Terminaram as minhas férias
veraneias. De Andaluzia à Serra da Estrela vão consideráveis diferenças. Se dum
lado há os encantos do mar, das colinas e dos rios, na vertente de cá existem
os cambiantes da montanha, com tudo o que à mesma se liga, da flora à fauna, das
maravilhas paisagísticas e de respeitabilidade até aos seus ares saudáveis.
No avanço da minha idade já estou
naquela de me enfadar por longas viagens. Mormente quando o “bicho” se faz por
convidado. Entrei um pouco mais naquela opção da proximidade de estar no local mais
cómodo.
Regressado, vou dar uma volta
pelas inúmeras recolhas de informação que avolumei no meu escritório, com a
minha secretária num aconchegado ninho de folhas de apontamentos, recortes de
jornais, impressões, diversos apontamentos redigidos no resumo de muitos livros
lidos. Alguns destes, dispersos, que consultei, e já não necessito. Local
arrumado. Resultado: mais um saco cheio de papel a caminho do Banco Alimentar.
Um alívio. Mas a falta de memória é que persiste. Até nas coisas mais banais,
no imediato, que só surgem com algum esforço após algum tempo. Aquela de
codificarem a situação ser devida à PDI já é velha. Vale-me a persistência e o
meu gosto pelas buscas, investigação e criatividade.
Fico feliz quando encontro algum
documento julgado perdido, ou aquele outro de que já não me recordava. Afinal,
o número de amigos é superior ao que imaginava.
Os dias que ainda remanescem para
este ano, se Deus quiser, vão ser para mim empolgantes. Penso eu que tal venha
a suceder, com a apresentação do meu livro, na Covilhã – DA MONTANHA AO VALE – As Viagens de um Grupo de Tertulianos – já
que a primeira edição logo se esgotou quase ainda estava no prelo. Foi então apresentada
em Seia e em Lisboa. Os que já se manifestaram interessados, com encomendas
para esta segunda edição, limitada a 100 exemplares, poderão agora aproveitar a
única oportunidade, no dia 3 de setembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal da
Covilhã, às 15 horas.
Aguardando a sua entrega, encontra-se
também o meu último livro – RECORDAR É
VIVER – que foi, paradoxalmente, o primeiro escrito na minha vida, em 1967,
aos 21 anos, sem nunca ter sido publicado. Ficou no segredo dos deuses, durante
55 anos, datilografado e por mim encadernado, um único exemplar, altura em que
o escrevi quando trabalhava na Câmara Municipal da Covilhã. Muito alterado vão
agora surgir 50 exemplares, oficiais, que não serão colocados à venda.
Ainda não conhecíamos o ambiente
digital. Conhecíamos, sim, o que era comum neste País de olhos vendados: entre
os perigos dos informadores da PIDE, das prisões políticas, dos que procuravam
na emigração legal uma forma de dar uma nova vida à sua de emagrecimento. Mas
também, em Portugal, os que procuravam passar a fronteira de assalto, como ainda
os contrabandistas. Mas aquele perigo maior para os jovens rapazes, depois de
terem ido às sortes, era a Guerra do Ultramar. E não se podia escrever como
hoje, onde a censura imperava.
Isto é sobejamente conhecido de
todos nós e é quase como chover no molhado.
Temos a revolução tecnológica e
cultural em velocidade alucinante. No século XXI, o homo sapiens vai
converter-se assim, a olhos vistos, em homo
digitalis, pois na vida da maioria
das pessoas faz parte a utilização de telemóveis, computadores, internet, redes
sociais, etc.
Mas neste tempo que passa, não posso esconder que aquele outro “meu
tempo” de antigamente me parece, em muitos aspetos, mil vezes mais interessante
do que este “meu tempo” de agora, pegando nas palavras de Jorge Morais, diretor
do Tal & Qual, de 08-09-2021. E aqui vão alguns exemplos: “nesse tempo em
que não passávamos o dia a escrever mensagens inúteis nos smartphones; nesse
tempo em que os cantores tinham voz e os escritores Gramática; nesse tempo em
que os telejornais davam notícias e os locutores não gaguejavam a lê-las; nesse
tempo em que viajar não era navegar na net, as malas não tinham, rodas e os
carros elétricos eram transportes coletivos; nesse tempo em que à chuva, ao
vento e ao frio chamávamos simplesmente inverno, e não ‘alerta laranja’; nesse
tempo em que conversávamos uns com os outros sem precisarmos de zoom; nesse
tempo em que mandávamos cartas de amor com pétalas secas entre as páginas. Nesse
tempo, talvez não tivéssemos ao nosso alcance tantas maravilhas da técnica,
talvez não estivéssemos aconchegados em tantos códigos, politicamente corretos
e talvez não pudéssemos andar à pesca do Nada em tantas ‘redes sociais´. Mas
éramos, parece-me, muito mais autênticos”.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum
Covilhã”, de 10-08-2022)
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