Com esta canícula, em período de
férias, iniciada a silly season (quando
alguns dizem que neste ano a mesma nem chegou a existir), com o futebol ainda em preparação para as grandes contendas
desportivas, na época que já emergiu para novas grandes decisões, não há grande
inspiração para o cronista.
Os portugueses numa onda
ganhadora de títulos. Ainda não se vê D. Marcelo I, da era de Costa, cansado de
tanta atribuição de comendas. Que isto de medalhas é só mandar executá-las. Estamos
na Europa (e prenúncio na América) com o feminino a botar de sua justiça: Angela
Merkel, Theresa May e Hillary Clinton. Há pelo menos um respirar de alívio por
falta de tédio: deixou de se falar tanto em sanções, atentados, Brexit, o
êxtase patriótico no retorno à unidade orgânica da pátria com o fim das
divisões malvadas, ainda que temporariamente enquanto o cachecol da seleção
esteve em todos, e, como diz Pacheco Pereira, também “com os artistas menores
do PSD, porque o maior mantém a compostura de primeiro-ministro no exílio. Traz
a bandeirinha à lapela e a zanga com o destino que lhe deu a geringonça no
bolso”. Entretanto, Portugal ganhou mais um título – “A Taça das Zero Sanções”.
Mas para se ganhar no campeonato
político é preciso uma intensa atividade, com a persistência como último fôlego,
no tempo de compensação das disputas desportivas da alta competição, ou no seu
período de prolongamento.
Consta que valeu terem os
“árbitros assistentes” Jean-Claude Juncker (luxemburguês) e Carlos Moedas (português)
levantado bem as bandeirinhas ao “árbitro” Jeroen Dijsselbloem que queria assinalar
grande penalidade contra Portugal.
Agora o estranho é que o Goldman
Sachs tenha escolhido outro árbitro, que passou à reserva, José Manuel Durão
Barroso, lusitano, para ir apanhar Pokémons “americanos”, nos seus jardins,
considerada já uma escolha provocatória.
É que Barroso ocupou durante dois
anos o cargo de primeiro-ministro de Portugal e dez anos presidente da Comissão
Europeia, sem ter conseguido pescar em Portugal peixe algum para além do
cherne. E em Bruxelas ser um alto servidor de Merkel, varrendo o lixo para
debaixo do tapete. Ele que foi apanhado a dormir pela crise que em 2008 varreu
a Europa.
Bom, mas agora são férias,
senhores.
É uma oportunidade para na
recente febre da busca de Pokémons encontrarmos, como têm dito, um valioso analisador
do estado da nossa vida coletiva.
Pelas Américas teremos eleições
presidenciais lá para Novembro. Donald Trump devia ir numa cápsula para outro
planeta, o despromovido Plutão.
Mas, já que estou numa destas de
visitar, pela segunda vez, Israel e Jerusalém, daqui por uns dias, como o
fizera há nove anos, trago a este espaço as principais figuras israelitas do
momento, que, tal como por outras bandas do planeta, têm as suas composturas
próprias, aceites por uns, repudiadas por outros.
O Primeiro-ministro é Benjamin
Netanyahu, nascido em 1949, do partido Likud, que está cumprindo o seu 2.º
mandato, e que iniciou em 31 de março de 2009 (o 1.º mandato exerceu-o de 18 de
junho de 1996 a 6 de julho de 1999).
O cargo de Primeiro-ministro do
Estado de Israel é o mais alto do governo, apesar de que oficialmente o Chefe
de Estado seja o Presidente.
Mas há uma outra figura,
controversa, que se chama Avigdor Lieberman, o mais contestado, que é o
ministro da Defesa de Israel, desta potência nuclear, campeã da ocupação ilegal
de outro povo.
Os árabes israelitas, ou seja,
palestinianos que ficaram com cidadania israelita em 1948, são hoje um quinto
da população de Israel. O equivalente a dois milhões de portugueses, só que com
menos direitos.
Lieberman é um judeu de língua
russa, nascido na ex-URSS, como muitos que vieram entretanto morar para Israel.
Em julho passado Lieberman resolveu comparar o escritor Mahmoud Darwish a
Hitler e dizer que os poemas dele são “um fuel do terrorismo”, segundo narra a
jornalista Alexandra Lucas Coelho, a residir em Jerusalém, “ofendendo assim não
apenas todos os palestinianos, como milhões de árabes que têm Darwish como um
dos maiores nomes da sua cultura”.
Mahmoud Darwish, que morreu em
2008, foi sempre um laico. Nascido na Galileia, teve de fugir com a família
para o Líbano em 1947. Quando voltou, depois da declaração do Estado de Israel,
já não podia ser cidadão. Fez-se comunista em Haifa, no Norte de Israel,
integrando a OLP, já no exílio, e escreveu a declaração nacional da Palestina
para Arafat ler. Saiu da OLP em desacordo com os Acordos de Oslo, que não
resolviam a questão dos refugiados palestinianos no Líbano, Síria e Jordânia.
Ao mesmo tempo não punha em causa a existência de Israel, defendendo a solução
dois estados. Foi um forte crítico do Hamas, e da divisão palestiniana em 2007.
Os palestinianos veneram-no como símbolo nacional. A sua prosa e poesia fazem
parte de currículos escolares do Levante ao Magrebe.
Mahmoud Darwish quando namorava a
judia Tamar Ben Ami, escreveu várias cartas de amor, e alguns poemas, alguns
deles vistos pelos palestinianos como uma referência à pátria.
Antes de Tamar, outra judia
marcou o seu percurso: Shoshana Lapidot, professora de hebraico, enviada pelo
governador militar para Yasif, a aldeia onde a família do poeta se instalou
quando o pai decidiu fugir das tendas de refugiados no Líbano.
Observemos a doçura dos versos do
poeta Darwish para a sua amada Tamar Ben Ami, a quem considerava a judia de
“olhos cor de mel”: “Tamari (diminutivo
carinhoso), não estou a escrever mas a
sussurrar ao teu ouvido/ (…) Estás no meu quarto/na minha cama/na minha mala/no
meu livro/na minha caneta/no meu coração e no meu sangue/ Teu Mahmoud.”
Em 1967, Mahmoud Darwish foi
preso, porque as autoridades militares israelitas consideravam os seus poemas
subversivos. Em 1970, ele mudou-se para Moscovo. Em 1992, Darwish entrou na
Cisjordânia pondo fim ao exílio.
(In "fórum Covilhã", de 09-08-2016)
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