Há quem viva com a nostalgia do
passado, olhando para aquilo que viveu como o melhor tempo da sua vida. Isto,
se numa atitude excessivamente retroativa, pode obstaculizar na mudança daquilo
que precisa de ser mudado e melhorado. Há grandes lições a tirar do passado,
recente ou remoto, mas também há grandes descobertas e algumas surpresas. Isto
quer dizer que há assim uma oportunidade de renovar o que tem de ser renovado e
esquecer o que deve ser esquecido. Isto também é bom olhar para esse tempo porque
pode conter sinais inequívocos daquilo que é importante para nós no presente e
permite determinar prioridades para o futuro.
O homem tanto vive na maior
abastança como sobrevive na maior pobreza. Isto é um autêntico paradoxo. Com a
subida ou descida da esperança de vida, a iliteracia, a higiene, a segurança, o
homem está cá para o que der e vier e se adaptar às boas ou más condições que é
capaz de construir, renascendo todos os dias.
Isto é assim mesmo. Nascemos no Deus, Pátria e Família de Oliveira Salazar.
Assistimos, na Rocha Conde de Óbidos, ao paquete Santa Maria está entre nós, depois de algum tempo ter desfraldado
pelos mares como Santa Liberdade, com
Henrique Galvão. Mas já antes havíamos assistido ao nascer da televisão, isto
no ano de 1957, com a vinda da linda Rainha Isabel II da Inglaterra, e os seus
dois filhotes, isto, na altura, o Carlos e a Ana. E, mais tarde, o Xá da
Pérsia, Mohammad Reza Pahlavi. E, nos seus écrans
da televisão, a preto e branco, de um só canal, durante 21 anos, recordámos
o Jorge Alves, no seu Cartaz TV, da RTP, com a inesquecível frase: “Olá amigos!”. No desporto, o habitual
jornalista, isto é, Alves dos Santos.
Mas isto também quer dizer, que,
em 1958, vimos o General Humberto Delgado a causar arrepios a Salazar, e também
os bufos da PIDE instalados e encapotados em tudo quanto era sítio.
Isto, avançando no tempo, dava
para memorizar mais, mas vamos pelas guerras africanas, prenúncio do que nos
obrigaria a entrar em contingentes militares para defender Guiné, Angola e Moçambique,
com o Angola é Nossa!, depois de
Nehru ter invadido Goa, e lá ficámos sem a primeira possessão ultramarina –
Índia Portuguesa. Isto quer dizer que a memória terá que fazer uma pequena
marcha atrás para a independência do então Congo Belga, que após várias
alterações passou a denominar-se República do Zaire e atualmente República
Democrática do Congo. Recordamo-nos das lutas desenfreadas entre Kasavubu,
Lumunda, e depois com as garras de Mobutu. Mais tarde, a morte de Che Guevara e
a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
E, com isto, chega a nossa vez de
vestir a farda militar, estávamos no ano 1968, por obrigação, com uns cá, e,
outros a caminho das então Províncias Ultramarinas, regressando, os que
felizmente conseguiram, mas com problemas de stress traumático e, outros,
molestados fisicamente. Mas, já em 1969, houve um documento histórico num
Manifesto da Oposição Democrática ao regime vigente, com António Alçada
Batista, para as eleições fantoches, mais uma vez, que se avizinharam. Que,
isto de fantoches, na rua, nos tempos que correm já não se vêm, mas, nesses
tempos, era fácil cativar muitas gente para um simples espetáculo de rua, com
esse bonecos de vos aguda
E é ainda que em 1969, como
militares, encontrando-nos adidos em Paço de Arcos a frequentar um curso de
testes psicotécnicos, em Caxias, demos uma salto a Lisboa, à noite, para
assistirmos ao filme Helga – o Segredo da Maternidade, que se estreara no
cinema Vox, na Avenida de Roma, no dia 24 de julho desse ano. Este filme, para
maiores de 21 anos (altura da maioridade) custou-nos 25$00, muita massa para
esse tempo. Chegara a Portugal e trouxe consigo a polémica. Num país castrado
pelo regime de Salazar, Helga – O Segredo da Maternidade, veio, com o seu
realismo, abalar as estruturas mais conservadoras, pouco acostumadas a tanta
verdade assim exposta.
Veio o 25 de Abril a cores, com o
ano 1975 a preto e branco, depois os anos 76, 77; e os anos 80 dos governos
épicos de Mário Soares, o novo paradigma da União Europeia, o nunca me engano e raramente tenho dúvidas
de Cavaco, as dúvidas de Guterres, a “fuga europeia” de Durão Barroso; e, isto
vai daí, seguiram-se Santana Lopes, Sócrates, Passos, até chegarmos aqui, a
isto – a Geringonça, inventada por Vasco Pulido Valente na sua então habitual
crónica no Público, na “histórica” data de 31 de agosto de 2014, muito bem
aproveitada por Paulo Portas, que, se adivinhasse o seu sucesso, talvez não lhe
desse ênfase no Parlamento. É que assim voltou-se o feitiço contra o
feiticeiro, tal o sucesso com que a mesma envolve o governo de António Costa.
(In "Notícias da Covilhã", de 16/03/2017)
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