16 de março de 2016

A HIPÉRBOLE

1.Já não morremos de medo neste Portugal profundo de crises e oportunismos. Também já não rebentamos de tanto rir porquanto o presidente que cessou deixa de surgir no horizonte das nossas memórias. Estamos fartos de a todos nos quererem medir pela mesma bitola, naquele enfado, de que o que eles fazem é que não é geringonça, sem nunca se enganarem e raras vezes terem dúvidas, conforme reflexos do finado chefe, considerando os outros quais bichos-careta, talvez num saudosismo do pensamento único. Aquele que foi o presidente de todos os portugueses de Boliqueime.
Esperemos que Marcelo, terminados que foram os seus comentários políticos como protagonista do programa televisivo “As Escolhas de Marcelo” não se venha a retratar em “Conversas em Família”, do outro seu homónimo, de outros tempos. Que a sua isenção não seja como naqueles tempos de não ficar com os cabelos em pé quando se pronunciava contra as suas cores, no seu programa televisivo, de grandes audiências, mas que, de imediato, se juntava aos seus pares, de braço dado, aquando das campanhas laranjas. No entanto, a forma como se pronunciou eloquentemente no seu discurso de tomada de posse, a sua simpatia e diálogo com todos, e a participação ativa nos primeiros atos que a muitos sensibilizaram, leva a crer que poderemos ter um Presidente à altura da ansiedade dos portugueses, como que um lenitivo para as suas sofridas vidas. A forma conducente de querer ajudar os obreiros do País e de lhes dar uma alma diferente, assim o esperam todos os Portugueses.
2.O jornalismo atravessa uma grave crise, o que não é de estranhar. Não é só o problema de falta de leitores, da sua redução na versão papel, não deixando assim que venha a servir para embrulhar um par de sapatos quando já lido, de afastarem o apalpar das suas páginas e o cheiro do papel, passando-o a virtual, onde a leitura online ainda não é desiderato de todos. O problema passa ainda por uma seleção de interesses. Não se deve vender sensacionalismo, com muitas notícias exacerbadas e com contornos de provocação, quer na imagem quer no texto. São merecedoras de repulsa. No entanto, o diário sobejamente conhecido e mais lido em Portugal, versado neste tipo de jornalismo, bem como o seu canal televisivo, é aquele que primeiro está in loco e dá conta (notícia) de tudo. Porquê algumas notícias são encobertas, ou omitidas, por outros órgãos da comunicação social?
Vejamos alguns dos regionais, onde não choram rios de lágrimas, tantas vezes no esquecimento de factos e de figuras, duma forma confrangedora; fora dos acontecimentos em tempo, omitindo ou subtraindo conteúdo informativo, não vá desagradar a quem os protege financeiramente.
“Um pobre que morre não é notícia, mas se as bolsas baixam há um escândalo” são palavras do Papa Francisco, improvisadas para alertar contra a indiferença e a “cultura do descartável”.
Segundo o “Público”, de 1 de março, “há uma componente financeira e económica poderosíssima que está a condicionar a comunicação social em vários países”. Em Portugal desapareceu uma boa fatia da imprensa local, regional, e até nacional, assim como das rádios locais. E as televisões estão com grandes dificuldades. Segundo o mesmo diário, “O papel da comunicação social é essencial para a democracia. Todos os dias se cria democracia através da comunicação social: acertando, errando, cultivando a liberdade de expressão, resistindo aos condicionalismos económicos e financeiros”.
O historiador Pacheco Pereira e o presidente da ERC, Carlos Magno, pintaram um cenário quase dantesco sobre o jornalismo que hoje se pratica em Portugal, criticando o “pensamento único” e a “enorme e cada vez maior sensibilidade da comunicação social face ao discurso do poder”.
3. Os “Costas” de Portugal. Não é, ou não foi, um frente-a-frente, mas sim uma luta de costas. António Costa, o primeiro-ministro, contra Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal. Terá razão o primeiro-ministro Costa pedir a demissão do governador Costa? Será que o primeiro tenta governar e o segundo faz de conta que governa? Penso que Costa, o governador do BP, já teve mais do que tempo para mostrar a sua competência, a qual não é o seu forte.

É desolador verificar o que se passou na banca nos últimos anos, com um trabalho de incompetência do Banco de Portugal. Quem paga as favas são os portugueses, principalmente os de menores recursos, pagando todo o faval dos casos BPN, BPP, BCP, Finantia, BES e Banif. Não será muita fruta para tão pouca competência, a que não será alheio o anterior governador, Vitor Constâncio, que se pavoneia como vice-governador do Banco Central Europeu (BCE) com a remuneração-base de 330 744 euros? Palavras para quê? São dois “artistas” portugueses e não se sabe se usam a tal pasta medicinal.

(In "Notícias da Covilhã", de 17-03-2016)

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