Com o português Fernão de
Magalhães, que comandou a expedição da viagem que iria ser conhecida por
circum-navegação, partiu numa das cinco naus, o espanhol Juan Sebastián Elcano,
no dia 20 de setembro de 1519.
Nascido em Getaria, Guipúscoa no
ano de 1476, quatro anos mais novo que o português, foi um explorador,
navegador e marinheiro.
Tendo completado 23 anos,
Sebastián Elcano passou a ser dono e capitão do seu próprio navio mas devido a
problemas financeiros fugiu para Sevilha onde aprendeu a sua arte de navegação,
tornando-se piloto.
Estabelecido em Sevilha tornou-se
capitão de navio mercante. Após violar a lei espanhola ao entregar um navio a banqueiros
genoveses como pagamento de uma dívida, Elcano procurou o perdão do rei D.
Carlos I de Espanha, inscrevendo-se assim como oficial na expedição liderada
por Fernão de Magalhães às Molucas.
Estávamos então na Idade Média,
cujo comércio das especiarias era considerado de longe o mais rentável para a
época pois que o mais pequeno volume de mercadoria garantia a maior margem de
lucro. No século XV, um único saco de pimenta tinha mais valor que uma vida
humana.
Da mesma forma que hoje grande
parte da economia do mundo moderno se baseia no petróleo, grande parte da
economia do mundo medieval firmava-se no comércio dos produtos do Oriente, mormente
nas especiarias: cravo, canela, pimenta, malagueta, noz-moscada, mirra,
incenso.
Se a Fernão de Magalhães lhe era
recusado pelo monarca português, D. Manuel I, primeiro a indemnização pelo
cavalo morto, depois a gratificação pelas feridas em combate, durante a
escaramuça às portas de Azamor, que o deixara coxo o resto da vida; e o aumento
da moradia; e também de navegar
para as Molucas; e por fim qualquer outro serviço, ele tornou-se para D. Manuel
além dum fardo, um inútil. Também o covilhanense Ruy Faleiro tinha razões de
queixa de D. Manuel, talvez por este lhe ter negado o posto de lente na
Universidade de Coimbra. Tal não acontecia na conduta dos espanhóis para com
Elcano.
Magalhães teve consigo um
acompanhante e intérprete, Enrique de Malaca, um jovem escravo que havia
adquirido, o qual viria a permanecer ao seu lado e ser-lhe fiel até à sua morte.
Entretanto Juan Sebastián Elcano acabava por ser poupado por Fernão de
Magalhães, depois daquele ter participado num motim falhado nas costas da
Patagónia, contra Magalhães.
Ninguém sabia exatamente a
dimensão do mundo, nem a sua morfologia, assim como as direções para o
percorrer. Um dos grandes enigmas geográficos da Idade Média era a localização.
Depois do motim falhado, a nau San
Antonio foi confiada a Juan Sebastián Elcano, não obstante ter procurado impedir
que Magalhães concretizasse a sua ideia. Noutra altura, seria chamado como
eleito pelo destino de concluir a obra de Fernão de Magalhães.
O mestre de armas Gomez de Espinosa
havia sido o mais fiel apoiante de Magalhães e, a bordo do Trinidad viria
a perecer ingloriamente, após sofrimentos, juntamente com os seus companheiros
de desgraça, sendo esquecidos pela ingratidão da História. Juan Sebastián
Elcano será imortalizado, precisamente o chico-esperto que quis impedir o feito
de Magalhães e que se revoltou contra o seu almirante.
Poucos dias depois da batalha de
Mactan, onde viria a ficar sem vida Fernão de Magalhães, o rei de Cebu,
Humabon, e o escravo de Magalhães, Enrique, armam uma cilada aos principais
oficiais da armada. Cada um com as suas razões, ambos se sentindo traídos e
humilhados, sendo que Enrique tem motivos porque os oficiais da armada ameaçam
mantê-lo em escravidão, apesar das ordens deixadas por Magalhães no seu
testamento; e Humabon porque “estes europeus cristãos, declarando-se tocados
pela graça do seu Deus e invulneráveis, convenceram-no a prestar-lhes
vassalagem – e, afinal foram vencidos por um dos seus vassalos”.
Os dois conspiradores organizaram
um jantar de homenagem e de despedida dos principais tripulantes da armada, que
acabaria por se transformar num autêntico massacre.
Os sobreviventes decidiram
abandonar a nau Concepción nas Filipinas já que não havia homens
suficientes para manobrar três navios. A armada, agora reduzida à Trinidad e
à Victoria, chegou às Molucas em novembro de 1521, seis meses depois dos
trágicos acontecimentos ocorridos em Cebu. A nau Trinidad, necessitando
de reparações urgentes não pode seguir viagem a tempo de aproveitar os ventos
de monção.
Sebastián Elcano foi um dos
poucos oficiais que se salvaram do massacre de Cebu. O covilhanense Ruy
Faleiro, parceiro de Magalhães nos primeiros tempos, foi encarcerado mal entrou
em Portugal. Só aquele que se ergueu contra Magalhães, Sebastián Elcano,
arrebanhou todas as glórias aos que lhe foram fiéis, aos que morreram.
Quando, no dia 9 de julho de 1522
a extenuada nau Victoria se
aproximou das ilhas de Cabo Verde, após cinco meses de uma viagem ininterrupta,
já só com trinta e um espanhóis e três indígenas, Elcano, mais uma vez
chico-esperto, decidiu arriscar e enganar os portugueses quanto à verdadeira
identidade. Antes de enviar alguns homens a terra num batel, a fim de comprarem
mantimentos, obrigou a tripulação a jurar solenemente que não dariam a entender
aos portugueses, nem por uma palavra, que eles eram o que restava da frota de
Magalhães e que regressavam da viagem à volta do mundo, sendo os marinheiros
instruídos a contar uma peta. E a 6 de setembro de 1522 chegava ao fim o maior
feito marítimo de todos os tempos.
Participantes da região beirã nesta viagem de circum-navegação: Afonso
Gonçalves, da Guarda, despenseiro da Victoria.
Desertou nas ilhas Marianas, onde
foi morto em finais de agosto de 1522. Domingos Álvares, da Covilhã, grumete da
Trinidad. Faleceu em 7 de junho de 1522.
Dos 18 sobreviventes que chegaram a Espanha havia um único português –
Francisco Rodrigues – , marinheiro, nascido em 1482, que não sabia ler e
afirmara inicialmente que era castelhano.
__________
Pesquisas: “MAGALHÃES o
homem e o seu feitio”, de Stefan Zweig; “Nos Passos de Magalhães”, de Gonçalo
Cadilhe; “A Viagem de Fernão de Magalhães e os Portugueses”, de José Manuel
Garcia.
(In "Jornal fórum Covilhã", de 13-11-2019)
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