13 de fevereiro de 2018

2018 – ANO DE EFEMÉRIDES, MAS TAMBÉM RUMO À 4.ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Depois de terem sido badalados intensamente outros temas, como foram os incêndios do ano findo, e, agora, o ranking das escolas, trago ao leitor memórias que hoje se perpetuam de há meio século, que neste ano se efemerizam, atingindo o cinquentenário dos respetivos acontecimentos, tendo entrado na história do planeta, todas deixando marcas do seu surgimento.
Alguns chamaram a 1968 o ano de todas as revoluções. Uma vaga de movimentos revolucionários sacudiu o mundo há 50 anos, ano em que eu fui cumprir o serviço militar obrigatório, logo em janeiro, por onde andei 42 meses, daí que pouco me tivesse apercebido de alguns destes mesmos acontecimentos. Tínhamos pouco acesso aos jornais e a televisão, de um só canal, a preto e branco, não estava tanto ao nosso alcance como em nossas casas.
Se bem que no final desse ano de 1968 todas as aspirações revolucionárias tinham fracassado, sem nada mudar, o que é certo e verdade é que também já nada continuou a ser igual, nesta parte no que concerne aos jovens estudantes. É que as suas consequências tiveram uma grande importância. Estas revoluções tiveram uma peculiaridade porquanto não pretendiam conquistar o poder, mas tão só mudá-lo.
Se Paris simbolizou esta agitação também houve outros lugares onde tal viriam a surgir, nomeadamente em Berlim, Praga, Roma, Cidade do México. A China mantinha-se na Revolução Cultural. Vivia-se também a guerra do Vietname já numa fase crítica.
Não obstante haver prosperidade, os distúrbios eram indício de um profundo descontentamento. As reivindicações falavam na esperança num mundo melhor. Eram discutidas as estruturas políticas, então vistas como autoritárias. Era, segundo os jovens estudantes, um modelo consumista de um capitalismo obcecado com a rentabilidade. Os processos revolucionários até então tinham estado associados a classes sociais específicas ou a grupos políticos definidos. Os processos revolucionários de 1968 correspondiam aos estados de consciência da geração nascida no pós-guerra. Os universitários foram então os promotores, que tinham aumentado maciçamente quando o ensino superior deixou de ser privilégio só para alguns.
Estas grandes convulsões, não só das que agora me refiro, podem ser retratadas, tanto quanto possível, pela sua ordem cronológica.
Assim, no primeiro dia do primeiro mês desse ano, o Vietcong atacou a embaixada dos Estados Unidos em Saigão, mas, passados poucos dias iniciava-se a Primavera de Praga, na então Checoslováquia, com Dubcek a assumir a sua liderança, numa tentativa de democratizar o regime. Contudo, a Guerra Fria aniquilou a experiência e mergulhou o país numa onda de frustração. No 1.º dia de fevereiro surgiam as brutais imagens de Eddie Adams da guerra do Vietname que impressionaram o mundo. Em meados de março de há cinquenta anos, dava-se o massacre de My Lai no Vietname. Entretanto era encerrada a Universidade de Nanterre, em França. No final deste mês emergiram os distúrbios e repressão racial em Memphis, nos Estados Unidos.
Os primeiros Jogos Olímpicos da América Latina começaram-se a preparar no mês seguinte (abril), no México, mas é também nos primeiros dias deste mês e ano que é assassinado Martin Luther King. Maio viria a ver os confrontos entre os Guardas Vermelhos e o exército a recrudescerem na China, em plena Revolução Cultural. E o célebre “Maio de 68” iria ver o seu início com a Noite das Barricadas em Paris, ponto de inflexão do maio francês.
Encontrava-me no serviço militar em Tavira quando, na parada, oiço na “Rádio CISMI”, daquela unidade militar com o mesmo nome, que, naquele dia 5 de junho de 1968, o senador e candidato favorito às primárias democratas nos Estados Unidos, Robert F. Kennedy, era assassinado.  Entretanto, naquele mesmo mês, das eleições em França saiu vencedor o Partido Gaulista e acabaram os protestos dos estudantes, não voltando a haver outra convulsão de caraterísticas inovadoras e criativas que lhe seja comparável. Os jovens desse tempo hoje andam por perto dos 65/70 anos. Também a religião tinha a sua marca de acontecimentos neste ano, e, assim, em 25 de julho o Papa Paulo VI condenava o uso dos contracetivos na encíclica Humanae vitae. O mês de agosto seria marcado com festivais rock como o de Venice Beach, nos Estados Unidos, mostrando o apogeu da contracultura e da emancipação sexual. A União Soviética (URSS) invadiu a Checoslováquia e, no final deste mês surgiram manifestações nos Estados Unidos contra a guerra do Vietname, na Convenção do Partido Democrata em Chicago.
Em setembro nascia a Teologia da Libertação, com Hans Küng a publicar o manifesto Declaração pela Liberdade da Teologia. O mês de outubro seria terrível para o México, com o Massacre da Praça das Três Culturas. Entretanto, de 12 a 27 deste mesmo mês, realizaram-se os XIX Jogos Olímpicos, na capital mexicana.
O novo presidente americano, Richard Nixon, viu alcançada a sua vitória nas eleições nos Estados Unidos, realizadas no dia 5 de novembro de 1968. Para o último mês do ano, Mao Tsé-tung lançou a campanha de “reeducação” dos jovens das cidades, enviados para campos de trabalhos rurais na China. E, entretanto, a Apollo 8 entrava na órbitra lunar e os astronautas Borman, Lovell e Anders viam, pela primeira vez na história, a face oculta da Lua.
E, daí para cá, o mundo foi evoluindo de tal forma que hoje estamos a rumar a uma 4.ª revolução industrial. Recordemos que foi no século XVIII, em Inglaterra, que se deu a Primeira Revolução Industrial, com a máquina a vapor e do carvão.  Na viragem do século XIX para o século XX, nos Estados Unidos, na Alemanha e em Inglaterra, surgiu a Segunda Revolução Industrial, do petróleo, do motor de combustão interna, do motor elétrico e da produção em massa.  Na segunda metade do século XX, tivemos a Terceira Revolução Industrial, da computação e da Internet.
Bom, a Quarta Revolução Industrial é agora, de acordo com Schwab, e outros, a revolução da digitalização maciça, da aprendizagem automática e da robotização, mas também da nanotecnologia e dos novos materiais, e da biotecnologia, ou seja, tecnologias que fundem os mundos físico, digital e biológico.
Antes das revoluções industriais usávamos as fontes de energia primária (o sol, a água e o vento). As sucessivas revoluções industriais tiveram como consequência um aumento enorme no nível de prosperidade da humanidade, em conjunto com alterações sociais profundas, como o reconhecimento de direitos humanos universais, a alteração nos padrões de fertilidade e o aumento da esperança média de vida.
A Quarta Revolução Industrial traz enormes promessas, por exemplo, com a massificação do carro elétrico, muito mais eficiente que o carro a gasolina ou gasóleo entre outras.

(In "fórum Covilhã", de 13-2-2018)


Sem comentários: