No dia em que os prezados leitores lerem este texto, já passou a Páscoa,
mas ele foi ainda escrito à beira da mesma, com o país a recear uma subida do
índice de transmissibilidade (Rt). Na reunião do Infarmed foram deixados vários
alertas. Entre eles, o do último relatório do estado de emergência que chama a
atenção para os ajuntamentos. Que persistem na teimosia das pessoas
irresponsáveis. Assim como o não uso da máscara. Num tal descaramento. Que
também persiste. Como se as pessoas vivessem exclusivamente num mundo rural de
iletrados.
Depois de um inverno duro, chuvoso, rigoroso, fechado, os portugueses
sonharam com a primavera. Ela aí está. Mas o sonho dos portugueses, isto é, de
todos nós, é de uma primavera que traga boas notícias, desconfinamento e alguma
estabilidade. Precisamos, sim, duma primavera que seja um tempo de confiança e
esperança, de reenergizar e renascer para aquela força de vários horizontes que
se foi dissipando com a maldita doença infeciosa.
Começa-se agora a indagar a génese do vírus que deu lugar a esta
pandemia, tendo-se iniciado, para esse efeito, a conferência da Organização
Mundial da Saúde (OMS). E já se diz que Wuhan e o mercado chinês não podem ser
vistos como sua origem.
Com Portugal a baixar o número de mortos e internados, a vacina da
AstraZeneca que tantos receios têm causado nas pessoas, mudou o nome para
Vaxzevria, vá-se lá saber porquê.
Estes últimos dias foram preenchidos de momentos simbólicos marcando o
regresso de dois grandes blocos mundiais: EUA e UE por um lado, China e Rússia
por outro. Foi assim uma demonstração de unidade, com Pequim e Moscovo a
acusarem os países ocidentais de interferirem nos seus assuntos internos,
depois do anúncio de sanções por graves violações de direitos humanos, e
defenderam a realização de uma cimeira do Conselho de Segurança das Nações
Unidas para debater a “turbulência política crescente” no mundo.
E, se de vacinas nos reportamos acima, ficou também à vista a fragilidade
da UE para dar resposta conjunta aos desafios impostos pela covid-19. Segundo o
Público, “além da dependência em matéria de vacinas, continua a viver a
pandemia a várias velocidades: uns países fecham portas enquanto outros, como
Portugal, desconfinam. Com tanta indefinição, o regresso do turismo no verão pode
ser ‘um passo maior do que a perna’”.
Este país à beira-mar plantado tem sido um “eldorado” para alguns. Senão
vejamos: ainda fulguram, estiveram na ribalta dois grandes negócios nacionais.
Eles provieram em momentos diferentes, com governos diferentes, mas com um
denominador comum – o Estado saiu a perder. O primeiro reporta-se à venda de
seis barragens da EDP, “que afinal não foi uma venda em sentido jurídico
estrito, e assim quem comprou sem comprar acabou por poupar a módica quantia de
110 milhões de euros em imposto de selo” Tudo “devido a uma alteração ao
Estatuto dos Benefícios Fiscais no Orçamento de 2020”, que o Governo nega ter feito
para beneficiar a luso-chinesa EDP. O outro negócio deste “eldorado” refere-se
à compra da Groundforce por Alfredo Casimiro. Foi resumido pelo ministro Pedro
Nuno dos Santos no Parlamento de que Casimiro “não comprou empresa nenhuma,
recebeu dinheiro para a ter”. Contou ainda que o maior acionista da empresa de
assistência em terra recebeu 7,6 milhões entre 2012 e 2018, e que só depois
disso é que pagou 3,7 milhões pela maioria do capital que adquiriu em 2012.
Palavras para quê?... Trata-se de uns “artistas” portugueses e usam a tal
pasta medicinal…
Reverso da medalha: Enquanto isto, do lado de baixo da escala social,
cresce a pobreza. Conforme conta Cristina Pereira, in Público, “Portugal
voltou a ter cem mil famílias abrangidas pelo Rendimento Social de Inserção,
algo que não se verificava há dois anos. Só um mês de confinamento empurrou
quase três mil famílias para esta medida, destinada a quem vive na pobreza
extrema”.
Será que depois da Páscoa podemos esperar por um desabrochar da vida, num
desconfinamento pleno? É indubitável que tudo depende da conduta de cada um.
Aproveito a oportunidade para desejar ao Jornal fórum Covilhã as
maiores felicidades na senda dum jornalismo de isenção, como é seu apanágio,
num aceno de parabéns pelo seu décimo aniversário, ao serviço do Concelho da
Covilhã, da Região Beirã e do País.
(In "Jornal fórum Covilhã", de 14-04-2021)