18 de setembro de 2019

LOUCOS NA CASA COMUM


Se há alguma coisa que me leva à repugnância são as passagens da história dos escravos de todo o mundo que ainda hoje, em pleno século XXI, persiste nalgumas partes incivilizadas do planeta.

No Código Negro francês, promulgado por Luís XIV em 1685, no seu artigo 44 declarava os negros como móveis para efeitos de seguro, de tal forma que se a escrava engravidasse não era crime considerado de ofensa à pessoa, mas sim à propriedade, e os donos das escravas começavam a entrar em acordos com os imputados autores, deles recebendo uma soma que os absolvia das penas. Eram frequentes as compras de escravas grávidas por uma razão algo insólita: o adquirente comprava previsivelmente dois escravos pelo preço de um!

No século I d. C., o louco Nero (Nero Cláudio César Augusto Germânico, nascido com o nome Lúcio Domício Enobarbo), jovem imperador, teve o seu reinado associado à tirania e à extravagância. Recordado ainda por uma série de execuções sistemáticas, incluindo a da sua própria mãe, e sobretudo pela crença generalizada de que, enquanto Roma ardia, ele estaria compondo com a sua lira, além de ser um implacável perseguidor dos cristãos.

Recuando para o século II a.C., podemos, ao acaso, focarmos Delenda est Carthago (“Cartago deve ser destruída”), com Catão, o Velho, a inflamar seus compatriotas sobre a necessidade de iniciar o quanto antes a Terceira Guerra Púnica e a destruição total de Cartago. Naquela época, durante as sessões do Senado e fora delas, repetia no final aquela frase que o imortalizou para a história.

A nossa Casa Comum persiste, ainda hoje, em gravitar de muitos loucos que pretendem incutir a submissão a quem não obedecer aos seus propósitos de destruição.

Estão na vanguarda Donald Trump e Jair Bolsonaro. Este tem permitido a destruição da floresta Amazónia, a qual já arde há muitos dias. Bolsonaro bloqueou relevantes verbas para a proteção e conservação do maior pulmão do mundo. O Governo brasileiro tem atacado, sem precedentes, os povos indígenas da selva, com o fim de os destruir e lhes saquear as terras. As queimadas tiveram um acréscimo de 82% este ano! Estima-se em 20% o oxigénio que de lá vem.

Com um demente no poder do Brasil, se não meterem Bolsonaro numa camisa-de-forças, não sabemos até onde isto vai parar! Nos 130 anos de República, o Brasil já teve toda a espécie de presidentes. Mas Jair Bolsonaro está batendo todos os recordes do pior presidente de sempre. É o ódio ou desprezo por índios, gays, transexuais, feministas, crianças, professores, estudantes, cientistas, pesquisadores, artistas, jornalistas, pacifistas, imigrantes, deficientes mentais, dependentes químicos, presidiários, desaparecidos políticos, ambientalistas, veganos e pessoas oriundas do Nordeste do Brasil. Vive manifestando o seu apreço e a sua admiração por torturadores da ditadura militar, polícias corruptos que dominam e extorquem os habitantes das favelas, assassinos profissionais, fabricantes de armas, devastadores do ambiente, garimpeiros ilegais em terras indígenas.

Bolsonaro e Macron trocam insultos enquanto a Amazónia arde. Jair Bolsonaro chegou ao ponto de, no G7, ter feito comentários “desrespeitosos” sobre a idade da primeira-dama francesa, Brigitte, que é 24 anos mais velha que o marido.

Mas já antes bradava por terras de Cristóvão Colombo outro louco – Donald Trump, a brincar com a humanidade, rasgando acordos internacionais, como o acordo nuclear com a Rússia sobre a proibição de mísseis nucleares de curto e médio alcance, assinado em 1987; saída do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas; anunciou ainda a retirada dos Estados Unidos do Tratado Internacional de Comércio de Armas com a ONU, importante acordo, assinado por 130 países em 2013.

São alguns dos loucos da Casa Comum, colocados nos pedestais por outros insensatos, talvez loucos de mudança, sem medir as consequências de um tal ato de loucura na altura das suas decisões, democráticas ou não.


(In "Notícias da Covilhã", de 19-09-2019)

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