Neste período da silly season, com o verão convidativo para um
descanso, uma oportunidade de partilhar com amigos ou familiares momentos de
distração, traz-nos também, por vezes, falta de alguma inspiração.
As televisões secam-nos com repetições de notícias de incêndios, aqueles
casos de violência doméstica, e outros fastidiosos acontecimentos.
Os jornais são uma fonte abundante de informação. Os bons jornais, onde
radicam homens da sapiência, deleitam-nos com a sua opinião emanada da história
real dos acontecimentos, mas também como pensadores. Quando assim acontece, é
um fascínio.
E é ainda nos regionais onde vamos encontrar a particularidade do meio
que a todos envolve, na proximidade de se poder fazer sentir o bem ou mal-estar
das nossas vidas.
Já a notícia sensacionalista é verberada num ou outro jornal, que acaba
por ser sobejamente conhecido, ainda que muitas vezes a própria novidade só se
tenha dela conhecimento por via desse órgão; no entanto surge carregada de
nuvens de negativismo.
Desde imemoriais tempos tivemos ligação com os ingleses, nos bons e maus
momentos. São conhecidas as expressões: “Pontualidade
britânica” , “Sair à inglesa”
(que, deste costume inglês, daria mais tarde lugar à expressão “Sair à francesa”), ou “Para inglês ver” …
O caso do “Brexit”, com o desentendimento entre a União Europeia e
Theresa May, e agora o novo líder britânico, Boris Johnson, ocupam grande espaço
nos telejornais e nas páginas dos diários.
Os ventos sopram forte por este planeta fora, e nós, europeus, vemo-nos
também numa miragem de outros ventos agitados, como este.
Em 23 de julho, a comunicação social noticiava que Portugal e o Reino
Unido celebraram três acordos para a ciência, na data da comemoração dos 650
anos da aliança luso-britânica.
Durante esta aliança com mais de seis séculos, Portugal e Inglaterra
estiveram lado a lado nos bons momentos, mas também em situações antagónicas.
Recordemos uma pequena viagem pelo passado das relações luso-britânicas,
já que “nenhum país estrangeiro não lusófono teve tanta relevância para a
História de Portugal como o Reino Unido e os seus antecessores Grã-Bretanha e
Inglaterra – três maneiras de designar, na parte que nos respeita, a mesma realidade”.
Em 1147, guerreiros ingleses a caminho da Palestina, na II Cruzada,
ajudaram D. Afonso Henriques a conquistar Lisboa aos mouros. Em 1189, cruzados
ingleses também ajudaram D. Sancho I a conquistar Silves aos mouros. Em 1308,
Eduardo VII, da Inglaterra, celebra com Portugal um novo tratado de comércio,
que reitera e reforça o de 1294.
Em 1372, o rei D. Fernando de Portugal e representantes de Henrique III,
de Inglaterra assinam em Tagilde, perto de Guimarães, um tratado de aliança
entre os dois países, “para sempre, por mar e por terra, contra D. Henrique,
que ora se chama rei de Castela, e contra D. Pedro, rei de Aragão”. Este
tratado continua hoje em vigor e é o mais antigo do mundo.
Em 1383, D. João I faz acionar a aliança inglesa e pede auxílio militar
contra Castela a Ricardo II, o qual acedeu e recrutou os arqueiros para esse
efeito. Estes participaram em Portugal na Batalha de Aljubarrota, ao lado das
forças de D. João I e do condestável D. Nuno Álvares Pereira, contra os
invasores castelhanos, os seus aliados franceses, e a maior parte da nobreza
portuguesa, esta liderada por Juan I de Castela.
Em 1386, o Tratado de Windsor firma, em termos de “amizade perpétua”, a
aliança anglo-portuguesa. Em 1387, D. João I de Portugal casa-se com Filipa de
Lencastre (Philippa of Lancaster), que será a mãe da “Ínclita Geração”. Em
1429, a Inglaterra pede frequentemente auxílio a Portugal e nobres portugueses
combatem a seu lado.
Em 1580, Filipe II de Espanha torna-se também rei de Portugal e o nosso
país passa a ser visto como inimigo pelos ingleses, em guerra com a Espanha.
Em 1806, o imperador francês Napoleão Bonaparte decreta o Bloqueio
Continental, que proíbe os outros países de manterem relações comerciais com o
Reino Unido. Portugal fica “entalado” entre o poderio francês e a ligação à
Grã-Bretanha. Em 1808, o general Arthur Wellesley desembarca em Portugal com
tropas britânicas e, organizando um exército anglo-luso, inicia a guerra
vitoriosa contra os franceses.
Também o futebol entraria em Portugal por influência inglesa. Em 1875,
Henry Hilton, que estuda em Londres mas passa as férias na quinta dos pais, na
Madeira, leva uma bola para a ilha e introduz o futebol em território
português.
Em 1890, o Reino Unido envia a Portugal um ultimato obrigando o velho
aliado a deixar de reivindicar a posse dos territórios africanos entre Angola e
Moçambique, representado no “Mapa Cor-de-Rosa”. A enorme reação popular
antibritânica em Portugal é uma das causas da implantação da República. Em
1898, aproveitando a crise financeira em que Portugal está mergulhado, o Reino
Unido e a Alemanha assinam a convenção de Londres, que propõe a partilha das
colónias portuguesas de África. No entanto, no ano seguinte, o rei português D.
Carlos consegue induzir o governo britânico a assinar um acordo que ratifica o
tratado de 1661, garantindo a integridade dos domínios coloniais.
Muito haveria a dizer sobre as relações ancestrais entre ingleses e
portugueses, mas o espaço não o permite, no entanto, a amizade entre os dois
povos foi muito maior, e em 1957 a rainha Isabel II efetuou a sua primeira
visita a Portugal. Fiquemos por aqui.
(In "Jornal fórum Covilhã", de 14-08-2019)
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