Praticamente quase não se
utiliza. Mas o mesmo não aconteceu até finais da década de oitenta do século
passado. A circular pelo Correio sem envelope e com o porte de valor inferior
ao das cartas comuns. Tinha e tem ainda o inconveniente de terceiros poderem vir
a ler o seu conteúdo, por vezes algo reservado entre o remetente e o
destinatário. A privacidade não existe, como no caso de serviços de contencioso
do fisco ou judicial. Estes agora optaram pelas cartas registadas.
Consta que o primeiro
cartão-postal, bilhete-postal ou simplesmente postal foi emitido no século XIX existindo,
contudo, versões diferentes sobre a sua invenção.
Também existiu o aerograma,
tipo de carta que se enviava pelo correio aéreo, sem necessidade de
sobrescrito. Tinha uma tarifa diferente da do resto da correspondência. O uso
deste termo foi oficialmente aprovado na União Postal Universal de 1952.
Amplamente divulgado pelo seu uso durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Em Portugal, ganhou fama durante a Guerra Colonial, como meio de comunicação
preferencial entre as famílias na Metrópole e as tropas destacadas em Angola,
Moçambique e Guiné-Bissau em virtude de ser um meio grátis de correspondência,
mantido pelo antigo SPM (Serviço Postal Militar). Entre 1961 e 1974 o Movimento
Nacional Feminino foi a organização responsável pela emissão dos aerogramas
militares, tendo editado mais de 300 milhões de aerogramas. Eu próprio escrevi
alguns aerogramas para meu irmão, então destacado como combatente na Guiné, nos
finais da década de sessenta do século passado.
O título desta crónica vem a
propósito de, com alguma surpresa, ter recebido de uma autarquia o
agradecimento, em simples postal, da oferta que fizera do meu último livro para
a sua biblioteca municipal. Pensei que já não se usasse o bilhete-postal.
E porque me referi também à
privacidade, veja-se o que deu azo à leitura, em simples bilhetes-postais,
bastante em uso na altura, no período de 1969 a 1971, quando prestava serviço
militar no RI 12, na Guarda. Em cima da habitual mesinha de jogos ou do balcão
do bar da sala de sargentos entregavam o correio. Dois bilhetes-postais
arrastaram-se por ali alguns dias, por ausência dos seus destinatários,
furriéis milicianos. Um era dum familiar do camarada que fora transferido para um
hospital em Coimbra, o Gaio de Belmonte, a fim de sofrer uma intervenção
hemorroidal. O furriel Oliveira, de Melo, atrevidote e sempre com sentido de
humor, escreveu na diagonal do bilhete-postal que seria enviado para o doente
em Coimbra: “Melhoras cobre”. Quando o camarada doente regressou ao RI
12, perguntou-me o que significavam aquelas palavras. Resposta: “Então não
sabes que o símbolo químico do cobre é ‘cu’?”.
Outro bilhete-postal, sem
escrúpulos por quem viesse a ler, face à exposição da correspondência,
reportava-se à esposa dum camarada que com alguma aflição lhe recomendava a
compra dum contracetivo: “se não vamos ter mais um bebé…”
Estes eram os inconvenientes
do Bilhete-Postal, em tempos em que ainda não existiam os telemóveis, nem a
Internet, e as chamadas telefónicas eram caras e morosas.
O ideal era escrever uma
carta. A modernidade, com o mundo digital ao nosso dispor, transformou
radicalmente o mundo que nos rodeia. Mário Zambujal escreveu o seu romance: “Já
não se escrevem cartas de amor”.
Vem aí o período ainda propício
para alguns teimosos no envio de postais. É o período do Natal, com os postais
de Boas-Festas.
(In "Notícias da Covilhã", de 07-11-2019)
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