Já não é a primeira vez que
escrevo sob o tema “A Mulher”. Curiosamente, isto foi acontecendo em cada
quadriénio, para além dos casos individuais: “As Mais Bonitas” – 2004; “A
Mulher na Sociedade Portuguesa” – 2008; “O Reino das Mulheres” – 2012.
Regresso hoje ao tema, tendo em
conta que recentemente (8 de março) se comemorou o Dia Internacional da Mulher.
Acho que os dias internacionais, e
outros dias comemorativos, acabam por ser já demasiado extensivos a muitas
figuras e a muitas coisas, tornando as celebrações pouco sentidas, nuns casos,
noutros desprezadas.
Não será o caso do que se reporta
à Mulher, no seu Dia Internacional, pelos motivos sobejamente conhecidos, ou ao
Dia da Mãe, por exemplo.
Se tivermos em conta que a mulher
foi ao longo dos tempos da sua existência sempre envolta pelo sofrimento, nas muitas
vertentes da sua vivência desde que veio ao Planeta – maldita serpente que
iludiu Eva a comer a maçã proibida – o que é certo e verdade é que sem a mulher
o homem não raiava na sua plena felicidade, ainda que, nos tempos que correm,
muitos possam tornar esta parte discutível.
Não falando já da escravidão a
que sempre foi votada, desde os tempos bíblicos, às religiões muçulmanas
radicais, a mulher foi desde sempre envolta nos mais perniciosos costumes e
abusos, como sejam as mutilações genitais nos países africanos de grande
atraso, às proibições de se poderem desenvolver culturalmente, às poligamias,
etc. Se até o Rei David e seu filho Rei Salomão, a. C., consta terem tido mil
mulheres, por aqui se pode ver a finalidade com que, desde sempre, foi
considerada para o prazer.
A mulher veio ao de cima e lançou
o grito do Ipiranga, que há muito tardava, embora ainda hoje perdure como nos
tempos de outrora, em muitas zonas da Terra, em pleno Século XXI, desta era
robótica.
Até à revisão do Código Civil em
1977 era indubitável que, em casa, era o homem que mandava, sem hipótese de
protesto da mulher, já que a lei não estava do seu lado. O “poder marital” foi
substituído pelo conceito de “deveres de cooperação”. Passou então a ditar que
“o dever de cooperação importa para os cônjuges a obrigação de socorro e
auxílio mútuos e a de assumirem em conjunto as responsabilidades inerentes à
vida da família que fundaram”.
Sendo certo que o Código Civil de
1966, que vigorou entre 1967 e o final dos anos 70 recuou na igualdade que
tinha sido garantida nas Leis da Família em 1910; logo após a implantação da
República, as mulheres portuguesas passaram a ter novos direitos, como, por
exemplo, os maridos deixaram de poder obrigá-las a regressar ao domicílio
conjugal; elas continuaram a ter de adotar a residência dos maridos e a ter de
segui-los, situação que veio a mudar em 1977. Entre outras alterações, o
divórcio foi legalizado em Portugal em 1910, atribuindo o mesmo peso ao
adultério deles e delas. A virgindade das mulheres, que podia ser motivo para
anular uma união, só desapareceu do Código Civil em 1977.
Com o Estado Novo, houve mais
retrocessos que avanços. O direito de voto às mulheres foi concedido nos anos
30 do século XX, mas no entanto tinham que ter estudos secundários, enquanto
aos homens “bastava saber ler e escrever”. Só com o 25 de Abril foi conseguido
o voto universal, garantido nas primeiras eleições livres. Muitas outras
alterações houve que não cabem neste espaço.
Mas falemos ainda da mulher, que,
segundo o escritor Honoré de Balzac, “É o ser mais perfeito entre as criaturas;
é uma criação transitória entre o homem e o anjo”; ou, segundo o escritor Jack
London, “O homem distingue-se dos outros animais por ser o único que maltrata a
sua fêmea”; ou na forma humorística do ator Marcel Achard: “Quando mais gosto
das mulheres é quando beijam, porque então têm de estar caladas”, não
esquecendo o dramaturgo William Shakespeare que refere “Quando uma rapariga diz
‘não’ com humildade, deseja que isso se entenda como um ‘sim’ ”.
De Norte a Sul do País
debateu-se, em várias vertentes, e com vários apoios, a condição das mulheres,
algumas sob o mote “Não Me Calo”.
E as suas justas reivindicações,
ao longo dos tempos, têm paulatinamente sido conseguidas. Pois o que começou –
Dia Internacional da Mulher – “como homenagem à greve organizada em 1908 pela
União Internacional das trabalhadoras do setor de vestuário nos Estados Unidos
é hoje uma oportunidade para as mulheres de todo o mundo demonstrarem o seu
empenho na igualdade política, económica e social”.
Ainda que Portugal esteja entre
os melhores países da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico – para as mulheres trabalharem, no que toca à igualdade entre homens
e mulheres no mercado de trabalho, elas ainda ganham menos dois salários do que
eles, tendo em conta, entre outras situações, que os homens ganham mais 16,7%
do que as mulheres, com um caminho a percorrer até à meta da igualdade ainda
longo, segundo dados do Eurostat.
Muitos avanços já foram
conseguidos, como nas vinte maiores empresas cotadas na bolsa de valores de
Lisboa – PSI-20, as quais têm de integrar 20 mulheres na gestão.
E elas são algumas das mulheres
mais poderosas do mundo, segundo a crítica, ainda que discutível nalguns casos:
Merkel. Chanceler alemã que manda na
Europa; Theresa May. A mulher à
frente do Brexit no Reino Unido; Isabel
dos Santos. Empresária com fama de ser dura a negociar; Christine Lagarde. Diretora-geral do
Fundo Monetário Internacional (FMI); Aung
San Suu Kyi. A mulher de ferro da Birmânia. Angelina Jolie. Atriz e ativista; Marine Le Pen. Candidata
presidencial francesa e líder do partido de extrema-direita Frente
Nacional; Janet Yellen. Americana,
Presidente da Reserva Federal; Federica
Mogherini. Alta representante da União Europeia para a Política Externa; Helen Clark. Administradora do Programa
de Desenvolvimento das Nações Unidas. Park
Geun-hye. Presidente da Coreia do Sul. Sheryl
Sandberg. Diretora de operações do Facebook; Mary Barra. Presidente da General Motors (GM); Ana Patricia Botín. Presidente do grupo Santander; Marissa Mayer. Presidente da Yahoo; Nicola Sturgeon. Primeira Ministra da
Escócia; Ginni Rometty. CEO da IBM; Indra Nooyi. CEO da PepsiCo; Paula Amorim. É a nova chairwoman da
Galp.
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