14 de novembro de 2018

OS 100 ANOS DA GRANDE GUERRA


Escrevo estas linhas exatamente no dia 11 de novembro, altura em que perfaz um centenário da assinatura do Armistício que pôs fim à Grande Guerra.
Jamais se pensaria que esta luta entre nações iria atingir tamanho morticínio em tanta gente, pessoas inocentes, que seriam forçadas a integrar contingentes para as frentes de batalha, em trincheiras, deste modo porquanto as táticas militares desenvolvidas antes da Primeira Guerra Mundial, esta que agora assinalamos o centenário do seu fim, não conseguiam acompanhar os avanços da tecnologia e se tornaram assim obsoletas. Tecnologia daqueles tempos em relação aos dias de hoje é como compararmos entre o dia e a noite.
Só que, desta Primeira Guerra Mundial, que é considerada por muitos historiadores como um marco no início do século XX, resultou em novas correlações de forças que se estabeleceram no mundo. Assim, foi o declínio da Europa e a ascensão dos Estados Unidos da América (EUA) à condição de principal potência mundial.
A Grande Guerra enfraqueceu a confiança da Europa em si própria. Os Estados Unidos viam-se já como diferentes e melhores que o resto do mundo. Esta guerra veio reforçar essa sua entendida superioridade.
Efetivamente, antes deste conflito, a Europa era o centro do mundo. Depois da guerra, esse centro foi para os Estados Unidos. A moeda de referência internacional deixou de ser a libra e passou a ser o dólar.
Neste dia 11 de novembro do ano da graça de 2018, líderes de todo o mundo reuniram-se em França para comemorar o Dia do Armistício.
Muito se contou, muito mais haveria a dizer sobre esta Guerra Mundial que seria a primeira para depois se despoletar uma Segunda Guerra Mundial, hecatombe de ainda piores proporções, em pouco mais de duas décadas. E para isso contribuíram as imposições ultrajantes do Tratado de Versalhes de 1919.
Desapareceram assim os impérios Alemão, Russo, Otomano e Austro-Húngaro e surgiu a criação de novos países na Europa e Médio Oriente. Vieram a perder a vida nesta Guerra Mundial, uma das maiores guerras da história, mais de nove milhões de combatentes, onde o grande sofrimento e a banalização da morte era uma evidência.
Portugal, escusadamente, também entrou nesta Grande Guerra, sem condições nem preparação militar, defrontando-se com as doenças, a fome e a degradação do equipamento militar. Participou neste primeiro conflito mundial ao lado dos Aliados, o que estava de acordo com as orientações da República, ainda recentemente instaurada. E isto aconteceu em março de 1916, quando a Inglaterra decidiu pedir ao Estado português o apresamento de todos os navios alemães e austro-húngaros presentes na costa lusitana. Esta atitude justificou a declaração oficial de guerra a Portugal pela Alemanha, em 9 de março daquele ano.
E, desta feita, em 1917, as primeiras tropas portuguesas, do Corpo Expedicionário Português, sob o comando do general Tamagnini de Abreu, seguiram para a Flandres, para essa lamentável guerra na Europa. Viria Portugal a envolver-se, depois, em combates em França, tendo a Inglaterra fornecido treinamento às tropas portuguesas, tal o estado em que elas iam.
Desta região beirã, e mormente da Covilhã, do Batalhão de Infantaria 21, também partiram jovens militares.
Os portugueses também tiveram grandes perdas, onde se incluíram militares desta região.
Alguns destacaram-se por atos de grande patriotismo em heroicas ações, como o soldado Aníbal Augusto Milhais, conhecido como o Soldado Milhões, o único militar português condecorado com a mais alta honraria nacional, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, no campo de batalha em vez da habitual cerimónia pública em Lisboa.
Da Covilhã desde há muito se ouviu falar do soldado corneteiro José Antunes, conhecido por “Garri” que, em França, em plena guerra, com o seu apurado ouvido conseguiu captar os toques de clarim alemão que depois executava com grande perfeição. Desta forma, iludia o inimigo, pois fazia soar o toque de retirada, ou outro. Ter-lhe-á sido atribuída também a medalha daquela Ordem Militar. Isto vem referido em vários livros e jornais. Entretanto, numa posterior investigação de dois historiadores da Covilhã, que escreveram “A Covilhã e a Grande Guerra (1914-1918)” este nome não consta como tendo sido condecorado com esta insígnia. Como já faleceu e se desconhecem os familiares próximos, não há qualquer hipótese de recolher mais informações fidedignas, mantendo-se a possível lenda, já que a investigação foi feita com a existência de documentação autenticada.
Esperemos que este mundo global singra no caminho do entendimento e se eliminem logo à partida quaisquer tentativas de uma terceira guerra mundial.

(In "Notícias da Covilhã", de 15-11-2018)

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