Habituei-me a gostar do desporto, e do futebol em
particular, desde menino e moço, como tantos de nós, pelo que isto não é
novidade alguma.
Mas particularizar coletividades ou instituições, por
este ou aquele pormenor que passou pelas nossas vidas, já se reveste de outra
atitude. Está no nosso âmago.
Naqueles idos anos 60 do
século passado vivia intensamente a vida do clube da minha Terra – o Sporting
Clube da Covilhã – e também apreciava com uma certa profundidade todos os
clubes que com ele vinham jogar.
Não só os mais famosos clubes
da então Primeira Divisão (hoje, I Liga), mas também dum tempo nostálgico da CUF
do Barreiro, do Lusitano de Évora, do Clube Oriental de Lisboa, do Atlético
Clube de Portugal, do Caldas Sport Clube, do Sport Comércio e Salgueiros.
Foi assim que também surgiu o
Sporting Clube Olhanense, sabendo que era uma das coletividades que percorria
maior distância, vindo de terras algarvias, para chegar às faldas da Serra da
Estrela, na sua porta principal que é a Covilhã. Era então uma cidade laneira
com muitas fábricas de lanifícios distribuídas ao longo das ribeiras da
Carpinteira e da Degoldra; e pela sua região, como o Tortosendo, Unhais da
Serra e o Teixoso. Hoje, não deixando esse vínculo, seu ex-libris, é mais uma
cidade universitária, com a sua Universidade da Beira Interior recentemente
considerada uma das melhores 150 novas universidades do mundo.
Quando terminavam os jogos com
o Sporting da Covilhã, nós, miúdos, esperávamos que saíssem os atletas de ambas
as equipas. Recordo do Olhanense, por exemplo, o guarda-redes Filhó e o Reina.
Depois, a partir de segunda-feira era ver na antiga Biblioteca Municipal,
sediada então ao Jardim Público, os jornais, principalmente “O Comércio do Porto”
porque vinha recheado de todos os resultados e equipas que haviam jogado, duma
forma minuciosa.
Mais tarde, ainda nos anos 60,
vou iniciar o serviço militar obrigatório, no antigo CISMI, em Tavira. Logo aí,
um dos instrutores do meu pelotão, era o 1.º Cabo Miliciano Santa Rita, que
jogava no Farense. Depois, aos sábados
ou domingos, alguns passeios com os colegas, e, de comboio, lembro-me de ter
ido até Olhão. Daqui enviei um postal sobre a cidade, que ainda conservo, à
então minha namorada. Enfim, foi o futebol, os clubes, os jogadores, a vida
gravada de uma certa nostalgia.
Depois, o “bichinho” da
escrita leva-me a publicar o meu segundo livro, este sobre a vida do Sporting
Clube da Covilhã, em 1992. E parecia não parar, quer por via de entusiasmo pessoal,
nas suas figuras e factos, ou por incitamento de amigos. E, assim, sobre a vida
do clube serrano vieram a surgir mais três obras, em 1993, 1998 e 2007.
O meu olhar voltou-se para as
terras algarvias, com relevo para Olhão, nas pesquisas de antigos atletas que
integraram as cores verde-brancas do clube da minha Terra. E isto porque Olhão,
e o Algarve, foi um viveiro onde o Sporting da Covilhã (SCC) foi buscar valores
para a sua equipa: José Rita, os irmãos Cávem, Helder Toledo, Francisco
Palmeiro, Eminêncio, e o grande amigo, já desaparecido, Fernando Cabrita.
Depois, outros que haviam vestido a camisola do SCC, também passaram pelo
Olhanense (SCO), como o guarda-redes Arnaldo, e o Adventino.
Passando pelos jornais, como
cronista, levou-me ao contacto com o quinzenário “O Olhanense”, o qual passei a
assinar, fruto duma amizade espontânea, e no sentido de colaboração comigo, do
saudoso e já falecido carola, Augusto Ramos Teixeira, com quem conversei várias
vezes telefonicamente, mas que o destino não me deixou conhecê-lo pessoalmente.
Assim como o antigo diretor, Herculano Valente.
Entre crises desportivas, e
outras vertentes da vida, mas risonhas, se foram avivando lembranças de clubes,
de seus jornais, com tudo o que os mesmos inserem, memórias vivas, outras já
desaparecidas, ganhando-se também um rol de amizades.
Assim aconteceu com o Sporting
Olhanense, e o seu Jornal de excelência, que dá prazer ler, quando se vê aquela
quantidade de colaboradores que lhe dão um cunho cultural importante, muito para
além do desporto em exclusivo, o que é sintomático de uma cultura citadina
interessante, e, como eu também gosto, na memorização de coisas, factos e
figuras do passado, nas teclas do computador do amigo, que também não conheço
pessoalmente, Mário Proença, a alma do Jornal.
Tive a felicidade, sim, de
conhecer pessoalmente, num jogo entre o SCC e SCO, na Covilhã, Júlio Favinha,
então diretor do vosso clube, depois de me dar a conhecer.
Mais tarde, num jantar
comemorativo dos Leões da Serra, na Covilhã, tive também o prazer de conhecer o
amigo Presidente do Olhanense e Diretor deste Jornal, José Isidoro Sousa, e sua
Esposa, que se encontravam na minha mesa.
A amizade é uma festa, como eu
costumo dizer, independentemente de crises e situações menos boas por que os
clubes passam.
Vem, pois, a propósito, nestas
comemorações que se realizaram dos 105 anos do SCO, de formular os meus votos
de longa vida para o grande Clube que é o Sporting Clube Olhanense, recheado de
muitos pergaminhos na sua vida desportiva, ao serviço não só da Cidade que o
viu nascer, mas também deste Portugal de quase nove séculos.
Entre tristes e ledas
madrugadas se vai caminhando na vida das coletividades, como a atual crise por
que está a passar o SCO, mas não há que baixar os braços, e é de remar contra a
maré, e prosseguir o caminho no sentido de o mais rapidamente possível, voltar
ao lugar que merece no panorama do futebol português. O Clube da minha Terra
também já passou, por várias vezes, por situações análogas. Não baixar os
braços, como é timbre dos homens do mar, é ganhar ânimo para que depois da
tempestade venha a bonança. Ela virá, com certeza.
O Clube, o Jornal (que o meu
SCC deixou de ter), os Livros. São estes que também trazem as estórias para a
história das Coletividades. Na minha biblioteca tenho, de Raminhos Bispo, “O
Sporting Clube Olhanense – 90 Anos de História”, em dois volumes, que já me
deliciou com as descrições de alguns jogos entre os nossos dois Clubes, então
na antiga Primeira Divisão. Também nos meus faço algumas referências aos nossos
Clubes. São memórias que ficam.
E como a história não pára,
ela continua. Vai surgir um quinto livro sobre a História do Sporting Clube da
Covilhã, já no prelo, da autoria dum amigo destas causas, Miguel Saraiva,
animado pela sua coordenação e principal obreiro do site Histórias do SCC.
Tenho o prazer de, por seu convite, prefaciar e fazer a apresentação desta
importante e muito interessante obra.
Renovo os meus votos das
maiores felicidades para o Sporting Clube Olhanense, num abraço a todos os seus
obreiros, e na esperança de, como sói dizer-se, darem a volta ao texto e, na
próxima época, terem a alegria de poderem regressar ao convívio da II Liga,
donde agora não deviam partir.
(In "O Olhanense", de 15-05-2017)