Com muito agrado li a notícia
no número de 9 de novembro, do Notícias
da Covilhã, sobre a pretensão do Município na recolha de contributos para a
elaboração de um regulamento, a aprovar em 2018, definindo a atribuição dos
seus apoios às agremiações do concelho.
Que efetivamente o fórum do
associativismo se realize, e se prepare, com rigor, daí saindo prescrições para
quem pretenda levar o associativismo a sério, e não mais a existência de uma
associação ou coletividade de fachada, sem ações em proveito dos associados e demais
populações covilhanenses interessadas.
É na realidade o concelho da
Covilhã que detém o maior número de agentes culturais do distrito, considerando
os mesmos inseridos em quase três centenas de associações e coletividades de
todo o Concelho.
E a sua longevidade é assaz
importante, pois muitas delas, várias já centenárias, tiveram origem no
operariado dos lanifícios, outras das agremiações patronais, outras ainda do
desejo de também se inserirem na locução latina mens sana in corpore sano, onde o desporto, principalmente na
vertente do futebol, teve um manancial de alegrias que levou o nome da Covilhã
bem alto para além das suas portas.
Uma palavra de apreço para a
proposta do vereador da oposição, Adolfo Mesquita Nunes, que deu origem a esta
decisão, e acrescenta para “uma maior eficácia e transparência”, palavra que
muitos dirigentes não gostam de ouvir. Penso que já o anterior vereador da
oposição, José Pinto, havia também tomado posição nesta desejada conduta.
Em nenhum momento se pode ver
o Município a despejar dinheiros pelas várias associações e coletividades, sem
ter a certeza, sob comprovativos, ainda que em futuro imediato, de que os
mesmos vão servir para causas em prol da sociedade, por que as mesmas associações
e coletividades têm o dever de contribuir, nas várias formas por que se
geraram; tão-pouco para
cobrir despesas com as suas
sedes, sem um real sentido do mesmo ser bem empregue.
Muitas coletividades houve que
outrora foram referência na Covilhã, e tiveram iniciativas inéditas, depois
continuadas por outras ainda vivas, mas hoje já não existem, não deixando,
contudo, de ser memorizadas, e, nalguns casos, celebradas as suas efemérides.
As gentes que nos anos 50 e 60
eram jovens e se envolviam no dirigismo citadino e concelhio, vivendo as
agruras da vida e sem os meios de distração de facilitismo como os de hoje,
sentiam prazer na reunião em redor dessas associações e coletividades, e
trabalhavam com afinco. No tempo presente, em idade de reforma, muitos veem
mais o associativismo como um meio de aproveitar muitas das coletividades
transformadas em autênticas agências de viagens que, mal acaba uma já está
outra no seu seguimento, levando alguns associados a sentirem-se preteridos
porque já não foram a tempo de se inscreverem no quase secretismo. Outras, tão
só para manter o seu bar aberto.
Hoje, falta aquela vontade indómita para inovar, gerar ideias, retirar
das gavetas e dos sótãos o
que pode ser visto, em
iniciativas várias, pela sociedade. Poder-me-ão dizer que a Cidade já tem
museus, teatro, cafés acolhedores onde também se passam momentos culturais,
ranchos folclóricos, vários escritores. Mais uma razão para que as associações
ou coletividades se embrenhem na inovação, no acarinhar os associados, no
desempenho das missões que lhes cabem.
Reconhece-se que, nos dias que
correm, é mais fácil, face às comodidades e facilidade existentes, fruto da
modernidade, passar mais tempo com a família, sossegados, que inserir-se no
dirigismo associativo; mas tudo depende como se abordam para projetos para o
bem-comum, deixando o lugar a outros menos saturados, porque há sempre ideias
inovadoras, há sempre a possibilidade de juntar juventude a mais experientes.
Não é fácil, mas é possível. Então por que estão cada vez mais a surgir eventos
nostálgicos dos tempos de outrora?
Não tem qualquer sentido manter
os mesmos dirigentes anos sem fim, sem renovação, muitas vezes com a desculpa
da apatia dos restantes associados quando não se contribuiu para os acarinhar,
e, nalguns casos, com a formação elitista de grupos no seio dessas associações.
Cada vez se vê mais o
surgimento de escritores e alguns poetas nesta Cidade. Importante. Mas, para
além da apresentação das suas obras, deixou de se ver um encontro de escritores
nacionais, para além dos convidados em “cafés literários”. Na minha secretária
tenho uma separata do quinzenário O
Olhanense dando grande destaque ao III Encontro Internacional Poesia a Sul,
de Olhão 2017 (3 a 12 de novembro). São 55 poetas (portugueses, espanhóis,
cubanos, irlandeses, marroquinos, chilenos, turcos, brasileiros, mexicanos,
porto-riquenhos, da República Dominicana, venezuelanos, holandeses,
australianos, vietnamitas; de médicos a advogados; de professores
universitários a pintores e artistas plásticos). O organizador, olhanense
Fernando Cabrita, advogado e poeta, tem o apoio da Câmara de Olhão. Um evento
verdadeiramente notável, que já vai na sua 3ª edição.
Com o desaparecimento recente
do saudoso bispo, D. Manuel Martins, recordo um evento cultural importante
quando presidi a uma associação cultural e recreativa da Covilhã, no dia 17 de
junho de 1995. Foi então ele, a quem me dirigi, que me indicou um grupo de
timorenses que depois vieram à Covilhã atuar e proporcionar uma excelente
exposição temática sobre Timor, contribuindo assim para uma tomada de posição a
favor da ajuda ao então massacrado povo maubere, antes da independência.
Uma casa que não apresenta
obras, ainda que tenha poucos associados, não merece ter as portas abertas, ao sabor
dum apoio que sai do bolso dos munícipes.
(In "Notícias da Covilhã", de 16-11-2017)