Como a Covilhã viu a chegada da República ao País
Todos nós, face ao longevo das
datas, temos conhecimento dos acontecimentos por via da história, a nossa
história, dos nossos avós, num contexto de fazermos parte da integração da
própria História de Portugal.
Numa quinta-feira do dia 20 de
outubro de mil oitocentos e setenta, D. Luís I, monarca português, reconhecia a
Covilhã com a sua elevação à condição de Cidade, por ser “uma das villas mais
importante do reino pela sua população e riqueza”.
Falar de figuras proeminentes
da história covilhanense, da sua génese e da sua indústria e laboriosa luta das
gentes covilhanenses, dos grandes empreendimentos e dos imensos anseios, da
cidade universitária de hoje, já muito foi dito ao longo de muitos momentos nestes
tempos que vão passando, e se encontram nos seus anais.
Tal como no centenário da
elevação da Covilhã a Cidade, acontecido a uma terça-feira também o mesmo
surgirá no mesmo dia de semana, nos seus 150 anos.
Mas porque muito pouco se ouve
falar da Implantação da República, ocorrida há 110 anos, trago à curiosidade de
quem gosta das efemérides, as reações que surgiram na Cidade da Covilhã por
força dos acontecimentos surgidos, alongando-me na retrospetiva do assassinato
de D. Carlos I, cujo Regicídio ocorreu naquele sábado do primeiro dia de
fevereiro de 1908.
Na reunião da Comissão
Administrativa Municipal, realizada em 12/02/1908, presidida pelo Dr. João das
Neves, e com a presença dos vogais, Dr. Alfredo Leal dos Santos Gascão,
Guilhermino de Melo e Castro, José da Fonseca Teixeira e António Bernardo da
Fonseca e Cunha, além do Administrador do Concelho, José Maria de Campos Mello,
o vogal, Guilhermino de Mello e Castro propôs que se celebrassem solenes
exéquias em sufrágio das almas de Sua Majestade o Senhor D. Carlos I, e de Sua
Alteza o Príncipe Real, D. Luís Filippe.
Por proposta do vogal, Sr.
Teixeira, deliberou a Comissão adquirir um retrato de Sua Majestade El-Rei D.
Manuel II, para a sala das sessões. Foram recebidos telegramas de Suas
Majestades El-Rei e das Rainhas D. Amélia e D. Maria Pia, agradecendo as
condolências da Comissão.
“Aos seis dias do mês de Maio
de mil novecentos e oito, pelas duas horas da tarde, nos Paços do Concelho e de
regresso de solene Tedeum celebrado na Igreja de Santa Maria Maior desta
cidade, a que todos os abaixo assinados assistiram em acção de graças pela
aclamação de Sua Majestade El-Rei D. Manuel II, tendo feito a guarda de honra o
Regimento de Infantaria 21, constituiu-se em sessão extraordinária e solene a
Câmara Municipal da Covilhã, sob a presidência do Exmº. Senhor Dr. Luís Neves
Alves Batista (…)”.
Sobre a Implantação da
República em 5 de outubro de 1910:
11 de outubro de 1910 – “Nos Paços
do Concelho, pelas duas horas da tarde, onde se reuniu muito povo e
oficialidade do Infantaria 21, compareceu o cidadão Senhor António Firmo, que,
assumindo a presidência da Assembleia leu um alvará do Exmº Governador Civil do
distrito de 10 do corrente que nomeia a seguinte COMISSÃO para administrar os
negócios deste município, em substituição da antiga CÂMARA MUNICIPAL.
Presidente – António Firmo. Vogais efectivos – Júlio Henriques Nunes da Cruz,
José Maria Rodrigues Garcia, João Alves da Silva, João da Silva Matos, Carmeno
Supardo Bárbara, José Ferreira Bicho, Manuel d’Almeida Ribeiro, Luís Rodrigues
Marques. Vogais substitutos – José Miraldes Tavares Cardona, Carlos Palhina,
Manuel Olegário das Neves, João Paulo Rato, José Ferreira de Campos Dourado,
José Ferreira Mendes de Castro, João António Moreira Leitão, José d’Almeida
Teixeira, Manuel Lino Roseta (…)”.
Entretanto, já na reunião do
dia anterior, o Presidente em exercício, José da Fonseca Teixeira disse “que
tendo sido proclamada a República Portuguesa no dia 5 do corrente, na Capital,
e sabendo por comunicação de seus colegas o desejo que tinham de aderir a este
regime, justamente também nesta cidade, a República, convocara para esse fim
uma sessão extraordinária, levando ao conhecimento do Exmº. Comandante Militar,
no dia 8 do corrente, o desejo desta Corporação.
A Câmara, aprovando a
resolução do Senhor Presidente, deliberou por unanimidade, interpretando o
sentir de todos os munícipes do concelho, proclamar desde já, com toda a
solenidade, a República Portuguesa; e com manifestação de regozijo ainda pelo
advento de um regime de que tanto necessitava o país, a fim de resolver todos
os problemas económicos e progresso para o seu desenvolvimento e bem-estar –
levantar a sessão – dar feriado a todos os seus empregados e enviar ao Exmº.
Presidente do Governo Provisório da República o seguinte telegrama: A Câmara
Municipal da Covilhã, reunida em sessão extraordinária, interpretando o sentir
unânime dos munícipes de todo o concelho, aderiu à proclamação da República
Portuguesa, saúda e felicita o Governo Provisório e faz votos pela prosperidade
da sua querida Pátria.
Pelo Senhor Vereador Dr.
Alfredo Gascão, foi proposto e aprovado pela Câmara, retirar da sala das
sessões o retrato do rei deposto, ficando em seu lugar o estandarte do
município para ser substituído oportunamente pelo busto simbólico da República.
Em seguida, foi também deliberado iluminar hoje o edifício dos Paços do
Concelho, e que desta acta se envie cópia ao Exmº. Comandante Militar”.
José da Fonseca Teixeira foi
sócio fundador dos Bombeiros Voluntários da Covilhã e nomeado Comandante da
Corporação em 14/12/1886 e também Presidente da Direção. Foi ainda o primeiro
Diretor da Escola Industrial Campos Melo e seu professor.
Nas Comemorações dos 150 anos da elevação da
Covilhã a Cidade, votos do maior progresso em prol dos Covilhanenses de raiz e
de coração. Parabéns à Covilhã!
(In "Notícias da Covilhã", de 15-10-2020)