4 de outubro de 2021

NAQUELAS MONTANHAS DA ESTRELA

 

Uma interessante quão importante descrição da Serra da Estrela na revista Olhares, nº 24, de 2019, leva-nos a transcrever parte deste texto para conhecimento dos prezados Leitores:

“Um cristal de gelo é o símbolo escolhido pelo Parque Natural da Serra da Estrela, tão só porque nos remete para a sua origem glaciar. As suas 25 lagoas ilustram bem essa história que começou a ser contada há centenas de milhões de anos. Ainda não tínhamos nascido, mas o granito que cobre a serra já lá estava.

É preciso entrar no maior vale glaciar da Europa para avistar o único local português onde ainda vive a lagartixa da montanha. Segundo o mosaico que recheia o Parque Natural da Serra da Estrela, hoje classificado de Geoparque Mundial, tem esta caraterística de mosaico diversificado. Para além da neve de inverno, há muitas outras paisagens ali plantadas e para conhecer durante o ano. São assim 325 outras razões para seguir as rotas do turismo da natureza.

A história começou a ser contada há milhões de anos com a formação de uma cadeia montanhosa, hoje transformada na maior área protegida em solo português. A heterogeneidade mora ali, a par com inúmeros ecossistemas ainda naturais. Mas, falar da Serra da Estrela, remete o nosso imaginário para a neve, frio e grande altitude, nem sempre nem nunca, porque o património que aquele Parque Natural acolhe é muito mais vasto.

Como percorrer todo este território é uma escolha individual, a pé, de carro, de mota, a cavalo, de burro ou de bicicleta. Mas, não podemos deixar de sugerir que vá, seja pelos trilhos, seja pela estrada.

Foi por um acidente orográfico que ‘nasceu’ e é esse mesmo acaso que lhe deu toda a multiplicidade de caraterísticas onde se incluem vales percorridos por linhas de água, encostas, planaltos de menor e maior altitude e muitos picos, sendo a Torre o local mais conhecido. Mas, antes de se chegar ao ponto mais alto de Portugal continental (o Pico, na ilha do Pico, é o mais alto), é possível apreciar os vários habitats que sobreviveram e onde ainda se encontram diversas espécies, mas também inúmeras nascentes e cascatas. O Poço do Inferno é apenas um exemplo de uma cascata de visita obrigatória pela queda de água a 10 metros de altura.

Naquelas montanhas da Estrela nascem os rios Mondego, Zêzere e Alva, que ajudam a proporcionar vários habitats típicos de água doce, mas também algumas praias fluviais, porque nem só de neve vive a Estrela. A praia do Vale do Rossim e a Loriga são duas praias fluviais afamadas onde só mergulha gente sem temor ao frio.

A paisagem é alpina, misturada com vestígios de depressões de origem glaciar, que agora acolhem vales, como o Covão d’Ametade. É este mesmo vale glaciar, o maior de toda a Europa, que hoje acolhe o rio Zêzere, povoado nas margens por cabras e ovelhas.

De entre as 25 lagoas naturais, a Lagoa Comprida será a mais famosa e a que atrai mais olhares. Encontra-se no maciço superior da Serra da Estrela e é essa localização que acaba por causar alguma surpresa, ninguém está à espera de encontrar ali, bem no cimo, um lago tão grande, lado a lado com blocos gigantes de granito.

As caminhadas acabam por proporcionar visões impossíveis de detetar ao volante de um automóvel e por isso mesmo a Estrela recomenda os trilhos, como a Rota das Faias, a Rota Glaciar ou a rota das 25 lagoas, entre outras.

Mas, a história da Estrela nem sempre está escrita na pedra. Há outras histórias e vivências para conhecer e essas só se encontram nas aldeias que ainda povoam as encostas. A aldeia do Sabugueiro é a mais conhecida e também a mais alta. Os concelhos de Seia, Covilhã, Manteigas, Oliveira do Hospital e Fundão criaram a Rede de Aldeias de Montanha. Ao longo de 100 quilómetros há muito para descobrir, conhecer e provar.”

O Município de Seia comemora 140 anos da Expedição Científica à Serra da Estrela, conjuntamente com a Sociedade de Geografia de Lisboa, nos meses de setembro e outubro, evocando assim aquela Expedição Científica que se realizou em agosto de 1881. A iniciativa lembra “o pioneirismo e o arrojo de mais de uma centena de homens, que há 140 anos se aventuraram por um território até então pouco conhecido. Um momento ímpar da História da Ciência em Portugal, que permitiu revelar alguns dos segredos da mais alta montanha do território continental, dando a conhecer a Serra nas suas dimensões geográficas, climatérica, orográficas, antropológicas, etnográficas, arqueológicas e médicas”, segundo informação do Jornal terras da beira, de 17-08-2021.


(In "O Olhanense", de 01-10-2021)

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