
Lopes, que viria a falecer aos 58 anos, um mês antes de o seu marido terminar o
mandato. Em tempos também muito difíceis da década de 50 do século passado, alguns
jovens escreviam à D. Berta, lamuriando-se, a solicitar emprego; as cartas
algumas vezes davam resultado, sendo enviadas para as autarquias. Na Covilhã
houve alguns casos com colocações na Repartição de Finanças. Mas, a melhor
memória que tenho do Presidente Craveiro Lopes reporta-se à visita da Rainha
Isabel II de Inglaterra a Portugal em fevereiro de 1957. A sua chegada e o
desfile pelas ruas lisboetas, num coche, assim como a participação em vários
eventos e banquetes marcava um fait-divers
que seria as delícias da Comunicação Social. Na Biblioteca Municipal eu lia
os jornais, principalmente a revista Flama, onde se podia ver, para além da Rainha
Isabel II, bonita, de 30 anos, e o duque de Edimburgo, também os seus, ainda só,
dois filhos: o príncipe Carlos, de 8 anos; e a princesa Ana, de 6 anos. Os
príncipes André e Eduardo só viriam a nascer em 1960 e 1964, respetivamente. Eu
tinha nessa altura 11 anos.
Já do último Presidente da
República, em tempos de ditadura, Américo Thomaz, poucas memórias deixou, quer
ele quer a Dona Gertrudes. Da Covilhã, lembro-me de uma visita que fez em que
assisti à distribuição de chaves a moradores em casas de renda económica, do
bairro da zona da estação de caminhos-de-ferro, isto no ano 1963, e, depois, à
noite, no Pelourinho, foi vê-lo da varanda da Câmara Municipal assistindo à exibição
de ranchos folclóricos; com o 3.º oficial da edilidade, José Pacheco Lança,
fazendo a apresentação dos mesmos. Penso que, aquando do centenário da
Covilhã-Cidade, em 1970, também cá esteve pois recordo ver o motorista da
Câmara, Sebastião, dias antes, preparado para seguir para Lisboa com pessoal do
Município, que, à minha pergunta curiosa, ele respondeu ir a Lisboa levar o
discurso do Senhor Presidente da Câmara da Covilhã, Eng. Vicente da Costa
Borges Terenas, ao Senhor Presidente da República.
Mas, na realidade, o ponto
mais alto entre estes últimos dois Presidentes da República aconteceu na altura
das eleições fantoches realizadas em 1958 em que Américo Thomaz foi declarado
vencedor, quando, na realidade, tal façanha se verificou sim com o candidato
Humberto Delgado. Se não houvesse a fraude eleitoral certamente um antecipado
25 de Abril, com outro qualquer nome, traria mais cedo a democracia ao País.
Sobre os Presidentes da
República sobejamente conhecidos em democracia não vou falar, mas tão só nestas
últimas eleições presidenciais, jamais vistas nos moldes em que aconteceram: uma
dezena de candidatos e duas mulheres, sendo que a primeira vez que tal
aconteceu (Maria de Lourdes Pintasilgo) havia sido há 30 anos, em 1986. E é à
primeira volta, já esperada, que Marcelo Rebelo de Sousa ganha a nova
presidência da República Portuguesa. A vitória de Marcelo Rebelo de Sousa
faz-se face à derrota dos candidatos de esquerda, mas surge também perante a
derrota do PS e do Governo socialista liderado por António Costa. Mas se o PS
sai derrotado como partido, no seu interior mantêm-se as divisões, averbando os
apaniguados de António José Seguro uma pesadíssima derrota com a baixa
percentagem da sua candidata Maria Belém Roseira. Do distrito de Castelo Branco
foi a Covilhã que teve menor número de votantes em Marcelo, e com a menor
diferença para o segundo candidato Sampaio Nóvoa. Marisa Matias foi a melhor
colocada para ser a primeira mulher presidente, tal como poderia ter vindo a
surgir em situação análoga a Tsai Ong-Wen, a primeira mulher presidente de
Taiwan que quer fazer frente à China.
Os portugueses continuam a
marimbar-se para as eleições, com a abstenção a subir em flecha (dos 9.741.792
eleitores resultou uma abstenção de 51,16 por cento). Lá dizia Fernando Pessoa:
“Chegámos ao ponto em que coletivamente
estamos fartos de tudo e individualmente fartos de estar fartos”.
António Costa fez o possível por não perder as
presidenciais, com a sua disparatada decisão salomónica de recomendar o voto em
Maria de Belém ou Sampaio da Nóvoa.
Surge o desafio político. Para
Marcelo Rebelo de Sousa já começou. ”Depois de 40 anos na vida pública, vai ter
de inventar para si um novo personagem: o do homem que se senta na cadeira de
Presidente da República”. Nestes 40 anos foi visto por nós quase diariamente,
com roupagens diferentes: comentador, analista, popular, estratégico; criticou,
elogiou, disse tudo e o contrário de tudo. Vestiu muitos fatos e, certamente,
nenhum lhe vai agora servir. Será que vai despir agora o fato de professor, ou
de comunicador? Disse que “será um Presidente para aproximar posições e
cicatrizar feridas, para promover convergências políticas e a cultura do
consenso”. Marcelo diz: “Não abdicarei do meu próprio estilo”. Portanto, vai
vestir um fato à sua medida. E como viverá sem a televisão o presidente que a
televisão nos deu? Na opinião de uma mão cheia de gente, os portugueses
escolheram o mais popular a opinar no país. A vitória convincente nas eleições
presidenciais é como que uma espécie de palmarés resultante do edifício construído
com base nessa sua notoriedade televisiva. Mas pode ser o seu fim. É que
Marcelo Rebelo de Sousa, o novo presidente de todos os portugueses, já não vai
poder falar-nos ao ouvido todas as semanas e não vai poder manter a postura de
confortável afastamento das questões concretas da vida política que tão bem
cultivou. “Até agora, tivemos na presidência um militar austero, um político
nato, um diplomata e um homem que se bastou a si próprio. Chegou a vez de
experimentar a “vos amiga” que nos embalou durante mais de uma década”.
Portanto, Marcelo vai também ter que saber vestir o seu fato de gala, e sem no
mesmo deixar cair nódoas.
É que António Costa subiu ao
muro, olhou e, saltando para o lado da esquerda, conseguiu dividir Portugal em
duas partes (CDS e PSD do PS, PCP e BE). No entanto as feridas resultantes da
peleja entre Costa e Seguro ainda não sararam e as presidenciais lançaram-lhes
achas na fogueira, como aconteceu com a candidatura de Maria de Belém. Para
onde vai o PS é a pergunta que muitos fazem. Tudo dependerá do sucesso ou
fracasso da política económica do governo de António Costa.
(In "fórum Covilhã", de 10.02.2016)
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