Escrevo estas linhas exatamente
no dia 11 de novembro, altura em que perfaz um centenário da assinatura do
Armistício que pôs fim à Grande Guerra.
Jamais se pensaria que esta luta
entre nações iria atingir tamanho morticínio em tanta gente, pessoas inocentes,
que seriam forçadas a integrar contingentes para as frentes de batalha, em
trincheiras, deste modo porquanto as táticas militares desenvolvidas antes da
Primeira Guerra Mundial, esta que agora assinalamos o centenário do seu fim,
não conseguiam acompanhar os avanços da tecnologia e se tornaram assim
obsoletas. Tecnologia daqueles tempos em relação aos dias de hoje é como
compararmos entre o dia e a noite.
Só que, desta Primeira Guerra
Mundial, que é considerada por muitos historiadores como um marco no início do
século XX, resultou em novas correlações de forças que se estabeleceram no
mundo. Assim, foi o declínio da Europa e a ascensão dos Estados Unidos da
América (EUA) à condição de principal potência mundial.
A Grande Guerra enfraqueceu a
confiança da Europa em si própria. Os Estados Unidos viam-se já como diferentes
e melhores que o resto do mundo. Esta guerra veio reforçar essa sua entendida
superioridade.
Efetivamente, antes deste
conflito, a Europa era o centro do mundo. Depois da guerra, esse centro foi
para os Estados Unidos. A moeda de referência internacional deixou de ser a
libra e passou a ser o dólar.
Neste dia 11 de novembro do ano
da graça de 2018, líderes de todo o mundo reuniram-se em França para comemorar
o Dia do Armistício.
Muito se contou, muito mais
haveria a dizer sobre esta Guerra Mundial que seria a primeira para depois se
despoletar uma Segunda Guerra Mundial, hecatombe de ainda piores proporções, em
pouco mais de duas décadas. E para isso contribuíram as imposições ultrajantes
do Tratado de Versalhes de 1919.
Desapareceram assim os impérios
Alemão, Russo, Otomano e Austro-Húngaro e surgiu a criação de novos países na
Europa e Médio Oriente. Vieram a perder a vida nesta Guerra Mundial, uma das
maiores guerras da história, mais de nove milhões de combatentes, onde o grande
sofrimento e a banalização da morte era uma evidência.
Portugal, escusadamente, também
entrou nesta Grande Guerra, sem condições nem preparação militar,
defrontando-se com as doenças, a fome e a degradação do equipamento militar.
Participou neste primeiro conflito mundial ao lado dos Aliados, o que estava de
acordo com as orientações da República, ainda recentemente instaurada. E isto
aconteceu em março de 1916, quando a Inglaterra decidiu pedir ao Estado
português o apresamento de todos os navios alemães e austro-húngaros presentes
na costa lusitana. Esta atitude justificou a declaração oficial de guerra a
Portugal pela Alemanha, em 9 de março daquele ano.
E, desta feita, em 1917, as
primeiras tropas portuguesas, do Corpo Expedicionário Português, sob o comando
do general Tamagnini de Abreu, seguiram para a Flandres, para essa lamentável
guerra na Europa. Viria Portugal a envolver-se, depois, em combates em França,
tendo a Inglaterra fornecido treinamento às tropas portuguesas, tal o estado em
que elas iam.
Desta região beirã, e mormente da
Covilhã, do Batalhão de Infantaria 21, também partiram jovens militares.
Os portugueses também tiveram
grandes perdas, onde se incluíram militares desta região.
Alguns destacaram-se por atos de
grande patriotismo em heroicas ações, como o soldado Aníbal Augusto Milhais,
conhecido como o Soldado Milhões, o único militar português condecorado com a
mais alta honraria nacional, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor,
Lealdade e Mérito, no campo de batalha em vez da habitual cerimónia pública em
Lisboa.
Da Covilhã desde há muito se ouviu
falar do soldado corneteiro José Antunes, conhecido por “Garri” que, em França,
em plena guerra, com o seu apurado ouvido conseguiu captar os toques de clarim
alemão que depois executava com grande perfeição. Desta forma, iludia o
inimigo, pois fazia soar o toque de retirada, ou outro. Ter-lhe-á sido
atribuída também a medalha daquela Ordem Militar. Isto vem referido em vários
livros e jornais. Entretanto, numa posterior investigação de dois historiadores
da Covilhã, que escreveram “A Covilhã e a Grande Guerra (1914-1918)” este nome
não consta como tendo sido condecorado com esta insígnia. Como já faleceu e se
desconhecem os familiares próximos, não há qualquer hipótese de recolher mais
informações fidedignas, mantendo-se a possível lenda, já que a investigação foi
feita com a existência de documentação autenticada.
Esperemos que este mundo global singra
no caminho do entendimento e se eliminem logo à partida quaisquer tentativas de
uma terceira guerra mundial.
(In "Notícias da Covilhã", de 15-11-2018)