Saio à rua, depois de dar uma
olhadela pelas notícias online, e dirijo-me para a minha habitual banca dos
jornais, ao jardim, onde os mesmos se encontram desde já reservados.
Saúdo uma vizinha que há muito
tempo não via, pergunto se está tudo bem e responde: “Só que, ai, ai, os meus
joelhos é que não ajudam!”. Depois outra, a mesma pergunta, e vai daí: “Sabe,
Sr. João, o meu problema é a coluna, esta maldita doença!”. Até que resolvi não
perguntar mais nada, senão quando surge um amigo, e, nos cumprimentos da praxe,
lá vem outra história das doenças da idade. “Sabes? Isto é da PDI!” Ao que eu
lhe respondi, sem que ele contasse com esta contradição do vulgarizado
significado da sigla: “Olha, toca a todos, a “Potência Deficitária
Incomodativa!...”
Antes de entrar no tema em
epígrafe, penso mesmo que os trabalhadores que se deixam instrumentalizar demasiado
pelos partidos, cujos sindicatos a que estão afetos dizem os defender, poderão
ver-se mais tarde envolvidos numa nuvem de arrependimento pelas opções tomadas,
como é o caso da Autoeuropa, pelas teimosias que vão levando. Uns dizem que são
os comunistas os culpados; certo é que parece que a Autoeuropa está antes afeta
à UGT. Se a empresa se deslocasse para o estrangeiro, ou se retirasse para
outro local, como outras fizeram, caso da Opel da Azambuja, seria melhor para
os trabalhadores ficarem sem emprego? Pois é, o subsídio do desemprego, as
reformas antecipadas, etc., sempre resolvem alguma coisa. Mas o mais estranho é
que não se trata de quaisquer colaboradores, mas de trabalhadores que se
encontram bem pagos, quando muitos licenciado nem ganham metade do seu salário.
Já os encerramentos da
ex-Triumph e da Ricon são apontados como “uma infeliz coincidência” num dos
períodos mais positivos do setor com forte volume de exportações, lamentando-se
os muitos trabalhadores que rumam para o desemprego.
Mas vamos para o tema que hoje
trouxe para este espaço, não obstante ele já ter sido debatido nos vários
órgãos da comunicação social ad nauseam, uma
vez que também o diabo não chegou a vir naquele célebre setembro de Passos
Coelho, porque afinal ele já estava/está entranhado no seio e no pensamento de
muitos, de várias praças deste país. Portanto, nem vale a pena Manuela Ferreira
Leite sugerir ao “novo” PSD para que venda a alma ao diabo para pôr a esquerda
na rua.
Deste fartote de corrupção,
entre alta e baixa, fraca e forte, verificada ao longo dos tempos, mas mais
acentuada nos dias de hoje, isto no que se repercute no nosso País, entendi
classificá-la em três partes: corrupção de 1.ª, de 2ª e de 3.ª categorias.
Eu explico, exemplificando, a começar
da mais baixa para a mais elevada. Considero corrupto ou corrompido de 3.ª categoria, aquele romeno que me
enganou à entrada do Lidl vendendo-me o almanaque Borda D’Água pelo preço que
apontou e vinha inserido na capa do mesmo; e que eu, pensando ser um original
como tantos vendidos nas bancas e papelarias, verifiquei depois que era
fotocopiado. Até onde vai o chico-espertismo. Ou, então, o recebimento por
parte dos serviços da secretaria de um Lar da Terceira Idade, de boa reputação,
desta Cidade laneira, de uma luxuosa “comparticipação por fora” para se ter
hipótese de ali ser internado um familiar idoso, em que não é passado um recibo
comprovativo, o que, para além de transgressão fiscal, também se ficou a
desconhecer para que bolso seguiu a volumosa quantia extra, como entrada, para
além das mensalidades e outras despesas mais.
Corrupto ou corrompido de 2ª categoria pia mais fino, e aí temos, sem
vergonha, o aluguer de uma casa, a um mãe e filho adulto, pobres, sem condições
condignas de habitabilidade, onde nem sequer cabe uma cama pequena para um
deles dormir, nem os mínimos eletrodomésticos, imprimindo uma desumanização à
face da Terra, neste século XXI. Onde estão as fiscalizações ativas e
decisórias, para poder impedir o desiderato dos proprietários chico-espertos?
Isto também se passa na mais importante cidade dos lanifícios e universitária
da Beira Interior. Nesta vertente de categoria ainda integro aquele perito de
seguradoras que, subtilmente, indicava clientes aos comerciais para, passado
pouco tempo, numa sua prévia combinação com os referidos segurados, passarem a
existir sinistros em catadupa, forjados. Descoberto este seu chico-espertismo,
e já não sabendo como se desenrascar, acabou num suicídio na A23.
Corrupto ou corrompido de primeira categoria são então os de maior
evidência, geralmente ligados a uma teia, envolvidos num polvo (sobre este
mesmo tema – “O Polvo” – escrevi um texto em 2 de setembro de 2005, publicado
no Notícias da Covilhã, que se encontra em grande parte atual), cujas formas
tentaculares de fugir às responsabilidades e se habilitarem ao sorteio da
ilibação produz tempo e mais tempo até se chegar ao ponto final dos
julgamentos. E, depois, há os recursos, e mais recursos. Aqui vamos encontrar os
já muito comentados casos da Operação Marquês, Operação Lex, Operação Fizz, entre outros, para além dos que
vão emergindo, como a falsificação de cheques da Segurança Social, o desvio de
milhões, pelo reitor de uma universidade privada, não esquecendo os casos da
PT, da queda do BES, e por aí fora.
Nesta categoria não há
corruptos de fraco gabarito. Podemos, sim, encontrar alguns novos-riquismos e
narcisismos doentios.
“Sim, vivemos num país
profundamente corrupto”, é o título duma crónica de João Miguel Tavares, do Público.
Estranha-se que outros casos
de corrupção não tenham tido qualquer desfecho da Justiça, continuando hoje
ainda vivos e, outros, condenados a prisão, como Oliveira e Costa, passeiam
livremente.
Se o período Sócrates-Pinto
Monteiro foi o “mais negro” da Justiça, conforme atesta no seu livro o juiz
jubilado António Bernardo Colaço, não se compreende a pretensão de afastar a
procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal. Segundo o versado é que a
remoção da procuradora não evitará o julgamento de Sócrates, mas pode facilitar
o adiamento para após eleições. Chico-espertismo!
Por tudo isto se vê que todos
os casos conhecidos são reveladores da transversalidade da corrupção entre as
diversas classes sociais, envolvendo todos os setores da sociedade e da
economia.
Pode alegar-se que a justiça
está a funcionar normalmente e a fazer o que tem de ser feito, o que é um dado
positivo.
(In "Notícias da Covilhã", de 15-2-2018)
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