Depois de terem sido badalados
intensamente outros temas, como foram os incêndios do ano findo, e, agora, o ranking das escolas, trago ao leitor
memórias que hoje se perpetuam de há meio século, que neste ano se efemerizam, atingindo
o cinquentenário dos respetivos acontecimentos, tendo entrado na história do
planeta, todas deixando marcas do seu surgimento.
Alguns chamaram a 1968 o ano
de todas as revoluções. Uma vaga de movimentos revolucionários sacudiu o mundo
há 50 anos, ano em que eu fui cumprir o serviço militar obrigatório, logo em
janeiro, por onde andei 42 meses, daí que pouco me tivesse apercebido de alguns
destes mesmos acontecimentos. Tínhamos pouco acesso aos jornais e a televisão,
de um só canal, a preto e branco, não estava tanto ao nosso alcance como em
nossas casas.
Se bem que no final desse ano
de 1968 todas as aspirações revolucionárias tinham fracassado, sem nada mudar,
o que é certo e verdade é que também já nada continuou a ser igual, nesta parte
no que concerne aos jovens estudantes. É que as suas consequências tiveram uma
grande importância. Estas revoluções tiveram uma peculiaridade porquanto não
pretendiam conquistar o poder, mas tão só mudá-lo.
Se Paris simbolizou esta agitação
também houve outros lugares onde tal viriam a surgir, nomeadamente em Berlim,
Praga, Roma, Cidade do México. A China mantinha-se na Revolução Cultural.
Vivia-se também a guerra do Vietname já numa fase crítica.
Não obstante haver
prosperidade, os distúrbios eram indício de um profundo descontentamento. As
reivindicações falavam na esperança num mundo melhor. Eram discutidas as
estruturas políticas, então vistas como autoritárias. Era, segundo os jovens
estudantes, um modelo consumista de um capitalismo obcecado com a
rentabilidade. Os processos revolucionários até então tinham estado associados
a classes sociais específicas ou a grupos políticos definidos. Os processos
revolucionários de 1968 correspondiam aos estados de consciência da geração
nascida no pós-guerra. Os universitários foram então os promotores, que tinham
aumentado maciçamente quando o ensino superior deixou de ser privilégio só para
alguns.
Estas grandes convulsões, não
só das que agora me refiro, podem ser retratadas, tanto quanto possível, pela
sua ordem cronológica.
Assim, no primeiro dia do
primeiro mês desse ano, o Vietcong atacou a embaixada dos Estados Unidos em
Saigão, mas, passados poucos dias iniciava-se a Primavera de Praga, na então
Checoslováquia, com Dubcek a assumir a sua liderança, numa tentativa de
democratizar o regime. Contudo, a Guerra Fria aniquilou a experiência e
mergulhou o país numa onda de frustração. No 1.º dia de fevereiro surgiam as
brutais imagens de Eddie Adams da guerra do Vietname que impressionaram o
mundo. Em meados de março de há cinquenta anos, dava-se o massacre de My Lai no
Vietname. Entretanto era encerrada a Universidade de Nanterre, em França. No
final deste mês emergiram os distúrbios e repressão racial em Memphis, nos
Estados Unidos.
Os primeiros Jogos Olímpicos
da América Latina começaram-se a preparar no mês seguinte (abril), no México,
mas é também nos primeiros dias deste mês e ano que é assassinado Martin Luther
King. Maio viria a ver os confrontos entre os Guardas Vermelhos e o exército a
recrudescerem na China, em plena Revolução Cultural. E o célebre “Maio de 68”
iria ver o seu início com a Noite das Barricadas em Paris, ponto de inflexão do
maio francês.
Encontrava-me no serviço
militar em Tavira quando, na parada, oiço na “Rádio CISMI”, daquela unidade
militar com o mesmo nome, que, naquele dia 5 de junho de 1968, o senador e
candidato favorito às primárias democratas nos Estados Unidos, Robert F.
Kennedy, era assassinado. Entretanto,
naquele mesmo mês, das eleições em França saiu vencedor o Partido Gaulista e
acabaram os protestos dos estudantes, não voltando a haver outra convulsão de
caraterísticas inovadoras e criativas que lhe seja comparável. Os jovens desse
tempo hoje andam por perto dos 65/70 anos. Também a religião tinha a sua marca
de acontecimentos neste ano, e, assim, em 25 de julho o Papa Paulo VI condenava
o uso dos contracetivos na encíclica Humanae
vitae. O mês de agosto seria marcado com festivais rock como o de Venice Beach, nos Estados Unidos, mostrando o apogeu
da contracultura e da emancipação sexual. A União Soviética (URSS) invadiu a
Checoslováquia e, no final deste mês surgiram manifestações nos Estados Unidos
contra a guerra do Vietname, na Convenção do Partido Democrata em Chicago.
Em setembro nascia a Teologia
da Libertação, com Hans Küng a publicar o manifesto Declaração pela Liberdade da Teologia. O mês de outubro seria
terrível para o México, com o Massacre da Praça das Três Culturas. Entretanto,
de 12 a 27 deste mesmo mês, realizaram-se os XIX Jogos Olímpicos, na capital
mexicana.
O novo presidente americano,
Richard Nixon, viu alcançada a sua vitória nas eleições nos Estados Unidos,
realizadas no dia 5 de novembro de 1968. Para o último mês do ano, Mao Tsé-tung
lançou a campanha de “reeducação” dos jovens das cidades, enviados para campos
de trabalhos rurais na China. E, entretanto, a Apollo 8 entrava na órbitra lunar e os astronautas Borman, Lovell e
Anders viam, pela primeira vez na história, a face oculta da Lua.
E, daí para cá, o mundo foi
evoluindo de tal forma que hoje estamos a rumar a uma 4.ª revolução industrial.
Recordemos que foi no século XVIII, em Inglaterra, que se deu a Primeira
Revolução Industrial, com a máquina a vapor e do carvão. Na viragem do século XIX para o século XX,
nos Estados Unidos, na Alemanha e em Inglaterra, surgiu a Segunda Revolução
Industrial, do petróleo, do motor de combustão interna, do motor elétrico e da
produção em massa. Na segunda metade do
século XX, tivemos a Terceira Revolução Industrial, da computação e da
Internet.
Bom, a Quarta Revolução
Industrial é agora, de acordo com Schwab, e outros, a revolução da
digitalização maciça, da aprendizagem automática e da robotização, mas também
da nanotecnologia e dos novos materiais, e da biotecnologia, ou seja,
tecnologias que fundem os mundos físico, digital e biológico.
Antes das revoluções
industriais usávamos as fontes de energia primária (o sol, a água e o vento).
As sucessivas revoluções industriais tiveram como consequência um aumento
enorme no nível de prosperidade da humanidade, em conjunto com alterações
sociais profundas, como o reconhecimento de direitos humanos universais, a
alteração nos padrões de fertilidade e o aumento da esperança média de vida.
A Quarta Revolução Industrial
traz enormes promessas, por exemplo, com a massificação do carro elétrico,
muito mais eficiente que o carro a gasolina ou gasóleo entre outras.
(In "fórum Covilhã", de 13-2-2018)
Sem comentários:
Enviar um comentário