Recordo-me da vinda da Rainha Isabel II a Portugal, naquele dia 18 de
fevereiro de 1957, recebida com grande pompa pelo então Presidente da
República, General Francisco Craveiro Lopes, que mais tarde seria marechal.
Tinha ela 31 anos e havia sido coroada há cinco. Viera acompanhada pelo
marido, Filipe, Duque de Edimburgo, e a embarcação que os transportava atracou
no Terreiro do Paço, repleto de população em festa.
Com ela também vinham os seus filhos, os príncipes Carlos (hoje o novo
rei), então com 8 anos, e a princesa Ana, com seis.
Tinha eu, nessa altura, quase onze anos e frequentava a Biblioteca
Municipal, onde meu Pai trabalhava, sediada ao Jardim. Deliciava-me então a ver
as fotos dos jornais com aquela linda família, assim como as notícias que enchiam
as suas páginas. Mas a única revista que ia para aquela Biblioteca Municipal
era a famosa extinta Flama, que desfolhava com todo o prazer, a contemplar a
reportagem ali inserida deste enorme evento para a época.
A televisão preparava-se então para começar em Portugal, naquele mesmo
ano, e o único canal, a preto e branco – RTP – apanha este evento sem material nem
quase logística, pois ainda não tinha emissões regulares quando organizou uma
grande operação televisiva para acompanhar a visita da monarca inglesa a
Portugal.
Bom, mas com tudo o que era possível na altura, depois das honras
militares, o cortejo seguiu de coche pelas ruas da cidade de Lisboa, com os
acenos e sorrisos da simpática jovem rainha. Visitaria novamente Portugal no
ano 1985, já com o nosso País em democracia.
Seria esta figura incontornável da História que viveria um dos reinados
mais longos – 70 anos, sendo que o que viveu mais tempo situa-se entre os
séculos XVII e XVIII (1643 a 1715) – Luís XIV, da França, com 72 anos. Já em
Portugal, o monarca que reinou mais tempo foi D. João I, ele que também casou
com uma inglesa, D. Filipa de Lencastre, sendo o seu reinado longevo de 48 anos
e 130 dias. Seguiu-se-lhe D. Afonso Henriques, na longevidade, com 46 anos e
132 dias.
Esta grande monarca, que agora deixou o mundo dos vivos, na ordem natural
da vida, liderou o Reino Unido e a Commonwealth ultrapassando a bisavó, a
rainha Vitória, que teve o peso da coroa durante 64 anos.
“Para a história, além do reinado durante alguns dos períodos mais
conturbados do país, de ultrapassar crises (internas, políticas, económicas,
familiares) e de deixar a sua marca num legado extenso e completo, Isabel II
tornou-se em si mesma um símbolo da nobreza, da realeza global, da graça, de
entrega e de dever à Coroa inglesa”, segundo o Correio da Manhã.
Agora, o herdeiro do trono britânico, seu filho Carlos, de 73 anos, que
nalguns momentos terá já quase exercido o cargo como regente (na qualidade de
príncipe de Gales, assumiu funções oficiais em nome da rainha) sucede, com o
seu nome próprio. Uma decisão que foi
uma das primeiras a ser tomada no seu reinado e será Carlos III, ao lado da
rainha consorte Camila, esta conforme desejo expresso de Isabel II, há sete
meses, deixado em testamento.
A BBC reconhece que a escolha deste nome surpreendeu os britânicos pois
acreditavam que viesse a optar pelo título de Jorge VII, em homenagem ao avô,
Jorge VI. É que a história por detrás do nome de Carlos não é pacífica no Reino
Unido. “Tanto Carlos I como Carlos II foram monarcas com reinados polémicos.
Carlos I, que reinou entre 1625 e 1649, foi
o único rei executado na História inglesa, em 17 de janeiro de 1649, e liderou
os destinos do país durante uma tenebrosa guerra civil” – recorda o The Telegraph, segundo o Público. Já seu filho, Carlos II, é particularmente
conhecido da História inglesa pela sua vida íntima que envolve a única
portuguesa a ser rainha de Inglaterra, Catarina de Bragança, filha do rei
português D. João IV. “Catarina parecia ser a noiva perfeita, dada a histórica
aliança entre portugueses e ingleses – até se diz que levou para Inglaterra o
hábito de beber o chá da tarde. Mas o casamento não resultaria em filhos
legítimos, o que alarmava o Governo preocupado com a sucessão, de cuja esposa
não teve nenhum filho, sendo assim substituído por seu irmão Jaime”. D. Carlos
II morreria em 1685 sem o problema de sucessão legítima resolvido e a esposa,
Catarina de Bragança, “seria devolvida” a Portugal, onde habitou o Palácio de
Bemposta, em Lisboa.
Surge agora o novo rei, D. Carlos III (Carlos
Filipe Artur Jorge) o primeiro filho da então princesa Isabel, e do marido
Filipe, nascido a 14 de novembro de 1948. Foi coroado príncipe de Gales pela
mãe aos 20 anos. Era o herdeiro do trono
há mais tempo em funções e o mais velho a ser coroado, aos 73 anos.
Numa narrativa do Público, “a ascensão ao
trono do novo rei da Inglaterra e da nova rainha, Camila Parker é um caso de
incrível superação de escândalos em que foram protagonistas nos anos 80/90 e de
uma recuperação milagrosa de imagem pública, tanto de Carlos como de Camila,
outrora odiada pelo povo britânico por ser a ‘terceira pessoa’ dentro do
casamento de Carlos e Diana de Gales – como a própria Diana revelou em
entrevista à BBC – acabou por se tornar popular, devido à sua dedicação e boa
imagem construída ao longo de quase duas décadas de casamento”.
Isto de escândalos de reis e rainhas sempre
houve por esses países fora, incluindo Portugal. Atente-se que Isabel II e
agora seu filho, Carlos III, só conseguem estar nesta linha de sucessão, devido
a um outro “escândalo”, se assim se pode considerar, pelo facto do tio de
Isabel II, o rei Eduardo VIII ter abdicado do trono a favor de seu irmão, Jorge
VI, pai de Isabel II, para casar com Wallis Simpson, uma americana divorciada
do primeiro marido e em processo de divórcio do segundo, gerando a chamada
crise de abdicação, ocorrida em 1936.
Esperamos assim que não haja mais escândalos e
que Carlos III seja um grande Rei, do Reino Unido e dos Reinos da Comunidade de
Nações, em prol do desenvolvimento e da paz quer na Europa quer no Mundo.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de
15-09-2022)