Se há alguma coisa que me leva à repugnância são as passagens da história
dos escravos de todo o mundo que ainda hoje, em pleno século XXI, persiste
nalgumas partes incivilizadas do planeta.
No Código Negro francês, promulgado por Luís XIV em 1685, no seu artigo
44 declarava os negros como móveis para efeitos de seguro, de tal forma que se
a escrava engravidasse não era crime considerado de ofensa à pessoa, mas sim à
propriedade, e os donos das escravas começavam a entrar em acordos com os
imputados autores, deles recebendo uma soma que os absolvia das penas. Eram
frequentes as compras de escravas grávidas por uma razão algo insólita: o
adquirente comprava previsivelmente dois escravos pelo preço de um!
No século I d. C., o louco Nero (Nero Cláudio César Augusto Germânico,
nascido com o nome Lúcio Domício Enobarbo), jovem imperador, teve o seu
reinado associado à tirania e à extravagância. Recordado ainda por uma série de
execuções sistemáticas, incluindo a da sua própria mãe, e sobretudo pela crença
generalizada de que, enquanto Roma ardia, ele estaria compondo com a sua lira,
além de ser um implacável perseguidor dos cristãos.
Recuando para o século II a.C., podemos, ao acaso, focarmos Delenda
est Carthago (“Cartago deve ser destruída”), com Catão, o Velho, a inflamar
seus compatriotas sobre a necessidade de iniciar o quanto antes a Terceira
Guerra Púnica e a destruição total de Cartago. Naquela época, durante as
sessões do Senado e fora delas, repetia no final aquela frase que o imortalizou
para a história.
A nossa Casa Comum persiste, ainda hoje, em gravitar de muitos loucos que
pretendem incutir a submissão a quem não obedecer aos seus propósitos de
destruição.
Estão na vanguarda Donald Trump e Jair Bolsonaro. Este tem permitido a
destruição da floresta Amazónia, a qual já arde há muitos dias. Bolsonaro
bloqueou relevantes verbas para a proteção e conservação do maior pulmão do
mundo. O Governo brasileiro tem atacado, sem precedentes, os povos indígenas da
selva, com o fim de os destruir e lhes saquear as terras. As queimadas tiveram
um acréscimo de 82% este ano! Estima-se em 20% o oxigénio que de lá vem.
Com um demente no poder do Brasil, se não meterem Bolsonaro numa
camisa-de-forças, não sabemos até onde isto vai parar! Nos 130 anos de
República, o Brasil já teve toda a espécie de presidentes. Mas Jair Bolsonaro
está batendo todos os recordes do pior presidente de sempre. É o ódio ou desprezo
por índios, gays, transexuais, feministas, crianças, professores, estudantes,
cientistas, pesquisadores, artistas, jornalistas, pacifistas, imigrantes,
deficientes mentais, dependentes químicos, presidiários, desaparecidos
políticos, ambientalistas, veganos e pessoas oriundas do Nordeste do Brasil. Vive
manifestando o seu apreço e a sua admiração por torturadores da ditadura
militar, polícias corruptos que dominam e extorquem os habitantes das favelas, assassinos
profissionais, fabricantes de armas, devastadores do ambiente, garimpeiros
ilegais em terras indígenas.
Bolsonaro e Macron trocam insultos enquanto a Amazónia arde. Jair
Bolsonaro chegou ao ponto de, no G7, ter feito comentários “desrespeitosos”
sobre a idade da primeira-dama francesa, Brigitte, que é 24 anos mais velha que
o marido.
Mas já antes bradava por terras de Cristóvão Colombo outro louco – Donald
Trump, a brincar com a humanidade, rasgando acordos internacionais, como o
acordo nuclear com a Rússia sobre a proibição de mísseis nucleares de curto e
médio alcance, assinado em 1987; saída do Acordo de Paris sobre mudanças
climáticas; anunciou ainda a retirada dos Estados Unidos do Tratado
Internacional de Comércio de Armas com a ONU, importante acordo, assinado por
130 países em 2013.
São alguns dos loucos da Casa Comum, colocados nos pedestais por outros
insensatos, talvez loucos de mudança, sem medir as consequências de um tal ato
de loucura na altura das suas decisões, democráticas ou não.
(In "Notícias da Covilhã", de 19-09-2019)
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