7 de setembro de 2022

OS INCÊNDIOS FLORESTAIS EM PORTUGAL



 

Os incêndios florestais não são um fenómeno novo das últimas décadas em Portugal. A partir de 1970, segundo o ensaio de António Bento-Gonçalves, “com a profunda transformação verificada no país, dá-se um aumento da frequência, da dimensão, da intensidade e da capacidade destruidora dos incêndios, o que veio a culminar nas tragédias de 2017, que feriram 320 pessoas e ceifaram a vida, em apenas dois dias (17 de junho e 15 de outubro) a 116 pessoas”.

Os incêndios são alimentados, na minha opinião, pela ferocidade dos tempos que correm, com as alterações climáticas em que todos somos responsáveis por assobiarmos para o lado. Sim, quando se fala na ação que urge tomar sobre as condutas para resolver este grave problema, existe aquela apatia do deixa andar, outros resolverão por mim, não sou só eu a atuar, o que redunda nas nefastas situações que todos os anos vivemos, no verão (isto quanto a incêndios), em todo o planeta.

Mas também são os descuidos voluntários ou involuntários de todos os que passam e provocam a combustão.

Dentre muitos outros fatores, como as plantações de árvores e reflorestação indevidas, falta de limpeza dos terrenos envolventes, deixo para último os piromaníacos que uma legislação judicial, deste país à beira-mar plantado, o mantém nos brandos costumes.

Se o que rouba uma galinha para dar de comer aos filhos é punido com facilidade, porque é que não se exerce uma rigorosa aplicação das penas aos pirómanos, seus sequazes ou mandantes? Sem apelo nem agravo, para que sirva, na exemplaridade da ação judicial, que outros não venham a ser encorajados a repetir o crime abafado.

As observações ao que se passa em nosso redor, e as denúncias, devem ser acolhidas com muita atenção pelos responsáveis a quem nos dirigimos.

Corri grande parte do país, na minha vida profissional de então, e desloquei-me na tranquilidade de muitas noites, no regresso para casa, com a mulher com os meus filhos pequenos a aguardar ansiosa que eu chegasse bem, sem ainda se conhecerem os telemóveis e quando sentíamos o lenitivo de encontrar um posto telefónico para telefonar para casa (geralmente instalado num café ou outra casa comercial) ou então a simpatia de um cliente que nem aceitava o custo da chamada, muitas vezes interurbana, aguardando que do lado de lá autorizassem a chamada telefónica.

Algumas vezes perguntei aos guardas-florestais, em Figueira de Castelo Rodrigo, por que é que me pediam os documentos do carro se a missão deles era sobre as florestas e a caça.

Duma outra vez, uma indignação pela indiferença que observei na GNR de Belmonte, sobre uma denúncia de um possível fogo posto que nascia perto da estrada da Vela ou Gonçalo, com um Mercedes Benz de luz apagadas junto ao mesmo. Resposta daqueles militares de Belmonte, lá para os anos 1975 ou próximos: Se era um Mercedes não deveria ser o dono do carro a pegar o fogo... Nós vamos lá ver. Mas como à meia-noite já vinham da cama, certamente para ela regressaram.

Hoje as autoridades policiais estão mais evoluídas, com outro grau de instrução, e dão-nos mais confiança.

Só que o País não parece ter aprendido muito com os incêndios de ano para ano. Os nossos Bombeiros sempre num esforço hercúleo e a Proteção Civil procurando o melhor. Mas, como agora sucedeu com o incêndio na Serra da Estrela, parece ter havido inicialmente uma descoordenação, com muitos a mandar e as populações espavoridas sem apoios imediatos, retardando a intervenção dos soldados da paz, o que, compreensivelmente, nem sempre é possível.

Mas onde é que está o busílis da questão? Como cortar este nó górdio?

Por que não colocar os militares que exercem o serviço militar não obrigatório a fazerem o serviço de vigias? Com armas como no tempo da Guerra do Ultramar, que, esses de então hoje sofrem de stress pós-traumático, mas agora não existe esse perigo, antes pelo contrário, seria um ato patriótico, caçar esses terroristas incendiários, com o tratamento devido.

Depois da década de 70 do século passado, muitos fogos surgiram no País e nesta região da Beira Baixa e Serra da Estrela. Num deles, em agosto de 1990, faleceu um meu antigo Colega da Instrução Primária, João José Manteigueiro Mota. Seis anos mais tarde, também em agosto, faleciam três bombeiros covilhanenses na queda de um helicóptero que combatiam um incêndio na Serra da Estrela: Ricardo Bruno Jesus Cardona, António Miguel Vaz Marques e Fernando Manuel Sousa Xistra. Mais tarde, em agosto de 2013 falecia, apanhado pelas chamas, o bombeiro, da Corporação da Covilhã, Pedro Miguel de Jesus Rodrigues.

Outrora, antes da década atrás referida, pouco se ouvia falar de incêndios florestais, e a História dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, no seu I volume, regista muitos incêndios em habitações e fábricas de lanifícios, sobrando os florestais após os anos 70 do século XX, conforme já referido.

“Ao longo dos anos, muitas foram as vítimas mortais dos incêndios florestais em Portugal. Sem sermos exaustivos (não foram aqui contabilizados os bombeiros falecidos em acidentes rodoviários, a caminho ou no regresso de incêndios florestais) contabilizam-se 257 vítimas mortais entre 1961 e 2018, sendo que 65 eram bombeiros, 7 especialistas estrangeiros, 25 militares, 4 funcionários florestais e 156 populares, verificando-se que nos 38 anos do século XX faleceram 64 pessoas, enquanto que apenas em 19 anos, no século XXI, já perderam a vida 189 pessoas, sendo o ano de 2017 responsável por 61% do total das vítimas mortais no presente século.”

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

 

 

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 07-09-2022)

 

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