Outono boreal a chegar ao fim.
Este equinócio, agora de frio, chuva e vento, traz o cambiante das folhas
amarelas no chão. E do vendedor de castanhas no Pelourinho. De vez em quando o arco-íris
a emoldurar a Cidade.
Aproxima-se o solstício de
inverno.
Entre estes momentos
específicos, temos vindo a ouvir uma variedade de GRITOS. Coincidência. Um livro cai-me da estante ao resvalar do
escadote. As suas folhas desnudam-se no “Grito
do Ipiranga”. Acontecimento ocorrido a 7 de setembro de 1822 que
simboliza a independência do Brasil – “Independência ou morte!”
“Order! Order!” – É o
peculiar grito do speaker (presidente)
da Câmara dos Comuns do Reino Unido, John Bercow, tornado uma personagem
essencial para os milhões de pessoas em todo o mundo que descobriram o mistério
do funcionamento do Parlamento britânico por causa do “Brexit”. Entrou há dias
pela última vez em Westminster. Esteve dez anos no cargo, mas nos últimos três
o seu grito de “Order” foi especialmente
ouvido, tal a desordem nos espíritos causados pelo “Brexit”.
“Veneza está a afundar-se, é preciso salvar Veneza!” Gritos de
alarme, como há bem pouco tempo ecoou em Itália repercutiu-se em todo o mundo.
A Praça de São Marcos inundada. Há uns anos, em pleno verão estivemos lá
sentados numa esplanada. Nesta praça tivemos que, num ápice, nos levantar, quando
a água repentinamente surgira por debaixo das mesas e cadeiras e já nos começava
a molhar os pés. Sempre foi assim, mas desta vez foi exagerado.
“Zero saiu da Internet e tomou as ruas”. Cerca de 13 mil
agentes da PSP e militares da GNR participaram de forma pacífica na
manifestação do dia 21 de novembro. O anónimo Movimento Zero passou a ter
milhares de rostos e ocupou as ruas. Deixou de ser anónimo. No Marquês de
Pombal venderam-se T-shirts do
Movimento zero. Milhares vestiram-nas. “Zero, Zero, Zero…” foi a palavra de
ordem gritada ao longo de toda a marcha. E, enquanto gritavam, levantavam os
punhos, juntando o polegar com o indicador desenhando um zero. “Certamente que
muitos dos manifestantes nem sequer sabiam que aquele gesto é também usado pela
extrema-direita em muitos países do mundo. Em gritos e cartazes pretendiam os
manifestantes sensibilizar a cidadania para a imensa panóplia de problemas das
forças de segurança”. Aqui se posicionou o deputado da extrema direita, André
Ventura. Lamentável, entre frustrações justas e as inaceitáveis apropriações.
Ao grito das gentes do Interior, aquele que fica fora de Lisboa,
respondeu o Governo com três secretarias de Estado para fora da capital. Qual o
critério para terem de ir umas e não outras secretarias, quando se verifica que
como único e previsível critério será o da proximidade dos governantes dos
locais escolhidos? Vai existir um verdadeiro plano de ação, ou é mais um faz de
conta? Isto porque basta ter ouvido Ana Abrunhosa, ministra da Coesão
Territorial. na sua expressão de que iria “gerir o declínio…” do Interior! Para
afinal, fazer o quê desta parcela do território português? Está mais que visto
que passará a ser “Tudo como dantes, Quartel General em Abrantes”.
Gritos dos Srs. H. – Henrique Galvão e Humberto Delgado foram
dois notáveis personagens da nossa história do século XX. Ambos haviam sido
declarados apoiantes de Salazar e do Estado Novo, até meados do século passado.
Paradoxalmente, ambos foram posteriormente profundamente seus inimigos. O grito de “obviamente
demito-o”, saído da boca de Humberto Delgado, referindo-se a Salazar,
conduzi-lo-ia ao caminho da morte por assassínio. Já o grito de Henrique Galvão, com o desvio
do navio Santa Maria no mar das
Caraíbas iria chamar, de novo, as atenções internacionais para a falta de
liberdade no Portugal de Salazar. À frente deste audacioso golpe político
estavam Galvão e Delgado…
Depois há outros gritos,
como os de Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, ou dos
secretários-gerais da CGTP e UGT.
Gritos suavíssimos – Para
terminar este final de ano, mencionamos os gritos finlandeses com a chegada da
Finlândia, pela primeira vez na sua história, desde a sua estreia em jogos
internacionais, em 22 de outubro de 1911, pela sua passagem à fase final de uma
grande prova – o Euro 2020.
Votos com gritos de Boas Festas de Natal.
(In "Notícias da Covilhã", de 28-11-2019)