10 de maio de 2017

O NÓ GÓRDIO E A CAIXA DE PANDORA

Depois de olharmos para o outro lado do planeta, lá para as bandas de três oceanos, o assombro estonteou o mundo porque uma parte desta Terra não conseguiu cortar o nó górdio, e vimos a indesejável eleição de Donald Trump. Já mais próximos das águas geladas da pesca do bacalhau, um dos males saídos da Caixa de Pandora, para a (des)União Europeia, foi o Brexit.
Conseguimos, entretanto, safar-nos dum dos outros males libertados do grande jarro dado por Zeus a Pandora, aquela mulher que tinha um único defeito, a curiosidade. Ela foi criada por Hefeso e Atena, a pedido de Zeus, com o fim de agradar aos homens, segundo o mito grego. Mas, de todos os males libertados, entre os quais a Frente Nacional de Marine Le Pen, ficou de facto, lá dentro, a esperança. E foi neste otimismo que os franceses, elegendo Macron, também conseguiram cortar o tal nó górdio, aliviando um pouco a Europa.
Voltemo-nos agora para este nosso Portugal à beira-mar plantado, um País de heróis, de sábios e de santos, aventureiros e descobridores de novos mundos, como aprendemos na Primária dos nossos tempos já duma certa longevidade. Se bem que da sua caixa de Pandora também saíram alguns maldosos, egoístas e chico-espertos.
Chega assim, mais uma vez, um tempo de eleições, e aquelas que mais estão próximas das pessoas – as autárquicas.
Cada dia que passa mais se aproxima o 1 de outubro, e, vai daí, tudo se prepara para os embates, os despiques, as desforras, os esclarecimentos, a tentativa de convencer, na euforia mais dos apaniguados; na esperança de podermos confiar neste ou naquele que possa mudar o rumo do que não gostámos, e fazer aquilo que mais carece.
Pela nossa região também já começam a desfraldar sinais ajuizadores, muitos deles saídos do prematuro, num palpite de agitação de muitas bandeiras, latente no espírito de almas que sonham transformar a dormição de um concelho, no deleite das suas energias arrebatadoras de uma ação sem tréguas, a favor do acordar.
O concelho da Covilhã conhece já cinco candidatos, e, para a sua população, podemos dizer, como se exprimia a minha avó: “Bonda!”
Não tenhamos ilusões, face ao contexto em que as candidaturas se movimentam, com muita dispersão de votos, retirando-os uns aos outros, não vai haver qualquer maioria absoluta, nem na esperança nada contida do candidato julgado profeta. Recordemos a dívida que deixou e que embaraçou a gestão camarária atual. Depois, o seu modo comportamental no período do seu interregno, maldizente de pessoas e instituições de quem agora espera o voto. Dos seis objetivos que apontou muito haveria que dizer que não cabe neste espaço.
O candidato que se encontra na atual liderança municipal tem que se dotar de total transparência no acolhimento que teve com a mão cheia de colaboradores, mormente no que diz respeito aos seus salários. E, depois, a informação do motivo por que não se realizaram promessas havidas.
Como vão os sociais-democratas fazer frente ao candidato independente? Conseguirão reunir o exército que se destroçara com a anterior eleição do candidato do MAC, então submisso ao atual candidato independente? E como reconciliar a sua quota-parte de responsabilidade com o anterior Presidente, então desta força partidária, e atual independente, nas ações que permitiram chegar a um caos de dívida?
Pensamos que os comunistas terão que se empenhar muito fortemente para poderem conseguir um vereador.
Resta o candidato que já não é surpresa, covilhanense, do seio de uma família ilustre de antigos industriais, movido pelo impulso de transformar a Covilhã de novo no mapa de Portugal, como ele refere, duma forma cuidadosa, ele que fora anteriormente também um dos homens do Governo de Portugal.
Há assim uma gama de figuras que querem governar o Concelho da Covilhã. Para que possamos ajuizar melhor quem vai defender os genuínos interesses deste Concelho, temos que acreditar no que nos vão transmitir, depois de conhecermos as suas equipas, mas para isso há que refletir conscientemente sobre o que fizeram, o que deixaram de fazer, as omissões, as inverdades, as capacidades individuais dos que vão formar as equipas, e exigir transparência, mas que assumam mesmo tais atitudes e não só nas palavras de circunstância e arrebatadoras na altura das campanhas eleitorais, plenas de sorrisos e abraços. E, acima de tudo, não esquecer o que durante estes quatro anos fizeram os de dentro e os de fora.
Por último, que os candidatos confirmem nas suas campanhas se, perdendo, assumem o lugar na vereação, pois ainda nos recordamos quando Carlos Pinto perdeu as eleições a favor de Jorge Pombo, quando nem ele nem a sua equipa aceitaram a sua qualidade de vereadores, tendo que aparecer uma segunda equipa. Recordam-se?

Ter amor à Covilhã e trabalhar em prol da mesma, gloriar-se com as vitórias, mas também assumir as derrotas, aceitando a democracia, é o que esperamos de todos os candidatos.

(In "Notícias da Covilhã", de 11-05-2017)

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