Nesta terceira publicação d’O Combatente da Estrela, do ano da
graça de 2019, que corresponde ao número 116; no regresso generalizado das
férias, passados os pontos nevrálgicos da greve dos motoristas de matérias
perigosas, e ainda a manterem-se alguns incêndios a devastar este País, mas já
com os estudantes que vão entrar pela primeira vez para as universidades a
verem confirmadas muitas das entradas a
contento das suas opções, na expetativa das eleições para as legislativas já à
porta; deixamos ainda memória do bom comportamento dos nossos atletas nas
provas internacionais a ganharem medalhas que vão do ouro e prata ao bronze,
e também a seleção nacional de todos nós
a transmitir-nos alegria e esperança no desfraldar garbosamente da bandeira
nacional.
Este órgão trimestral do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes
continua a chegar às mãos de muitos leitores e é patente, também em muitos, o
desejo que chegue às suas caixas de correio, tornando-se incómoda uma
reclamação de não recebimento.
Continua este Núcleo com as suas atividades programadas e a Sede, mesmo
neste período de veraneio, a ter visitas de associados, numa exemplaridade para
outras instituições ou coletividades que se salvam geralmente com a existência
do bar, para alguém poder marcar o ponto.
Os tempos já não são como os de outrora, em que o associativismo marcava
uma maior presença de associados, então mercê da falta de oportunidades que
hoje existem já a partir de casa, mas sente-se ainda, apesar dos meios da
modernidade onde as vias tecnológicas marcam a sua incondicional diferença, que
o contacto humano gera a necessidade da sobrevivência.
As memórias dos antigos combatentes continuam ainda bem vivas nas
conversas e na escrita, assim como as lamentações por quem sofreu na pele e no
espírito os danos resultantes duma guerra para onde muitos foram lançados sem
vontade alguma da sua participação.
E é nestes Núcleos da Liga dos Combatentes que reconhecemos como a
generalidade da juventude das gerações de 40 a 60 do pretérito século foram
atirados para as feras.
Então vamos entrar na falta de lembrança, de memória, omissão, falha,
lapso, desprezo, perda de sensibilidade, abandono, adormecimento, indiferença,
olvido, ou o que queiram atribuir ao ato ou efeito de esquecer, que dá força ao
título deste editorial.
Muito bem a propósito, o Presidente da Liga dos Combatentes,
tenente-general Joaquim Chito Rodrigues lamentou e constatou o facto de ninguém
falar sobre os problemas dos antigos combatentes na pré-campanha para as
legislativas de 6 de outubro. Ele mesmo chamou à atenção para a necessidade de
o Governo publicar o Estatuto dos Antigos Combatentes. Este documento chegou a
ter uma versão inicial nesta legislatura, mas acabou por ser novamente adiado.
E referiu: “Queremos um estatuto que dignifique o combatente e que reconheça
aos antigos combatentes o direito a apoios económicos e sociais”.
O que é certo é que na recolha de opiniões junto dos combatentes foi
reconhecido por todos os partidos que era necessário incluir medidas nesse
estatuto. O próprio Presidente da República tem afirmado a necessidade de que o
Governo publique o Estatuto dos Antigos Combatentes.
Mas também é certo e verdade que o esquecimento é uma palavra negra para
os antigos combatentes, fartos de esperar.
E por que não lembrar na descolonização todos quantos foram soldados
guineenses e doutras colónias, que serviram Portugal de 61 a 74, deixados para
trás após o 25 de Abril, vindo a ser executados em praça pública?
Enfim, a história está feita de muitas outras terríveis estórias, mas não
completa, e dos que regressaram à Metrópole de então, muitos com mazelas
incuráveis, o esquecimento não é palavra vã. Ele existe e há que fazer com que
seja eliminado na salvaguarda dos interesses dos Antigos Combatentes.
(In "O Combatente da Estrela" , n.º 116, de outubro de 2019)