20 de dezembro de 2019

NATAIS

Nesta quadra natalícia vamos ter oportunidade de fechar o ano 2019 com o último número desta publicação, como já vem sendo habitual. Fazemos uma reflexão de muitos natais que foram passados pelos antigos Combatentes, no teatro bélico, tenham eles sido provenientes da I Grande Guerra ou das Guerras Coloniais.
Sobre estes últimos, sentimos na proximidade a vivência desses dias de natais, melancólicos, duma nostalgia contida, lacrimejantes.
Felizmente que, para alguns, a sorte bafejou-os no âmbito das lutas entre irmãos em guerra, tendo ficado destacados em posições estratégicas de segurança. No entanto, sempre ficou a saudade da família na longitude dos mares, a anos de espera para o abraço da chegada feliz, quantos a ela tiveram a dita de o conseguir, pois não viria contemplar todos.
E porque estas guerras fratricidas terminaram com o 25 de Abril de 1974, a nossa reflexão insere-se no período compreendido entre 1914 e 1974, ou seja, de seis décadas.
São referências a alguns eventos surgidos nesta periodicidade.
Se nos reportarmos ao ano 1914, foi o início da I Guerra Mundial. As luzes do esplendor, que indicavam um futuro soberbo, foram subitamente apagadas, com o assassinato em Sarajevo, do herdeiro do trono austríaco, o arquiduque Francisco Fernando. Este incidente mergulhou, sobretudo a Europa, numa guerra sem precedentes, que viria a convocar para a frente de combate, durante os quatro anos do conflito, cerca de 65 milhões de homens oriundos de mais de vinte países. Foram quatro natais vividos sob o fogo da I Guerra Mundial.
Em 1919 foi a revolta na América Latina, com a morte de Zapata. No México viveram-se natais de instabilidade, desde a demissão, em 1911, do governo absolutista de Porfírio Diaz. Solidifica-se o movimento do campesinato índio liderado por Emiliano Zapata, que faz da Terra e Liberdade palavras de ordem para o seu projeto de libertação. O então novo governo mexicano operou reformas agrárias e fez aprovar uma constituição socialista. O movimento Zapatista, porém, continuou insatisfeito e o conflito manteve-se. No Natal de 1919, o México chorava a morte de Emiliano Zapata – o primeiro herói da América Latina do século XX.
Em 1926 Portugal entrava na era da ditadura militar. Este golpe, que visava aniquilar a I República demoliberal, iniciou-se em Braga e depressa se estendeu às restantes cidades portuguesas. O Natal de 1926, em Portugal, foi o primeiro de muitos que viriam a constituir a época do Estado Novo.
O Natal de 1927 foi marcado pelo “Cantor de Jazz”. A primeira longa-metragem com palavras faladas estreou-se em Nova Iorque em 1927 e fez a delícia das plateias de todo o mundo. Estava, definitivamente, aberta a era da 7ª Maravilha do Mundo.
Em 1933, Adolf Hitler, com a vitória eleitoral dos nazis, é nomeado chanceler do Reich. Apostado em fazer emergir a Alemanha das imensas humilhações a que havia sido submetida, promete aos alemães obrigar o mundo a reconhecer a supremacia da raça germânica. No Natal de 1933, a maioria dos alemães acreditava na melhoria das condições de vida. Neste mesmo Natal, a maioria dos alemães estava longe de perceber o pesadelo que o novo chanceler iria representar para toda a humanidade.
Em 1941, a obsessão pela supremacia da raça ariana levou a anos sem fim de perseguição aos judeus. Nesse ano, quando ainda pairava no ar o espetro da I Guerra Mundial, Hitler ordenou a invasão da União Soviética, marcando o início da II Guerra Mundial. Os conflitos deram-se por terra, mar e ar e envolveram quase todos os continentes. Foram, sem dúvida, os natais mais tristes do século XX, sendo mesmo os de toda a história da humanidade.
Em 1944, seria o Dia D. As forças aliadas desembarcaram na costa da Normandia com uma única missão: acabar com o domínio nazi na Europa. Foram precisos 4 mil navios e 10 mil aviões para cumprir tal objetivo. O Natal de 1944 marcou, pois, o princípio do fim das ambições da supremacia ariana.
1945, a bomba atómica. Em Hiroshima, o exército americano deixou cair a primeira bomba atómica. Calcula-se que tenham morrido cerca de 100 mil pessoas e foram dezenas de milhares de mutilados. Três dias depois, uma bomba igual explodiu, por ordem dos americanos, em Nagasaki. Com a inevitável rendição do império do Sol Nascente e com o suicídio de Adolf Hitler, assinalou-se o fim da II Guerra Mundial.
O Natal de 1947 foi de glória para Portugal. A seleção nacional de hóquei em patins venceu, pela primeira vez, o campeonato do mundo. Um título reconquistado nos dois anos seguintes.
No Natal de 1948, o Mundo chorou a morte de Mohandas Gandhi, por assassínio – o homem que tudo fez para acabar com a intolerância religiosa, acabando por ser vítima dela.
Em 1959 foi a revolução cubana. Pela boca de Fidel de Castro saíram as palavras de ordem: “Pátria ou muerte. Venceremos.” No Natal deste ano o mundo assistiu ao virar de costas entre Cuba e os Estados Unidos, originando um conflito que perduraria durante muitos anos.
Em 1961, iríamos assistir à divisão da Alemanha. A construção de um muro que dividia a parte ocidental de Berlim, da parte comunista, com o objetivo de acabar com o êxodo de alemães de Leste para o Ocidente, fez com que o Natal de 1961 de numerosas famílias alemãs fosse vivido entre a revolta e a saudade dos familiares que ficaram para lá do muro da vergonha.
No ano de 1962 foi a estranha morte de Marilyn Monroe. A imagem do vento a soprar sobre ela ainda persiste na memória de todos nós. Marilyn Monroe é um dos mitos do século XX. Foi indubitavelmente uma das pessoas mais fotografadas. Entre Hollywood e Nova Iorque- Ela provocava o mundo. Entre homens da sua vida, dizem encontrar-se o então Presidente dos Estados Unidos, John Kennedy. Em 1962, a morte estranha de Marilyn foi, certamente, um dos temas de conversa da noite de Natal.
Já o Natal de 1963 foi de luto para os americanos que viram seu mais jovem Presidente, John Fitzgerald Kennedy, ser brutalmente assassinado, aquando de uma visita oficial a Dallas.
Em dezembro, no Natal de 1968, o mundo ainda pensava nos acontecimentos de maio em França. Foram noites de barricadas, manifestações e greves convocadas pelos estudantes, às quais se juntaram trabalhadores e a população em geral. A França paralisou. O general De Gaulle tremeu, mas não caiu e o mundo assistia, comovido, à força da união das vozes que gritavam contra as garras do capitalismo.
No Natal de 1969, o mundo ainda não acreditava. Neil Armstrong, a bordo da missão espacial Apolo II, chegava à Lua e, entre passinhos pequenos, protagonizou o maior passo da humanidade ao colocar a bandeira americana no solo lunar.
E chegávamos ao Natal de 1974, com a conquista da liberdade. O Movimento das Forças Armadas organizou um golpe de Estado em Portugal para pôr fim ao Estado Novo.  Marcelo Caetano foi afastado e iniciou-se a era da liberdade e democracia. Neste Natal, os portugueses estavam ainda completamente embriagados pelas comemorações do 1º de Maio, pelas sucessivas manifestações populares que a liberdade não só garantia, como também estimulava.
E assim terminou também a guerra nas Colónias, estas então designadas Províncias Ultramarinas. Já a guerra nas Colónias, entre os povos africanos, sob dominação portuguesa, chamava-se a Guerra do Ultramar.
Encontramo-nos, felizmente, neste Natal de 2019, em liberdade.
Votos de um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.

(In "O Combatente da Estrela", nº. 117, de dezembro de 2019)

16 de dezembro de 2019

MINHAS MEMÓRIAS DE EQUIPAS HISTÓRICAS E SUAS VEDETAS


Vem este meu último texto do ano da graça de dois mil e dezanove, no conceituado Jornal O Olhanense; de que sinto enorme prazer em marcar presença ao longo de um quarto de século (como o tempo passa!...), transpondo da região beirã para a algarvia o meu espírito de serrano; dar lugar a algumas memórias duma vivência que foi ímpar em relação aos dias de hoje.
Foi assim que no já distante ano de 1992 recebi no meu escritório, num atendedor automático de chamadas, a voz algarvia de Augusto Ramos Teixeira, olhanense de gema, que já não se encontra no mundo dos vivos mas deixou marcas na coletividade olhanense, aquando da minha pesquisa de antigos atletas algarvios que passaram pelo meu clube da Terra – o Sporting Clube da Covilhã –, para um dos quatro livros que escrevi sobre o Clube, pois que  o Algarve havia sido um alfobre desses homens do futebol: Rita, Hélder, irmãos Cavém, Cabrita, Eminêncio, Palmeiro e outros mais.
Pela voz de Herculano Valente, também já desaparecido, dei então início à publicação de alguns textos, por vezes com dificuldade por falta de espaço, mas é na dinâmica de Mário Proença que, após eu ter ficado perplexo com aquele falecimento, me encoraja, até aos dias de hoje, no prosseguimento duma colaboração, ficando então um espaço quinzenal em “Ecos da Beira Serra”.
E, sem menosprezar os predecessores, longe de ferir qualquer suscetibilidade, o Jornal tomou um rumo de substancial melhoria, onde encontrei um espaço num emparceirar duma similaridade de gostos na memorização do que foram outros tempos.
Pena é que mais colaboradores não deem, com a sua escrita, mais voz ao jornal, aliviando assim muito do que, sozinho, se multiplica o Diretor Adjunto.
E foi por ver no número de 15 de novembro um resultado da 9ª jornada do Campeonato de Portugal – Olhanense, 5 Fabril do Barreio, 0 – que me recordei dos bons velhos tempos do Grupo Desportivo da CUF, que depois passou por Quimigal, e agora com a designação de Fabril do Barreiro.
Neste contexto, transpôs-me o meu pensamento para os tempos da juventude onde via jogar a CUF, o Lusitano de Évora, o Oriental, o Caldas, o Atlético, o Olhanense e o Sporting da Covilhã, na então designada I Divisão Nacional (hoje, I Liga).
E é nesse navegar que vou recordar alguns encontros da Divisão Maior do futebol português, cujos jogadores foram tantas vezes objeto de destaque nos relatos de futebol (dribles, potentes remates, grandes defesas, penaltis defendidos ou indefensáveis, golos, etc.) na Emissora Nacional, Rádio Clube Português ou Rádio Renascença, pelas vozes sobejamente conhecidas de Artur Agostinho, Carlos Cruz ou Nuno Brás, ou no único canal televisivo a preto e branco – RTP, pela voz do praticamente único comentador desportivo, à altura, Alves dos Santos.
Memorizando algumas equipas em que intervieram o Sporting Clube Olhanense (SCO) e o Sporting Clube da Covilhã (SCC), exclusivamente nas I e II Divisões Nacionais, com o objetivo de recordar alguns dos seus habituais jogadores, passo a indicar, sem mencionar os resultados desses encontros, já que o objetivo intencional é recordar as equipas e alguns dos seus valorosos jogadores:
Época 1948/49, na 3ª. Jornada, na Covilhã, as equipas alinharam da seguinte forma: SCC: António José; Roqui e Leopoldo; Fonseca da Silva, Pedro Costa e Fialho; Livramento, Martinho, Carlos Ferreira, Tomé e Noronha. SCO: Abraão, Rodrigues e Eminêncio; Acácio, Grazina e Loulé; Soares, Paulo, Cabrita, Salvador e Carmo.
Na 16ª Jornada, em Olhão, as equipas: SCO: Abraão, Rodrigues e Nogueira; Januário, Grazina e Loulé; Moreira, Joaquim Paulo, Soares, Salvador e Carmo. SCC: Ramalhoso, Roqui e Pedro Costa; Szabo, Fialho e Leopoldo; Livramento, Diamantino, José Pedro, Tomé e Martinho.
Época 1949/50, na 9.ª Jornada, em Olhão, as equipas: SCO: Abraão; Rodrigues, Nogueira e Loulé; Acácio e Grazina; Eusébio, Soares, Cabrita, João da Palma e Eminêncio. SCC: António José, Roqui, Pedro Costa e José Pedro; Diamantino e Fialho; Livramento, Martin, Simonyi, Tomé e Guedes.
Na 22ª. Jornada, na Covilhã, as equipas: SCC: António José, Roqui, José da Costa e José Pedro; Diamantino e Fialho; Carlos Ferreira, Martin, Simonyi, Tomé e Livramento. SCO: Abraão; Rodrigues, Nogueira e Loulé; Eusébio e Grazina; Soares, Joaquim Paulo, Cabrita, João da Palma e Eminêncio.
Época 1950/51, na 4ª. Jornada, na Covilhã, as equipas alinharam: SCC: António José; Eminêncio e Oliveira; Diamantino, Mário Reis e Fialho; Carlos Ferreira, Martin, Simonyi, Tomé e Livramento. SCO: Abraão; Rodrigues, Eusébio e Abreu; Nogueira e Grazina; Marques, Joaquim Paulo, Cabrita, João da Palma e João Manuel.
De notar que o jogador Eminêncio havia-se transferido do SCO para o SCC.
Na 17ª. Jornada, em Olhão, as equipas alinharam: SCO: Abraão; Rodrigues, Grazina e Acácio; Abreu e Cirilo; Machado, Soares, Vinício, Cabrita e Joaquim Paulo. SCC: António José; Roqui, Mário Reis e Oliveira; Diamantino e Fialho; Livramento, Martin, Simonyi, Tomé e Eminêncio.
Um parêntesis para fazer aqui uma breve referência à Época 1951/52, em que o Olhanense ficou no Campeonato Nacional da II Divisão, e, na 4ª. Jornada, no jogo com o Portalegrense, em Portalegre; assim como na 5ª Jornada, com o Farense, em Olhão, jogou na baliza o Rita e não jogou Cabrita.
Também em Évora, na 6ª Jornada, com o Lusitano do Évora (LEV), as equipas alinharam assim: LEV: Martelo; Polido, Vale e Soeiro; Madeira e Paulo; Domingo, Di Paola, Teixeira da Silva, Duarte e Hilário. SCO: Rita, Rodrigues, Tavares e Eusébio; Muñoz e Fernandes; Vinício, Soares, Curro, Paulo e Arménio.
Na 15ª. Jornada, em Olhão, as equipas alinharam: SCO: Rita, Tavares, Grazina e Eusébio; Januário e Fernando; Vinício, Soares, Curro, Joaquim Paulo e Arménio. LEV: Vital; Polido, Vale e Domingos; Madeira e Paulo; Pepe, Martinho, Teixeira da Silva, Duarte e Hilário.
Época 1953/54, ainda no Campeonato Nacional da II Divisão – Zona C., em Olhão. Na 4ª Jornada, com a CUF do Barreiro: SCO: Abraão, Graça, Tavares e João Manuel, Toupeiro e Fernandes; Coelho, Mourão, Vinício, Casaca e Pais. C.U.F.: Libânio; Matos, Carreira e Celestino; Orlando e Vale; Barriga, Vasques, Sérgio, Luís e André.
Na 15ª Jornada, no Barreiro: C.U.F.: Libânio, Matos e Celestino; Orlando, Carreira e João Vale; Sérgio, Vasques, Aureliano, Luís e André. SCO: Silvestre; Graça e João Manuel; Osvaldo, Tavares e Fernandes; Simões, Santiago, Vinício, Del Duca e Casaca.
Época 1957/58, Fase Final – Campeonato Nacional da II Divisão. Na Covilhã, as equipas alinharam da seguinte forma: SCC: Rita; Hélder, Lourenço e Couceiro; Lãzinha e Cabrita; Martin, Martinho, Tonho, Amílcar e Óscar Silva. SCO: Abade; Alfredo, Bento e Nunes; Poeira e Reina; Costa, Ângelo, Amândio, Parra e Sílvio.
Note-se que aqui já jogaram no SCC os atletas oriundos do SCO, donde se transferiram: Rita e Cabrita.
Época 1958/59, no Torneio de Competência para a I Divisão, com a CUF, na 2.ª Jornada, em Olhão, as equipas posicionaram-se assim: SCO: Abade; Alfredo, Rui e Reina; Madeira e Toupeiro; Ângelo, Parra, Campos, Gralho e Nuno. C.U.F.: José Maria; Durand, Palma e Abalroado; Oliveira e Vale; Rodrigues, Orlando, Bispo, Carlos Alberto e Uria.
Na 4.ª Jornada, em Olhão, com o Barreirense (BAR): SCO: Abade, Alfredo, Bento e Toupeiro; madeira e Reina; Vinício, Campos, Ângelo, Nuno e Parra. BAR: Bráulio; Faneca, Abrantes e Lança; Pinto e Artur; Madeira, Correia, José Augusto, Faia e Moyano.
Na 5ª Jornada, no Porto, com o Salgueiros (SAL), as equipas alinharam: SAL: Adelino; Geninho, Gonçalves e Chau; Branco e Lenine; Chico, Paraíba, Sampaio, Tai e Benje. SCO: Abade: Alfredo, Toupeiro e Bento; Madeira e Reina; Vinício, Ângelo, Parra, Gralho e Viegas.
Na 7ª Jornada, no Barreiro, com a C.U.F., as equipas: CUF: José Maria; José Luís, Palma e Durand; Carlos Alberto e Orlando; Gastão, Rodrigues, Oliveira, João Gomes e Uria. SCO: Abade; Alfredo, Rui e Bento; Madeira e Reina; Vinício, Ângelo, Campos, Cava e Nuno.
Época 1961/62, no Campeonato Nacional da I Divisão, logo na 1.ª Jornada, em Olhão, com o SCC, as equipas alinharam: SCO: Filhó (ex-Farense); Alfredo, Luciano e José Maria (ex-Farense); Madeira e Reina; Matias, Gralho, Campos, Mateus (ex-Caldas) e Armando (ex-Marinhense). SCC: Rita; Lourenço, Carlos Alberto (ex-Leixões) e Couceiro; Patiño e Lãzinha; Manteigueiro, Chacho, Adventino (ex- Lusitano), Adriano (ex-Boavista) e Palmeiro Antunes (ex-CUF).
Na 2.ª Jornada, em Coimbra, com a Académica (ACA), as equipas: ACA: Maló; Curado, Torres e Araújo; Moreira e Abreu; Rocha, Gaio, Chipenda, Miranda e Armando. SCO: Filhó; Alfredo, Luciano e Nunes; Reina e Rui; Matias, Madeira, Campos, Mateus e Armando.
Na 3.ª Jornada, em Olhão, com o Benfica (SLB): SCO: Filhó; Alfredo; Luciano e Nunes; Reina e Rui; Matias, Campos, Madeira, Mateus e Armando. SLB: Costa Pereira; Ângelo, Serra e Cruz; Neto e Cavém; José Augusto, Santana, Eusébio, Águas e Coluna.
Na 4.ª Jornada, em Évora, com o Lusitano de Évora: LEV: Vital; Piscas, Falé e Paixão; Sousa e Vicente; Adelino, Tonho, Walter, Miguel e José Pedro. SCO: Filhó; Alfredo, Luciano e Nunes; Reina e Rui; Matias, Campos, Madeira, Mateus e Armando.
Como se pode tornar algo fastidioso, para além do espaço que o não permite, tão só referir, para memória de muitos, as equipas adversárias do SCO. Assim, na 5ª Jornada, em Olhão, com o F. C. Porto, que alinhou: Américo; Virgílio, Festas e Mesquita; Ivan e Paula; Carlos Duarte, Ponto, Azumir, Hernani e Serafim.
Na 6.ª Jornada, com o Atlético, este alinhou: Pinho; Ferreira e Saturnino; Trenque, Luz e Inácio; Moreira, Carlos Alberto. Gomes, Peres e Palmeiro.
A 7ª Jornada foi com a CUF, e a 8ª Jornada com o Vitória de Guimarães, onde militavam os jogadores que formaram a seguinte equipa: Ramin; Freitas, Silveira e Daniel: Caiçara e Virgílio; Augusto Silva, Pedras, Amaro, Romeu e Nunes.
Na 9ª. Jornada coube a vez do Beira Mar, então com esta equipa: Bastos; Valente, Liberal e Moreira; Amândio e Evaristo; Miguel, Marçal, Garcia, Paulino e Azevedo.
À 10ª Jornada coube a vez do Sporting que se apresentou com a seguinte formação: Carvalho; Lino, Morato e Hilário; Pérides e Mendes; Hugo, Figueiredo, Diego, Geo e Morais.
Na 11ª. Jornada apresentou-se o Leixões com a seguinte equipa: Roldão; Rocha, Santana e Pacheco; Jacinto e Ventura; Chico, Osvaldo Silva, Oliveira, Ernesto e Gomes.
Na 12ª Jornada surgiria o Salgueiros; e na 13ª o Belenenses, que alinhou com José Pereira; Narciso, Pires e Rosendo; Vicente e Cordeiro, Iaúca, Matateu, Estêvão, Salvador e Peres.
Enfim, surgiria a última jornada da 1ª. volta (14ª) com o Sporting da Covilhã, na cidade serrana, numa altura efervescente para os Leões da Serra face a um castigo imposto pela FPF a cinco jogadores do SCC (Rita, Couceiro, Lanzinha, Chacho e Palmeiro Antunes), que, após reclamação ilibaram do mesmo o Lanzinha, no jogo com o Leixões, em Matosinhos, em janeiro de 1962, com o árbitro aveirense (interessado na manutenção do Beira Mar na I Divisão…), José Porfírio, de má memória. Assim, a equipa apresentou-se na Covilhã sem aqueles importantes jogadores para o clube, da seguinte forma: Alves Pereira; Patiño, Cavém e Lourenço; Lãzinha e Carlos Alberto; Manteigueiro, Adriano, Adventino, Chacho e Amilcar. E o Olhanense apresentou a seguinte formação: António Paulo; Rui, Luciano e Nunes; Madeira e Reina; Matias, Campos, Cardoso, Mateus e Armando. O encontro foi arbitrado pelo Dr. Décio de Freitas, de Lisboa.
Como eu, muitos de nós nos recordamos desses valorosos jogadores que passaram pelos vários campos do país, muitos deles de saudosa memória.
Votos de um Feliz Natal para todos quantos são obreiros do “nosso” quinzenário “O Olhanense”, para os leitores e também para a histórica coletividade olhanense, que um dia espero ainda ver de novo, entre os maiores do futebol português, emparceirando com o clube serrano. E que o Ano Novo traga as maiores venturas para todos.


(In "O Olhanense", de 15-12-2019)

11 de dezembro de 2019

CELEBRAR O NATAL AO RITMO DOS TEMPOS


No País, o seu sentido é generalizado. Mas poderá ser diferente noutros locais planetários. Embora pareça uma instituição imutável, o Natal foi sempre refletindo as diferentes épocas.
Este ano, antes da época natalícia, tivemos o anúncio da pretensão dos nossos governantes de passarmos a bater o record do (in)sucesso escolar, passando uma esponja pelos chumbos até ao 9.º ano. Uma “prenda de Natal”. De harmonia com uma avaliação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), cerca de 20% dos alunos com 15 anos não adquirem competências mínimas. Ao fim de dez anos de escolaridade, cerca de um quinto dos alunos portugueses continua a não as ter para resolver situações do dia-a-dia. Estes resultados foram mostrados pelo PISA. Paradoxalmente, Portugal é o único país da OCDE a “registar melhorias significativas no desempenho dos seus alunos a leitura, matemática e ciências ao longo da sua participação no PISA”, mostrando ligeiras quedas em áreas importantes como as ciências ou a literacia do português. Certo é que em 2018, cerca de 22% dos alunos com 15 anos consideravam que ler “é uma perda de tempo”.
Temos a 25ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, em Madrid, a arrancar sobre o signo da emergência, sendo que “É preciso fazer mais e mais depressa”, segundo disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. Será que vai ser um sucesso, após o choque Trump-Macron?
Outra Cimeira – da Nato –, em Londres, para celebrar os seus 70 anos, acabou por não fugir à turbulência que atingiu as relações transatlânticas desde a eleição de Trump, com Macron a declarar a “morte cerebral” da Aliança, e com os seus aliados europeus a não querem ouvir falar de tal coisa. Certo é que a NATO foi a mais forte e duradoura das alianças da história. Acabou sem história. Os aliados passaram por cima das divergências, e assinalaram estas sete décadas do evento com uma declaração de unidade e cooperação. Faz-se um interregno para novo embate em 2021, enquanto Macron passa a ver-se confrontado com uma greve geral na perspetiva de paralisar a França, neste dezembro explosivo.
 “Eu vim de longe, de muito longe, o que eu andei p’ra’qui chegar” –, da canção de José Mário Branco. Poder-se-ia aplicar à chegada a Lisboa da Greta Thunberg, de 16 anos, que passou 21 dias numa viagem atribulada, seguindo depois para a COP25, em Madrid, para pedir mais ação aos líderes mundiais contra a crise climática. Após 10 horas de comboio, chegaria na manhã do dia 6 de dezembro a Madrid, indo participar durante a tarde na Marcha pelo Clima. Não basta uma associação de moradores de Toledo oferecer à jovem ativista sueca um burro para viajar de Lisboa até Madrid, afirmando estar “conscientes da importância de sensibilizar o mundo sobre a situação ambiental”, sabendo-se que nunca emitimos tanto dióxido de carbono desde que há registo fidedignos, ou seja, no ano 1880. É preciso passar das palavras de boas intenções da Cimeira, aos atos. Greta Thunberg diz que lhe roubaram a infância e os seus sonhos, mas esqueceu-se que vive num dos países mais ricos do mundo, com devido acesso a educação, saúde e proteção social, em contraste com outras crianças de países africanos e de outras paragens, devastados pela fome e pelas guerras. Um fenómeno anterior mais semelhante a este é o da paquistanesa Malala Yousafzai, na causa da educação das meninas.
Aludindo ao título desta crónica, fica o memorizar de algumas décadas atrás. Anos 40, com o mundo em guerra. Não eram tempos alegres, os de Natal. O ambiente em Portugal não podia ser de grande animação, mesmo sem o país estar diretamente envolvido no conflito. Eram tempos de escassez, era preciso poupar, e qualquer sinal de ostentação no Natal só podia ser visto como de mau gosto. A década não permitia grandes euforias e o Natal era sobretudo ocasião, à boa maneira do Estado Novo, de mostrar caridade para com “os pobrezinhos”. As notícias da guerra enchiam os jornais. E a revista Eva do Natal fazia o seu sorteio anual de vários prémios de valor, iniciativa que a transformou numa verdadeira instituição nacional. Na noite de Natal de 1943, não houve ataques à Alemanha nem ataques alemães aos aliados. Em 1945, os portugueses – e o mundo – festejam finalmente o primeiro Natal sem guerra. Um acontecimento, surgido pela primeira vez em 1944, começava já a revelar-se como grande instituição que viria a ser. A iniciativa era do Diário de Notícias, o “Natal dos Hospitais”, realizado naquele ano no D. Estefânia, em Lisboa. Anos 50, o mundo está mais otimista. O Natal era a altura em que os perus desciam à cidade – e isto aconteceu até aos anos 70. A situação económica melhora. Aparecem nos jornais anúncios a voos das grandes companhias internacionais para a Suíça e Alemanha, ou até América do Sul e Próximo Oriente. Faz-se publicidade às máquinas fotográficas Kodak, a aspiradores, rádios, eletrodomésticos. O jornal Mundo Desportivo promove um concurso que tem como primeiro prémio uma Lambretta. E o regime decide eleger a “rapariga modelo”. Os bodos aos pobres continuam, as meninas nas escolas competem fazer o berço mais bonito para oferecer a uma família pobre que esteja à espera de mais um filho. E as grandes empresas – General Motors, Kodak, Shell, Sacor, Mobil Oil – oferecem festas de Natal aos filhos dos seus funcionários, todas elas com direito a notícia (e em muitos casos fotografia) nos jornais diários. Nas principais cidades do país, o Automóvel Clube de Portugal promove o Natal do Sinaleiro, em que os automobilistas deixam prendas junto dos polícias sinaleiros.
Sinal do novo clima de desanuviamento na Europa, os jornais referem a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, um passo para a União Europeia. Nos anos 60, o mundo acelerou. O nível de vida dos portugueses foi subindo gradualmente, mas muitas famílias ainda podiam ser descritas como “remediadas”. O dinheiro “ia dando”, mas para um dia “um bocadinho melhor” era preciso fazer algumas economias. Não é por acaso que em 1960 surge o Cabaz do Natal, uma iniciativa do Clube das Donas de Casa, que se torna um enorme sucesso. O mundo começa a mudar e um dos fatores dessa mudança era a televisão, que chegou a Portugal em 1957. O Natal dos Hospitais já conta com a colaboração da Radiotelevisão e da Philips portuguesa. Portugal parece mais aberto a esse mundo que lhe chega agora pela televisão. Os bancos começam a fazer publicidade nos jornais e aconselham a que se pague as compras de Natal em cheques. O mundo parece girar mais depressa. E, no entanto, Portugal continua a ser um país pobre e de emigrantes, que no Natal regressam para estar com as famílias. O ano de 1965 ficou marcado por uma enorme tragédia: perto de três dezenas de mortos e mais de uma centena de feridos no descarrilamento do Sud-Express.
 Em 1969, o homem vai à Lua. Anos 70, o (nosso) mundo mudou. Se abrirmos os jornais de dezembro de 1974, não temos dúvidas de que alguma coisa mudou em Portugal. Há circo, como em todos os natais, mas desta vez é o Circo do Povo, em frente à Fonte Luminosa, em Lisboa, e oferecido pelas Forças Armadas. Também o Circo Mariano faz publicar um comunicado em que agradece “a todas as entidades civis e militares e ao público em geral”                                                                                           a simpatia com que foi recebido na capital. E o Casino do Estoril para a noite de réveillon “Lili Ivanova, grande vedeta da canção da Bulgária”. Começam a surgir notícias sobre mais empresas que decidem pagar o subsídio de Natal.
Mas os anos 80, mais despreocupados e otimistas, vinham a caminho, e o Natal seria diferente – outra vez.
Sobre a consoada, Maria de Lourdes Modesto, uma das maiores divulgadoras da cozinha tradicional portuguesa, diz que, antigamente havia tantas mesas de Natal quantas as zonas do país. No Alentejo comia-se carne de porco ou até cação de coentrada. No Norte o bacalhau. Depois com o tempo e por força da influência da televisão, a ceia de Natal    dos portugueses foi ficando cada vez mais parecida. Naquele tempo dos anos 30, não havia Pai Natal, havia Menino Jesus.  O presépio era a coisa mais importante do Natal e os presentes, em qualquer classe social, não tinham nada a ver com o que existe agora. 
Segundo dizia Ramalho Ortigão, o verdadeiro Natal tradicionalista era o do Norte, o Natal minhoto. Aí o bacalhau é rei, aparecendo cozido ou em bolinhos. E também o polvo guisado.
Hoje, por todo o Portugal começou a comer-se bacalhau cozido com batatas, e couves, regado com azeite e vinagre, para além das rabanadas (em muitos locais chamadas “fatias douradas”) e as filhós.  No dia 25 é dia de peru, e os doces: farófias, lampreia de ovos, sonhos, sem esquecer o bolo-rei que chegou a Lisboa em 1869, através da Confeitaria Nacional. O bolo terá sido momentaneamente vítima da política, quando, depois do fim da Monarquia e com a instauração da República, alguns defenderam que ele teria de acabar. No entanto, os industriais de confeitaria deram-lhes a volta, continuando a fabricar o bolo-rei mas com outra designação, havendo quem lhe chamasse “ex-bolo-rei” ou “bolo de Natal” e “bolo de Ano Novo”. No entanto o bolo sobreviveu a esta crise e recuperou o seu nome. O bolo-rei espalhou-se pelo país, tal como o bacalhau. E o Natal dos portugueses é, à mesa, cada vez mais parecido.
Termino esta crónica do ano 2019 na reafirmação dos votos de parabéns e de longa vida ao Jornal fórum Covilhã, pelo seu 8º aniversário. Um órgão da comunicação social há muito reconhecido pela sua seriedade, isenção e comprometido com os valores e desenvolvimento da região beirã.
Boas Festas, com votos de um excelente Natal e um Feliz Ano Novo.

(In "Jornal fórum Covilhã", de 11-12-2019)