Andam por aí diabos à solta. Não
sei se são filhos do diabo que fora anunciado pelo antigo primeiro ministro, pois
não me recordo de que tenha chegado a vir, a partir daquele célebre setembro de
2016. Nem saudades do homem da troça, na sua peculiar expressão da “palavra
dada, palavra honrada”. Mas isso são estórias
de outras histórias que já estarão para além da Taprobana, pois que até ele se terá
esquecido do que vice governava e, da palavra dada, foi palavra desonrada, na
sua “irrevogável” demissão.
Paulo Portas que de feirante de
beijocas passara ao número dois da governação ainda se quis apropriar da
iniciativa com que quisera dar o cognome ao atual governo da Nação, plagiando
Vasco Pulido Valente no título pejorativo do seu artigo de opinião inserido no Público de 31 de agosto de 2016 – “A geringonça” – , e que, ao invés, se
tornava laudatório.
O que é certo e verdade é que os
diabos à solta trouxeram o inferno no ano seguinte, com as duas grandes
catástrofes dos incêndios de junho e outubro de 2017.
Depois foi o tempo das barragens
secas, que por cá ocasionaram muitos barulhos, mas que o “dilúvio” veio rufar
no seu tambor e torná-las repletas do precioso líquido.
Até ao momento em que escrevo
este apontamento, não surgiram ainda, felizmente, preocupações lancinantes no
nosso País, como o inferno transato. Desta vez os diabos emigraram e foram
assoberbar paragens gregas e escandinavas. Quer dizer, o diabo
internacionalizou-se, ou, melhor dito, tornou-se mais global.
O que é certo e verdade é que o
inferno não se consegue extinguir. Umas vezes lá se vão conseguindo reduzir um
pouco as suas chamas, mas outras vezes elas, se dominadas numa zona, logo
surgem noutro local. Quer dizer que são as patas do diabo, quais tentáculos em
brasa do polvo.
Nas duas últimas décadas do
século XX, a primeira das duas décadas foi marcada pela conflitualidade e pela
mudança de comportamentos na política e na sociedade, especialmente nas
gerações mais novas, onde se verificou uma libertação de usos e costumes. No
campo político e militar destacaram-se a queda do Muro de Berlim, em 9 de
novembro de 1989, que abriu o caminho à reunificação da Alemanha, formalizada
em 3 de outubro de 1990; a guerra entre o Irão e o Iraque, assim como outros
conflitos no Médio Oriente, a Guerra das Malvinas e os primeiros protesto
políticos na China, com a manifestação da Praça Tiananmen em 1989. Quanto aos
comportamentos sociais, recordam-se as novas excentricidades na moda, o heavy metal na música e o fascínio pelos
mais variados tipos de modelos de novos produtos eletrónicos nos campos da
comunicação e da informação, que levariam depois ao incremento da utilização
das redes sociais para os mais variados fins. Esta década foi também marcada
pelo surgimento de novos diabos, pelo colapso da economia japonesa, por uma
estagnação da economia norte-americana (ainda nem se tinha ouvido falar em
Donald Trump…) e da generalidade dos países da América Latina, por uma volatilidade
dos mercados e um baixo crescimento do PIB na generalidade dos países.
Na década de 90 alteraram-se
algumas tendências, com o colapso da União Soviética, o fim da Guerra Fria, o
reforço da globalização e a consolidação da democracia. No entanto, nos novos
flagelos emergiram, mais novos diabos, com destaque para novas formas de
terrorismo, essencialmente “justificadas” por motivações religiosas, que
perturbaram significativamente o longo período de paz vivido desde há muitos
anos, e que criaram um clima de tensão considerável. De qualquer modo, a década
de 90 pode considerar-se um período de prosperidade e de bem-estar em muitos
países, com crises pontuais, por vezes atribuídas à globalização ou, pelo
menos, a algumas das suas formas. Tem que se reconhecer que por força de
políticas erradas de globalização, do recrudescimento do capitalismo selvagem e
de determinadas atuações do domínio político, houve um aumento de ações de
protesto e de reivindicação até então pouco vulgares, ou mesmo desconhecidas.
Prosseguiram os fortes desenvolvimentos na tecnologia, na ciência e na
investigação aplicada – particularmente na ciência médica para fazer face a
novas doenças, ou agravamentos das existentes – e acentuou-se a polémica sobre
a proteção do meio ambiente. Esta última, e algumas mudanças mais radicais nos
hábitos da vida em sociedade, suscitaram também movimentos de contestação. No
conjunto das duas décadas tem que se mencionar um clima de concorrência
cerrada, especialmente no mundo dos negócios, uma série excessiva de catástrofes
naturais e provocadas e o flagelo de novas doenças.
Nalguns países do Mundo
Ocidental, de África e do Oriente, foi um período de considerável crescimento
económico, apesar de na primeira parte da década a economia norte-americana
pouco tenha crescido.
Em Portugal, a governação do
Bloco Central foi muito dirigida nos anos 80 para a recuperação da economia e
para a preparação da entrada do País na então CEE.
A caminho do final da segunda
década do século XXI, já integrados na União Europeia, e com o aumento de
muitos outros países, logo haveriam de surgir novos diabos, com a crise
europeia de 2008, a intervenção da troika em Portugal e na Grécia, e um dos
diabos a querer sair da União Europeia, a quem foi dado o nome de Brexit.
Ficamos por aqui para não nos
endiabrarmos mais.
(In "fórum Covilhã", de 14/08/2018)
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