Uma interessante quão importante descrição da Serra da Estrela na revista
Olhares, nº 24, de 2019, leva-nos a transcrever parte deste texto para
conhecimento dos prezados Leitores:
“Um cristal de gelo é o símbolo escolhido pelo Parque Natural da Serra da
Estrela, tão só porque nos remete para a sua origem glaciar. As suas 25 lagoas
ilustram bem essa história que começou a ser contada há centenas de milhões de
anos. Ainda não tínhamos nascido, mas o granito que cobre a serra já lá estava.
É preciso entrar no maior vale glaciar da Europa para avistar o único
local português onde ainda vive a lagartixa da montanha. Segundo o mosaico que
recheia o Parque Natural da Serra da Estrela, hoje classificado de Geoparque
Mundial, tem esta caraterística de mosaico diversificado. Para além da neve de
inverno, há muitas outras paisagens ali plantadas e para conhecer durante o
ano. São assim 325 outras razões para seguir as rotas do turismo da natureza.
A história começou a ser contada há milhões de anos com a formação de uma
cadeia montanhosa, hoje transformada na maior área protegida em solo português.
A heterogeneidade mora ali, a par com inúmeros ecossistemas ainda naturais.
Mas, falar da Serra da Estrela, remete o nosso imaginário para a neve, frio e
grande altitude, nem sempre nem nunca, porque o património que aquele Parque
Natural acolhe é muito mais vasto.
Como percorrer todo este território é uma escolha individual, a pé, de
carro, de mota, a cavalo, de burro ou de bicicleta. Mas, não podemos deixar de
sugerir que vá, seja pelos trilhos, seja pela estrada.
Foi por um acidente orográfico que ‘nasceu’ e é esse mesmo acaso que lhe
deu toda a multiplicidade de caraterísticas onde se incluem vales percorridos
por linhas de água, encostas, planaltos de menor e maior altitude e muitos
picos, sendo a Torre o local mais conhecido. Mas, antes de se chegar ao ponto
mais alto de Portugal continental (o Pico, na ilha do Pico, é o mais alto), é
possível apreciar os vários habitats que sobreviveram e onde ainda se encontram
diversas espécies, mas também inúmeras nascentes e cascatas. O Poço do Inferno
é apenas um exemplo de uma cascata de visita obrigatória pela queda de água a
10 metros de altura.
Naquelas montanhas da Estrela nascem os rios Mondego, Zêzere e Alva, que
ajudam a proporcionar vários habitats típicos de água doce, mas também algumas
praias fluviais, porque nem só de neve vive a Estrela. A praia do Vale do
Rossim e a Loriga são duas praias fluviais afamadas onde só mergulha gente sem
temor ao frio.
A paisagem é alpina, misturada com vestígios de depressões de origem
glaciar, que agora acolhem vales, como o Covão d’Ametade. É este mesmo vale
glaciar, o maior de toda a Europa, que hoje acolhe o rio Zêzere, povoado nas
margens por cabras e ovelhas.
De entre as 25 lagoas naturais, a Lagoa Comprida será a mais famosa e a
que atrai mais olhares. Encontra-se no maciço superior da Serra da Estrela e é
essa localização que acaba por causar alguma surpresa, ninguém está à espera de
encontrar ali, bem no cimo, um lago tão grande, lado a lado com blocos gigantes
de granito.
As caminhadas acabam por proporcionar visões impossíveis de detetar ao
volante de um automóvel e por isso mesmo a Estrela recomenda os trilhos, como a
Rota das Faias, a Rota Glaciar ou a rota das 25 lagoas, entre outras.
Mas, a história da Estrela nem sempre está escrita na pedra. Há outras
histórias e vivências para conhecer e essas só se encontram nas aldeias que
ainda povoam as encostas. A aldeia do Sabugueiro é a mais conhecida e também a
mais alta. Os concelhos de Seia, Covilhã, Manteigas, Oliveira do Hospital e
Fundão criaram a Rede de Aldeias de Montanha. Ao longo de 100 quilómetros há
muito para descobrir, conhecer e provar.”
O Município de Seia comemora 140 anos da Expedição Científica à Serra da
Estrela, conjuntamente com a Sociedade de Geografia de Lisboa, nos meses de
setembro e outubro, evocando assim aquela Expedição Científica que se realizou
em agosto de 1881. A iniciativa lembra “o pioneirismo e o arrojo de mais de uma
centena de homens, que há 140 anos se aventuraram por um território até então
pouco conhecido. Um momento ímpar da História da Ciência em Portugal, que
permitiu revelar alguns dos segredos da mais alta montanha do território
continental, dando a conhecer a Serra nas suas dimensões geográficas,
climatérica, orográficas, antropológicas, etnográficas, arqueológicas e
médicas”, segundo informação do Jornal terras da beira, de 17-08-2021.
(In "O Olhanense", de 01-10-2021)
Sem comentários:
Enviar um comentário