18 de agosto de 2022

"COIMBRA É UMA LIÇÃO"


 

“As novas gerações não fazem a mínima ideia de que temos uma canção no nosso património que já foi um êxito espetacular em todo o mundo com mais de 1000 versões interpretadas por grandes nomes da música internacional, ou ainda por orquestras famosas.

É uma composição de Raul Ferrão, com letra de José Galhardo, e o título é ‘Coimbra’. O seu primeiro intérprete foi Alberto Ribeiro numa serenata a Amália Rodrigues, uma cena do filme ‘Capas Negras’, de 1947. Nunca se imaginou que viria a ser um superêxito mundial, mas quase sempre com o título ‘Abril em Portugal’”. Esta é uma narrativa de Carlos Cruz da sua rubrica no Tal & Qual, que ainda se reporta a um documentário transmitido pela RTP 2 sob a designação “Coimbra, a História de uma Canção”.

Não é preciso trazer à discussão a “Coimbra dos Doutores”, na letra desta canção, para fazer notar o muito que anda por aí de pontapés na gramática e irreflexões no contexto da linguagem escrita e falada, por gentes das televisões, e dos jornais, para já não falarmos nos apanhados das redes sociais.

Alguns casos que me chegaram às mãos, há mais de um ano, são bem evidentes de quanto a língua de Camões muitas vezes é ultrajada, algumas no lapso da expressão oral duma conversação, outras na precipitação de não encontrar ligação rápida adequada, mas outras são por exibição da sua oratória que acabou por cair no ridículo.

Algumas frases quase que ganharam imortalidade. Se não, vejamos:

- Estar vivo é o contrário de estar morto. – Lili Caneças

- Nós somos humanos como as pessoas. – Nuno Gomes – SL Benfica

- Quem corre agora é o Fonseca, mas está parado. – Jorge Perestrelo

- Inácio fechou os olhos e olhou para o céu! – Nuno Luz (SIC)

- Juskowiak tem a vantagem de ter duas pernas!  Chutou com o pé que tinha mais à mão –

Gabriel Alves.

- É trágico! Está a arder uma vasta área de pinhal de eucaliptos. – Jornalista da RTP

- Um morreu e o outro está morto. – Manuela Moura Guedes

- Antes de apertar o pescoço da mulher até à morte, o velho reformado suicidou-se. – João Cunha, testemunha de crime.

- Quatro hectares de trigo foram queimados. Em princípio trata-se de incêndio. – Lídia Moreno (Rádio Voz de Arganil)

- À chegada da polícia, o cadáver encontrava-se rigorosamente imóvel. – Ribeiro de Jesus, PSP de Faro

- O acidente provocou forte comoção em toda a região, onde o veículo era bem conhecido. – António Bravo (SIC)

- Ele contraiu a doença em vida. – Dr. Joaquim Infante, Hospital de Santa Maria

- Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas origens. – António Tadeia, Crónicas do Correio da Manhã

- Os sete artistas compõem um trio de talento. – Manuela Moura Guedes (TVI)

- Esta nova terapia traz esperanças a todos aqueles que morrem de cancro em cada ano. – Dr. Alves Macedo, oncologista

- O difícil, como vocês sabem, não é fácil. – Jardel

- Em Portugal é que é bom. Lá, a gente recebe semanalmente de 15 em 15 dias. – Argel, jogador do Benfica

- Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu. – Djair, jogador do Belenenses ao chegar a Belém (zona do Restelo – Mosteiros dos Jerónimos) no dia que assinou contrato com este clube

- Finalmente, a água corrente foi instalada no cemitério, para satisfação dos habitantes. – Presidente da Junta de Freguesia do Fundão

E ficamos por aqui. Passemos dos momentos de tristezas, que não pagam dívidas, para alguns de hilaridade.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “ Notícias da Covilhã” digital, de 18-08-2022)

10 de agosto de 2022

O TEMPO QUE PASSA

 

Terminaram as minhas férias veraneias. De Andaluzia à Serra da Estrela vão consideráveis diferenças. Se dum lado há os encantos do mar, das colinas e dos rios, na vertente de cá existem os cambiantes da montanha, com tudo o que à mesma se liga, da flora à fauna, das maravilhas paisagísticas e de respeitabilidade até aos seus ares saudáveis.

No avanço da minha idade já estou naquela de me enfadar por longas viagens. Mormente quando o “bicho” se faz por convidado. Entrei um pouco mais naquela opção da proximidade de estar no local mais cómodo.

Regressado, vou dar uma volta pelas inúmeras recolhas de informação que avolumei no meu escritório, com a minha secretária num aconchegado ninho de folhas de apontamentos, recortes de jornais, impressões, diversos apontamentos redigidos no resumo de muitos livros lidos. Alguns destes, dispersos, que consultei, e já não necessito. Local arrumado. Resultado: mais um saco cheio de papel a caminho do Banco Alimentar. Um alívio. Mas a falta de memória é que persiste. Até nas coisas mais banais, no imediato, que só surgem com algum esforço após algum tempo. Aquela de codificarem a situação ser devida à PDI já é velha. Vale-me a persistência e o meu gosto pelas buscas, investigação e criatividade.

Fico feliz quando encontro algum documento julgado perdido, ou aquele outro de que já não me recordava. Afinal, o número de amigos é superior ao que imaginava.

Os dias que ainda remanescem para este ano, se Deus quiser, vão ser para mim empolgantes. Penso eu que tal venha a suceder, com a apresentação do meu livro, na Covilhã – DA MONTANHA AO VALE – As Viagens de um Grupo de Tertulianos – já que a primeira edição logo se esgotou quase ainda estava no prelo. Foi então apresentada em Seia e em Lisboa. Os que já se manifestaram interessados, com encomendas para esta segunda edição, limitada a 100 exemplares, poderão agora aproveitar a única oportunidade, no dia 3 de setembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã, às 15 horas.

Aguardando a sua entrega, encontra-se também o meu último livro – RECORDAR É VIVER – que foi, paradoxalmente, o primeiro escrito na minha vida, em 1967, aos 21 anos, sem nunca ter sido publicado. Ficou no segredo dos deuses, durante 55 anos, datilografado e por mim encadernado, um único exemplar, altura em que o escrevi quando trabalhava na Câmara Municipal da Covilhã. Muito alterado vão agora surgir 50 exemplares, oficiais, que não serão colocados à venda.

Ainda não conhecíamos o ambiente digital. Conhecíamos, sim, o que era comum neste País de olhos vendados: entre os perigos dos informadores da PIDE, das prisões políticas, dos que procuravam na emigração legal uma forma de dar uma nova vida à sua de emagrecimento. Mas também, em Portugal, os que procuravam passar a fronteira de assalto, como ainda os contrabandistas. Mas aquele perigo maior para os jovens rapazes, depois de terem ido às sortes, era a Guerra do Ultramar. E não se podia escrever como hoje, onde a censura imperava.

Isto é sobejamente conhecido de todos nós e é quase como chover no molhado.

Temos a revolução tecnológica e cultural em velocidade alucinante. No século XXI, o homo sapiens vai converter-se assim, a olhos vistos, em homo digitalis, pois na vida da maioria das pessoas faz parte a utilização de telemóveis, computadores, internet, redes sociais, etc.

Mas neste tempo que passa, não posso esconder que aquele outro “meu tempo” de antigamente me parece, em muitos aspetos, mil vezes mais interessante do que este “meu tempo” de agora, pegando nas palavras de Jorge Morais, diretor do Tal & Qual, de 08-09-2021. E aqui vão alguns exemplos: “nesse tempo em que não passávamos o dia a escrever mensagens inúteis nos smartphones; nesse tempo em que os cantores tinham voz e os escritores Gramática; nesse tempo em que os telejornais davam notícias e os locutores não gaguejavam a lê-las; nesse tempo em que viajar não era navegar na net, as malas não tinham, rodas e os carros elétricos eram transportes coletivos; nesse tempo em que à chuva, ao vento e ao frio chamávamos simplesmente inverno, e não ‘alerta laranja’; nesse tempo em que conversávamos uns com os outros sem precisarmos de zoom; nesse tempo em que mandávamos cartas de amor com pétalas secas entre as páginas. Nesse tempo, talvez não tivéssemos ao nosso alcance tantas maravilhas da técnica, talvez não estivéssemos aconchegados em tantos códigos, politicamente corretos e talvez não pudéssemos andar à pesca do Nada em tantas ‘redes sociais´. Mas éramos, parece-me, muito mais autênticos”.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmal.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 10-08-2022)

 

2 de agosto de 2022

UMA ELEVADA PERMUTA DE FUNÇÕES


 

Depois de no número de 1 de julho ter sido anunciada a troca de funções do então Diretor deste periódico, estimado amigo Senhor Isidoro Sousa, pelo então Diretor Adjunto, prezado amigo Mário Proença, surge agora no número de 15 de julho com a função de Diretor, o que muito me apraz registar.

Desde que tenho o privilégio de escrever no quinzenário O Olhanense, já vai para um quarto de século, nunca tive o ensejo de conhecer pessoalmente qualquer obreiro do Jornal, com uma exceção, abaixo descrita, a começar pelo falecido Senhor Herculano Valente, com que iniciei a minha colaboração esporádica e do qual não passei de alguns contactos telefónicos e por escrito.

Quando do seu falecimento e face à minha perplexidade de continuar a escrever neste Jornal, logo recebi uma comunicação, não sei se por mensagem, email ou carta, dum colaborador que dava pelo nome de Mário Proença, animando-me no sentido de que havia quem desse continuidade a este periódico, com inovações que certamente iriam surgir, pelo que contava com a minha colaboração.

Num ápice, as brumas se afastaram das minhas hesitações e houve assim um lenitivo para que eu pudesse continuar a escrever entre o paradoxo do homem da serra e os das gentes algarvias, ou seja, de outros horizontes. Fiquei satisfeito. Imediatamente anuí a esse desiderato, até aos dias de hoje. E muito tenho aprendido, na alegria de ver muito do que aqui escreve como um genuíno investigador, sempre na sua simplicidade. Ele traz para as páginas dum periódico local, que também é regional, o encanto de narrativas, por vezes duma similaridade das que eu algumas vezes também escrevo nos periódicos da minha região beirã. Coincidências tão positivas.

Na exceção atrás referida, tive, sim, o prazer de conhecer pessoalmente o atual Diretor Adjunto, Senhor Isidoro Sousa, conjuntamente com a esposa, então como Presidente do Sporting Clube Olhanense, como hoje ainda é o seu ilustre Presidente, num jantar comemorativo do Sporting Clube da Covilhã, sob a égide do seu Presidente, José Mendes, a caminho de duas décadas na liderança do clube serrano, a fazer um excelente trabalho, que convidara vários presidentes de clubes. Estava na minha mesa. Perguntei quem era o casal, tendo-me informado que eram de Olhão. A partir daí gerou-se uma amizade por via deste excelente quinzenário.

Com o surgimento do amigo Mário Proença, este periódico foi sendo renovado com frequência, no âmbito da sua criatividade, e admiro como tem disponibilidade para fazer sair para os leitores temas tão diversos, desde a história citadina e do concelho, às curiosidades e vivências de outros tempos, com que me delicio, pois são geralmente idênticas a todos os recantos do País.

Sem menosprezar a colaboração de outros cronistas, que leio atentamente, é da veia intelectual inserida nas teclas do computador do atual Diretor d’O Olhanense, que saem o preenchimento de páginas enriquecedoras do seu conteúdo.

Estes dois Homens com Garra, souberam interpretar a valia dum órgão da Comunicação Social tão importante para a sua Terra e Região, que deram as mãos, desprovidos de quaisquer egos na ribalta, tão só o encimar tudo em prol da Coletividade histórica algarvia, das gentes olhanenses e algarvias em geral, desfraldando a sua bandeira por todo o País e estrangeiro que compreende e gosta da Cultura.

Parabéns a ambos, aos quais envolvo num abraço serrano.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In "O OLHANENSE", de 01/08/2022)